Combate à hipertensão arterial exige mudança no estilo de vida

“O problema da hipertensão arterial é que não dói, pois se ao menos isso acontecesse, as pessoas buscariam ajuda médica nas fases mais precoces da doença.”

A afirmação do cardiologista Paulo Roberto Brofman, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) retrata fielmente esta doença, considerada silenciosa.

Muitas vezes o primeiro aviso de que a pessoa sofre do distúrbio a leva aos serviços de emergência e à morte.

Hipertensão é o nome da doença caracterizada pela elevação da pressão do sangue nas artérias.

Estima-se que a doença atinja 500 milhões de pessoas no mundo e, até, 13 milhões de brasileiros.

Conforme as pesquisas, esse é o principal fator de risco para os acidentes cardiovasculares, afetando de 11% a 20% da população adulta. Por isso, Brofman sublinha a importância de se desenvolver campanhas de sensibilização e prevenção da doença.

Uma das opções, segundo Brofman, seria a difusão de uma educação alimentar saudável, uma vez que os erros alimentares e o sedentarismo são os principais fatores desencadeantes da doença.

Redução da mortalidade

Nesta semana, o ministro da Saúde José Gomes Temporão assinou um termo de cooperação com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cujo objetivo final é reduzir drasticamente o total de 300 mil mortes anuais por problemas cardiovasculares no Brasil.

O documento assinado leva em conta que as doenças cardiovasculares já se tornaram verdadeira epidemia no País, responsáveis que são por elevado índice de morbi-mortalidade, uma vez que são responsáveis por mais de 30% dos óbitos entre os brasileiros.

“Sem contar que são consideradas importante fator de incapacitação, de perda de produtividade e de qualidade de vida”, reconhece o presidente da SBC, Antonio Carlos Palandri Chagas.

Este termo de cooperação tem a vigência inicial de cinco anos e imediatamente a SBC vai designar representantes para trabalhar junto ao Ministério na execução do projeto.

Para Chagas, o documento é muito ambicioso e abrangente, mas ele lembra que a gravidade do tema exige tanto do Poder Público como dos cardiologistas ligados à entidade um esforço muito grande, para reduzir efetivamente a mortalidade por doenças cardiovasculares, que nos últimos anos passou a afetar pacientes cada vez mais jovens, o que de per si já é mais um sinal de alerta.

“A hipertensão pode levar aos acidentes cardiovasculares, como infarto do miocárdio, anginas e AVCs, além de insuficiência cardíaca e renal”, alerta Brofman.

Cultura da prevenção

Com esse enorme contingente de vítimas, a doença deve ser tratada como uma das grandes vilãs da saúde pública. A maioria das pessoas tem pressão arterial de 120 por 80 mm Hg.

O último consenso brasileiro sobre o tema, porém, considera hipertensos paciente com nível a partir de 140/90mm Hg. As causas da doença ainda são desconhecidas e somente em 5% dos casos é possível a identificação do agente causador, como malformações e obstruções das artérias renais, alguns tipos de tumores e o uso de determinados medicamentos.

Para se ter uma idéia da importância de se controlar a hipertensão arterial, estima-se que um homem de 35 anos, com pressão arterial de 150/100 mmHg que não tenha a doença tratada, perde em torno de 15 anos da sua expectativa de vida.

“A falta da cultura da prevenção é o principal motivo dos números continuarem alarmantes”, reconhece o cardiologista Marcos Bubna, do Hospital Cardiológico Costantini, de Curitiba, completando que um simples check-up, acompanhado de um tratamento bem orientado pode afastar a pessoa de um infarto agudo e fatal.

Doença crônica

A partir do diagnóstico da doença, medidas simples de prevenção já conhecidas pela maioria das pessoas podem ajudar a controlar a pressão arterial.

Assim, perder peso, evitar o cigarro, diminuir o consumo de sal e aumentar a ingestão de frutas, reduzir as gorduras e praticar atividade física (30 minutos de caminhada por dia é o bastante) contribuem para afastar a doença.

Para quem não conseguir controlar a pressão com essas medidas, o médico prescreve anti-hipertensivos.

“Por ser um problema crônico, a doença deve ser tratada com medicamentos capazes de controlar efetivamente a pressão sangüínea”, avalia Paulo Brofman.

Estatisticamente, filhos de pais hipertensos têm mais chances de desenvolver a doença, sendo, portanto, um grupo que precisa permanecer sempre sob vigilância. O excesso de peso também se relaciona com o aumento da pressão arterial, assim como o abuso no uso do sal.

Nos idosos, o problema é agravado pela aterosclerose, que, ao endurecer as paredes dos vasos arteriais, reduz a capacidade de acomodação do sangue e acaba por determinar o aumento na pressão.

Apesar de poder afetar uma pessoa sem que ela saiba da sua existência, há, contudo, várias pistas, que podem ajudar no seu diagnóstico. Dor de cabeça na nuca, principalmente, ao acordar, visão de pontos luminosos e história de sangramento nasal sugerem a existência de pressão alta.

A recomendação para se procurar a orientação de um médico parece óbvia, mas não encontra eco na população adulta, que teima em continuar desconhecendo ou desvalorizando o controle da hipertensão, colocando em risco sua vida.

Pense nisso

>> Hipertensão arterial ou pressão alta não tem cura, mas tem controle
>> O tratamento deve ser realizado por toda a vida
>> A terapêutica adequada prolonga a vida e melhora a qualidade de vida
>> Pessoas com sobrepeso correm mais riscos de sofrer doenças do coração
>> Fumantes apresentam maior risco de infarto
>> As orientações médicas contribuem para o controle da pressão arterial
>> O controle da hipertensão está em suas mãos

Tratamento não é levado a sério

Praticamente, a metade dos hipertensos desiste do tratamento ao fim do primeiro ano de medicação, reduzindo a eficácia da terapêutica. Apesar de no Brasil não existirem estatísticas que comprovem a afirmação, o fato é facilmente comprovado no dia-a-dia dos consultórios cardiológicos.

Como raramente os sintomas são perceptíveis, quase sempre o paciente aceita e cumpre à risca os tratamentos recomendados pelos médicos. “Uma das causas do abandono do tratamento é a necessidade de cumprir uma rotina rígida que, muitas vezes, inclui a ingestão de diversos comprimidos ao dia”, observa o cardiologista Darley Rugeri Wollmann Jr.

Conforme o especialista, a maioria dos hipertensos desiste do tratamento ao fim do primeiro ano de medicação, e se torna ainda mais difícil controlar os pacientes que não retornam ao consultório. “Manter os indivíduos numa terapêutica em longo prazo é, talvez, a maior dificuldade do tratamento da hipertensão arterial”, garante.

Para diminuir a resistência ao tratamento, alguns especialistas defendem o uso de terapêuticas combinadas ou a indicação de medicamentos com doses maximizadas.

Além de oferecer maior eficácia e comodidade, já que, em muitos casos, é necessária apenas uma dose diária do remédio, a terapia permite um maior conforto e adesão do doente ao tratamento.

“Hoje em dia, com a possibilidade da introdução de novos fármacos, espera-se que os indivíduos se mantenham em tratamento, durante mais tempo”, salienta o cardiologista Marcos Augusto Alves Pereira, do Hospital Pilar.