Apesar da maior concentração de melanina, a pele negra também está sujeita ao câncer

Até mesmo as pessoas da raça negra não estão livres do câncer da pele. É verdade que a incidência da doença é muito menor dos que nas outras raças, deixando-os fora dos principais grupos de risco da doença, mas quando isso acontece seus tumores são mais graves, porque o diagnóstico normalmente é tardio. Embora em menor incidência, o câncer na pele negra, quando se desenvolve, nem sempre se deve à excessiva exposição solar, é plantar e seus tumores são mais graves. A aposentada Terezinha de Jesus Pereira diz que não tomava cuidado quando mais jovem, mas passou a cuidar da pele quando observou uma manchinha no braço. Era um carcinoma, que, por ter sido diagnosticado precocemente não causou maiores problemas. "Hoje, não saio de casa sem me proteger", comenta.

As pessoas que possuem pele negra têm uma vantagem em relação às pessoas mais claras quanto à exposição aos raios ultravioletas do Sol. O motivo é a elevada quantidade de melanina na pele, que funciona como um filtro solar natural, aumentando a resistência cutânea para algumas doenças, principalmente o câncer de pele. Outra constatação dos especialistas é de que a pele negra também é mais firme e prorroga o aparecimento das rugas e marcas de expressão, condições que levam a retardar o envelhecimento.

Menos ardência

No entanto, a dermatologista Márcia Ramos e Silva reconhece que, para quem tem pele negra, o excesso de sol pode levar às manchas e imunodepressão (diminuição das defesas orgânicas). "Por isso mesmo a fotoproteção é muito importante", ressalta. Na prática, a proteção se dá na parte mais superficial da pele, o que faz com que os negros sintam menos ardência quando expostos ao sol. "Como o branco já é mais visado pelo câncer e a pele branca começa a arder se permanecer exposta ao sol, eles se protegem mais e os negros permanecem mais tempo expostos", constata a dermatologista.

O dermatologista Sérgio Tarlé, da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Seção Paraná – concorda e recomenda os mesmos cuidados direcionados às pessoas de pele clara, quanto à exposição ao sol. "As pessoas da raça negra precisam também atentar para os horários de pico, usar bonés e utilizar o protetor solar com fator de proteção (FPS) 15 ou mais", ressalta.

A pele negra é mais espessa e, portanto, muito mais resistente e elástica do que a pele branca, uma vez que possui maior quantidade de melanina (proteína presente na 1.ª camada da pele e que lhe dá cor). Conforme a dermatologista, essa camada funciona como um verdadeiro "guarda-sol" que bloqueia a radiação solar, fazendo com que ela demore mais para sofrer os efeitos do envelhecimento. Além disso, costuma ser mais oleosa do que a pele branca – uma proteção extra contra as agressões ambientais como o frio, vento, água quente ou sol. "Principalmente na região do rosto, tronco e costas", frisa o especialista.

Dez anos de vantagem

Segundo o dermatologista Válter Claudino, sem qualquer proteção, a pele negra perde o brilho, tornando-se opaca. Apesar das características benéficas que as pessoas com esse tipo de pele possuem, existem outros problemas mais comuns na raça negra que exigem cuidados especiais no verão. Um deles é a foliculite – infecção na cavidade dos pêlos causada por fungos, que acometem principalmente as mulheres, que se depilam com mais freqüência no verão. "Essa doença pode deixar seqüelas como cicatrizes altas e grossas, que na maioria das vezes ficam por toda a vida", alerta o médico.

As áreas mais atingidas são as axilas e a virilha, que após a depilação têm mais facilidade para o crescimento de pêlos encravados. De acordo com Claudino, as lesões são avermelhadas, inflamatórias, endurecidas e freqüentemente com pus, por causa da presença de bactérias. "Em casos isolados, o pêlo pode crescer internamente, podendo chegar à formação de cistos", comenta.

Nessa época do ano, além dos cuidados redobrados por conta da exposição ao sol, deve-se prevenir também o aumento de cravos e espinhas, devido à pele negra ser mais oleosa do que as demais. O médico recomenda que a pele seja devidamente limpa, hidratada e protegida à base de protetor solar todos os dias, para que evite a formação de manchas.

Márcia Ramos e Silva adverte que a exposição ao sol causa imunodeficiência, seja qual for a cor da pele e derruba outro mito com relação à pele negra: "os negros também adquirem rugas em função da exposição ao sol", diz ela, que, no entanto, informa que a pele escura tem dez anos de vantagem em relação à mais clara no desgaste provocado pelo sol.

Considerando essas características e também pelo fato de as peles negras serem propensas ao aparecimento de cicatrizes tipo quelóide e manchas esbranquiçadas, é importante adotar o uso de produtos diferenciados. "Para peles oleosas o ideal é aplicação de protetores em gel que não acrescentam oleosidade", recomendam os especialistas.

Cuidados necessários

Para controlar todos os fatores que prejudicam a pele negra, alguns cuidados devem ser tomados:

* Hidratação diária e intensiva da pele

* Retinóides para evitar formação de cravos e afinar a pele

* A hidroquinona –  para clarear as manchas – deve ser usada com cuidado, porque se usada por muito tempo seguido pode causar manchas brancas definitivas

* Vitamina C associada aos tratamentos oferece menos irritação e uma maior melhora das manchas

* Proteção solar regular, já que existe uma tendência maior de manchas escuras

* Evitar produtos com veículo oleoso para face pela tendência que tem de formar cravos.

Fonte: Deborah Duarte, dermatologista

Negros devem evitar

* Substâncias gordurosas

* Ácidos com concentrações elevadas

* Produtos à base de álcool

* Peelings físicos e químicos

* Uso do laser

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