“A falta de acesso a condições básicas de saúde pública, como a água potável, é a chave das diferenças abismais na expectativa de vida das crianças nascidas em distintos países da América”, frisa um informe recente da Organização Panamericana da Saúde (OPS). “Quando uma criança nasce no Canadá, sua expectativa de vida é de 79 anos, mas uma criança que nasce no mesmo dia no Haiti, espera viver até os 54 anos”.

“Várias análises indicam que, por trás dessas inquietantes diferenças na expectativa de vida entre regiões geográficas e grupos populacionais distintos, estão causas como deficiências enormes em aspectos cruciais da saúde pública”, afirma o estudo da citada organização, publicado no “Pan American Journal of Public Health”.

A esperança de vida nas Américas tem extremos como os 74/79 anos que se registram nos Estados Unidos, Uruguai, Cuba, Costa Rica e Panamá e os 54/63 anos de Haiti e Bolívia.

“O acesso à água potável e a existência de fossas e eletricidade é muito limitada em amplas regiões do continente”, informa o especialista Bernardo Kliksberg, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Calcula-se que 130 milhões de pessoas na América Latina não têm acesso à água potável. Por outro lado, o custo da água para as pessoas pobres é muito mais alto do que para as das classes média e alta”.

“Nessas condições”, lê-se no estudo da OPS, “as taxas de mortalidade infantil no continente pulam de menos de 5,3 mortes em cada mil crianças vivas no Canadá, para 80 mortes em cada mil que se registram no Haiti. Isto significa que a possibilidade de uma criança com menos de um ano morrer é 15 vezes maior em um país do que no outro”.

Segundo a OPS, “as diferenças na expectativa de vida são diretamente proporcionais à falta de igualdade no acesso ao cuidado médico e se relacionam com a pobreza e com todas as suas implicações, em nível regional e nacional”.

“Apesar dos índices gerais da saúde terem melhorado nas Américas, ainda existem desigualdades regionais que constituem um desafio”, admite a organização pan-americana.

Assim, a questão da água é fundamental até para determinar a esperança de vida de uma criança ao nascer. Um dos estudos analisados no informe mostra, por exemplo, a relação inversa entre a taxa de mortalidade infantil e a proporção da população com acesso à água potável em áreas distintas do Peru.

“A correlação negativa indica que a mortalidade infantil se reduz na mesma proporção em que aumenta o acesso à água potável”, confirma o informe da OPS, que lembra a incidência fatal de doenças e infecções intestinais entre as crianças da América Latina e do Caribe.

As diferenças regionais enormes no setor da saúde pública se confirmam desde o início destas políticas, quando se comparam as porcentagens de gastos de cada país. Segundo a OPS, nos países com entradas maiores os gastos com saúde pública nacional excedem 10% do Produto Interno Bruto (PIB), superando os US$ 1,6 mil anuais por pessoa. Já nos países com entradas média e baixa, os gastos com saúde pública estão entre US$ 90 e US$ 35 anuais por pessoa, respectivamente. (ANSA).

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