Até 15% da população têm problema de fertilidade

Gerar um filho parece uma tarefa bastante simples para a maioria das pessoas. Para muitos casais, porém, é quase um desafio. Acredita-se que entre 10% e 15% da população mundial tenham problemas de fertilidade e recorram a tratamentos para engravidar ou à adoção de uma criança.

Há alguns anos, a incapacidade de gerar um filho era mais associada à mulher e a infertilidade do homem era erroneamente ligada à impotência sexual, o que sempre gerou uma série de preconceitos. Atualmente, sabe-se que a infertilidade pode tanto estar associada a um problema feminino quanto a um masculino. “Quando um casal não consegue engravidar, temos que investigar as causas do problema tanto na mulher quanto no homem. Porém, culturalmente, a infertilidade feminina sempre foi mais aceita do que a masculina”, comenta o ginecologista e especialista em reprodução humana do centro Embryo, de Curitiba, César Augusto Cornel.

Segundo César, geralmente, 40% das causas de infertilidade são femininas, 30% masculinas, 20% são tanto do homem quanto da mulher e 10% são desconhecidas. Entre as principais causas de infertilidade feminina estão: ovulatórias, endometriose (que pode destruir as trompas e dificultar a ovulação) e obstrução das trompas causada principalmente por laqueaduras precoces e doenças sexualmente transmissíveis. Nos homens, as principais causas são: obstrutivas e varicocele (dilatação das veias da bolsa escrotal, que acarretam em um aumento de temperatura e na diminuição da qualidade dos espermatozóides).

“Uma causa comum de infertilidade entre homens e mulheres é o tabagismo”, revela o ginecologista. “No homem, o cigarro, assim como outras drogas e produtos químicos, influi na qualidade dos espermatozóides. Nas mulheres, diminui a qualidade ovulatória, dificultando a penetração do espermatozóide. Em gestantes, diminui a circulação de sangue na placenta, podendo resultar em abortos ou em crianças natimortas”.

Tratamentos

Nos últimos anos, os tratamentos para infertilidade evoluíram bastante e é muito difícil um casal que, experimentando todas as técnicas, não consiga engravidar. “Hoje, até mulheres que perderam os ovários através de procedimentos cirúrgicos ou os tiveram afetados por tratamentos como quimioterapia e radioterapia conseguem engravidar através de doação de óvulo assistida. Tudo depende da aceitação do casal à técnica, que utiliza o espermatozóide do marido e o óvulo de uma doadora com características físicas parecidas com a da esposa”, conta César. “Apenas uma mulher que não tem útero é incapaz de engravidar”.

Entre as principais técnicas de fertilização estão: inseminação intra-uterina (também conhecida como inseminação artificial), transferência intra-tubária de gametas (GIFT), fertilização in vitro (FIV), injeção intra-citoplasmática de espermatozóide (ICSI) e transferência de embriões. “O tratamento depende de cada caso, assim como as chances de sucesso, que costumam ser maiores em mulheres com menos de 35 anos de idade, quando a fertilidade é maior”, diz o ginecologista. “Há casais que utilizam determinada técnica e engravidam logo na primeira tentativa. Outros demoram um pouco mais”.

Na maioria das vezes, os tratamentos para infertilidade contam com o apoio de profissionais de Psicologia, pois envolvem muita expectativa e mesmo frustrações.

Casal de persistência

Ter um filho sempre foi o sonho do casal Rosângela de Fátima Rodrigues, de 24 anos, e Chrystian Marcelo Rodrigues, de 28. Casados há seis anos, eles nunca utilizaram métodos anticoncepcionais. Depois de algumas tentativas sem sucesso de engravidar, Rosangela descobriu que tinha ovários policísticos e que teria de se submeter a tratamento, que incluiu procedimentos cirúrgicos. Para complicar, foi descoberto que Chrystian tinha baixa produtividade de espermatozóides, o que diminuía ainda mais as chances de o casal ter um bebê.

Após o uso de diversos medicamentos, o casal se submeteu, há cinco meses, a uma fertilização assistida e acertou na primeira tentativa. Hoje, Rosângela está grávida de duas meninas, Heloísa e Emanuelle, que devem nascer no início do ano que vem.

O casal gastou cerca de R$ 6 mil até que Rosângela engravidasse e, por diversas vezes, se sentiu desanimado. Porém, seguiu em frente e não se arrepende. “Tivemos momentos de bastante desânimo, principalmente no início do ano passado, quando eu perdi meu emprego e ficamos com medo de não ter condições de seguir com o tratamento e criar nossos filhos”, conta Chrystian. “Entretanto, superamos as dificuldades e estamos muito felizes. Se fosse preciso eu faria tudo de novo e gastaria o dobro para ter as minhas filhas”.

Daqui a uns três anos, quando Heloísa e Emanuelle estiverem mais crescidinhas, Chrystian pretende tentar ser pai novamente. “Vou querer tentar mais dois meninos”, revela. Ele aconselha os casais que não conseguem engravidar a nunca desistir. “Deve-se ter muita fé em Deus, muita conversa entre o casal e estrutura emocional. Também é importante a escolha de médicos competentes e de clínicas de boa qualidade”, afirma. (CV)

Voltar ao topo