Cardiologistas vão ampliar uso de ressonância magnética nos exames

No fim do mês, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) vai concluir as novas diretrizes para o uso da ressonância magnética em doenças cardiovasculares, um dos mais importantes documentos na cardiologia. O texto, com 64 páginas e criado por uma equipe de 32 médicos, traz dicas específicas para a classe sobre a eficácia da máquina em exames do coração.

Hoje, os centros de ponta não especializados utilizam cerca de 15% da capacidade das máquinas de ressonância para exames do coração. Ainda é pouco, mas é o tipo de exame de imagem que mais tem crescido no País nos últimos cinco anos. O maior uso da máquina é para oncologia – 30% só no crânio.

"Ver o câncer, um tecido estático, é fácil para a máquina. No caso do coração, o que atrapalhava eram os movimentos do órgão", diz Ibraim Pinto, cardiologista do Hospital do Coração (HCor). "Na época das primeiras diretrizes, feitas em 1994, por exemplo, as máquinas eram capazes de identificar as partes vivas e mortas do músculo cardíaco. Agora ela identifica, além da viabilidade, como vai a saúde da parte viva."

Os médicos não gostam de afirmar que a ressonância pode em alguns casos substituir os exames convencionais. Mas, pelas novas diretrizes, ela é mais eficaz, sim, em várias situações. Uma delas é a detecção de enfartes pequenos, aqueles que comprometem até 25% do músculo cardíaco. "Nesses casos, a imagem da ressonância é duas vezes mais precisa em relação ao exame convencional, o de cintilografia (uma substância radioativa é injetada na veia do paciente que se liga às células vivas do corpo, o que é acompanhado por uma câmera)", conta Carlos Rochitte, coordenador de Ressonância Magnética e Tomografia do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo e um dos participantes do documento.

Outra indicação reforçada nas diretrizes é a avaliação da função do ventrículo esquerdo, o que distribui o sangue oxigenado para o organismo. A diferença da ressonância ante o ecocardiograma, exame mais utilizado nesse caso, está na margem de erro. "No eco, a chance de erro no diagnóstico é de 30%. Na ressonância, 5%", avalia Rochitte.

Doenças no pericárdio, membrana que envolve o coração, também são melhor diagnosticadas na ressonância. "O eco tem 60% de precisão e a ressonância, 90%", diz Rochitte. Outras indicações em que a ressonância é melhor em algum aspecto: doenças da aorta (principal artéria que nasce do coração) e isquemia no miocárdio (quando o sangue demora a chegar ao músculo do coração).

Um dos mais recentes usos da ressonância é a espectroscopia, trazida por Roberto Kalil, cardiologista do Incor. "É uma forma de avaliar o funcionamento do coração pelo metabolismo de suas células", diz ele. Uma das referências mais usadas é o fósforo, usado pelas células para produzir energia. Onde a máquina não vê a substância, o músculo pode estar morto. "O próximo passo da ressonância é avaliar a reação dos órgãos por meio de estímulos variados, como quantidade de oxigênio e estímulos sensoriais", conta Pinto, do Hcor.

A ressonância, que custa cerca de R$ 1,2 mil – a cintilografia R$ 700 e o eco R$ 500 -, funciona com campos magnéticos. "É uma troca de informações entre os tecidos do corpo e a máquina", explica José Rodrigues Parga Filho, cardiologista do Hospital Albert Einstein. Os tecidos têm diferentes composições bioquímicas, a maioria envolve átomos de hidrogênio. As imagens são obtidas por meio das reações desses átomos aos campos magnéticos emitidos pela máquina.

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