Bioética (I)

A evolução humana acontece num crescendo de experiências e práticas, as quais são projetadas e colocadas ao alcance de quem se interessar possa. Na verdade, são conceitos que, dependendo de quem os emite, são capazes de estabelecer moda. Ou seja, o uso, o hábito, ou estilo, aceito pela sociedade ou por grupos sociais, ou ainda por categorias, para utilização em suas atividades. A moda pode, pois, constituir hábito ou uso transitório, fugaz mesmo. É o caso do vestuário, cujas modas são extremamente diversificadas, por isso, salvo algumas exceções, têm curta duração. As modas podem, porém, tornar-se especialmente duradouras e até perenes.

Na evolução científica também existem modas. O que em determinado momento é tido como absolutamente correto, incontestável, está sujeito a ceder espaço a outros conceitos mais convincentes e eficazes.

No âmbito das Ciências Médicas não é diferente. Determinados conceitos, especialmente no campo da Farmacologia, algo que é relatado e definido com verdade, fadado a inteiro sucesso, mais dia menos dia é superado por conceitos mais apropriados.

Entre as muitas modas que marcam as atividades médico-científicas, está a Bioética. A Bioética deve estar presente e, enfaticamente considerada, por todas as especialidades. Todas precisam estar afinadas com a Bioética.

O que é Bioética?

O termo é formado pelo prefixo grego “bios”, que significa vida, e “ethos”, também oriundo do grego, é o conjunto de hábitos fundamentais, estudados pela Ética. A Ética é a parte da Filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano. Diz respeito à essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes e aplicáveis em toda realidade social. A Bioética é, pois, a parte da Ética que enfoca as questões referentes à vida humana e ao comportamento do ser humano na área das ciências da vida, em toda a sua complexa e maravilhosa diversidade.

A Bioética é uma disciplina nova. Tem suas raízes no ano de 1971. A tradição mais aceita atribui ao médico oncologisa americano Van Rensselaer Fetter, que introduziu o neologismo na Literatura Científica, empregando como título de livro publicado em 1971: Bioethic: Bridge to the future.

Ainda em 1971, Warren T. Reich convidou 285 autores para escreverem o que se publicaria em 1978, como Encyclopedia of Bioethics, sob o patrocínio do Instituto Kennedy de Ética.

O dicionário da Real Academia Espanhola, em sua vigésima primeira edição, define Bioética como “disciplina científica que estuda os aspectos éticos da Medicina e da Biologia em geral, assim como as relações de ser humano com os outros seres vivos”.

Disciplina é a ordenação de fatos, iniciativas, acontecimentos, em condições de estabelecer a harmonia entre os seres e o meio ambiente.

Pode-se, portanto, conceituar a Bioética como a disciplina capaz de sintetizar tudo quanto diz respeito à vida, desde os seres mais simples até, e muito especialmente, ser humano, situado no ápice da escala biológica.

O momento presente é marcado universalmente pelo grande empenho na elucidação do genoma humano, tema extremamente complexo, que diz respeito à constituição genética dos seres vivos, com destaque a espécie humana.

Os estudos e pesquisas desenvolvidos no campo da Genética, encontram na Bioética a harmonia imprescindível à sua sistematização.

O campo de ação da Genética, particularmente da Genética Humana, é muito vasto. É propício a ações altamente positivas, direcionadas ao bem estar, não apenas do ser humano, mas de todos os seres vivos.

O desenvolvimento das pesquisas genéticas pode condicionar efeitos negativos, contrários ao seu desiderato. Então a importância da Bioética, disciplina da harmonia e do bem comum.

Ary de Christian

é professor aposentado da PUCPR, ex-provedor da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, atual presidente da Federação Brasileira das Academias de Medicina.

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