As perturbações da apnéia do sono

Você ressona quando dorme? Anda inexplicavelmente sonolento e cansado o dia todo?

Provavelmente, está sofrendo de apnéia do sono, uma doença perturbadora da qualidade de vida e que pode explicar, por exemplo, os acidentes que ocorrem quando o motorista de algum automóvel adormece ao volante. É o que aconteceu com o analista de sistemas Reinaldo Albino Silva, vítima do sono ao volante por duas vezes.

“Na primeira, o estrago foi menor, já na segunda o carro teve perda total e as três pessoas que estavam comigo sofreram escoriações”, conta.

De acordo com Silva, a sensação de sono é incontrolável: “Os olhos começam a ficar pesados e não tem nada que me mantenha acordado”.

A palavra apnéia deriva do grego apnea e significa literalmente “sem respirar”. É justamente isso que acontece com quem sofre do distúrbio, deixa de respirar por períodos que podem durar de 20 a 30 segundos.

Esses ciclos se multiplicam ao longo da noite, nos casos mais simples, poucas vezes, nos mais graves, podem continuar até o amanhecer.

Segundo a neurologista e especialista em distúrbios do sono Márcia Assis, a origem desta parada na respiração está na obstrução da passagem do ar pela faringe, devido ao relaxamento dos músculos. “Quando a pessoa permanece deitada a situação é ainda mais evidente”, explica.

Homens sofrem mais

Os obstáculos que o ar encontra no seu caminho fazem com que o indivíduo respire com dificuldade e ressone. E quando a entrada de ar é totalmente bloqueada, daí o indivíduo deixa mesmo de respirar, acordando sobressaltado.

A médica salienta que, restabelecido o circuito de circulação do ar, volta a adormecer, mas o sono da noite já está comprometido. O círculo vicioso repete-se várias vezes, impedindo que o indivíduo entre na fase do sono mais profundo – a fase REM, sigla em inglês para movimento rápido dos olhos, de que o corpo precisa para descansar e recarregar baterias.

Estima-se que cerca de 40% dos adultos sofram de apnéia do sono, sendo que os homens são duas vezes mais propensos do que as mulheres ao distúrbio. Os especialistas avisam que é a partir dos 35 anos de idade, em média, que a doença mais se manifesta.

Sendo assim, podemos traçar um perfil dos que sofrem de apnéia do sono: homem, de meia idade, invariavelmente obeso e sedentário – seus principais fatores de risco.

Existem, naturalmente, fatores anatômicos associados à apnéia do sono e que justificam a obstrução da passagem do ar, principalmente amígdalas e adenóides excessivamente volumosos – condições principais para o aparecimento da doença na infância.

Outras doenças, como o hipotiroidismo e amigdalite, entre outras, implicam também quadros de apnéia do sono. Dentre os fatores externos, destacam-se o consumo de álcool ou sedativos, que relaxam a musculatura das vias aéreas superiores, ou tabaco, que pode causar inflamação das vias respiratórias.

Polissonografia

Podemos perceber que a apnéia do sono pode ter implicações graves na qualidade de vida das pessoas.

Pode mesmo comprometer a saúde, pois há muitas evidências que o distúrbio pode estar relacionado com hipertensão arterial, insuficiência respiratória e cardíaca, arritmias e até mesmo aos acidentes vasculares cerebrais.

“A falta de oxigenação dos tecidos por períodos prolongados e de forma repetida potencializa alterações orgânicas que podem evoluir para quadros clínicos mais graves”, esclarece Márcia Assis.

Todos esses sinais caracterizam um quadro de apnéia do sono. No entanto, um diagnóstico efetivo só é possível com recurso a um médico especialista, que investigará a história clínica do paciente e prescreverá exames complementares.

Fundamental nesse processo é conhecer os hábitos de sono: uma polissonografia e uma gravação dos v&a,acute;rios períodos de sono são os métodos mais indicados.

Depois do diagnóstico, a terapia. Em casos mais extremos, pode haver necessidade de cirurgia. A própria pessoa deve contribuir para a terapêutica, munindo-se de força de vontade para adotar um estilo de vida mais ativo, evitando o consumo de álcool sobretudo antes de dormir e procurando se manter com o peso controlado.

Decisão que Reinaldo Silva demorou a tomar: depois de anos de preguiça, irritação, sonolência e baixo rendimento no trabalho, ele resolveu procurar uma clínica especializada em sono e teve uma noite monitorada. Com acompanhamento adequado, seus problemas se acabaram.

Para um sono tranqüilo

* Procure não dormir deitado de costas
* Evite ingerir álcool e tranqüilizantes
* Perca peso
* Trate as alergias
* Tente deixar de fumar
* Durma sempre em horários regulares
* Mantenha o quarto silencioso e aconchegante

Não durma no ponto

Fique atento aos sintomas que podem indicar que você sofre com a apnéia do sono e procure o auxílio de um especialista para voltar a dormir bem.

* Ansiedade, irritabilidade ou mudança de humor
* Sonolência diurna, cochilos freqüentes
* Ronco freqüente e alto
* Problemas de memória e falta de concentração
* Dor de cabeça pela manhã
* Arritmia cardíaca
* Hipertensão
* Ganho de peso
* Distúrbios sexuais