Aceita pela população, fitoterapia busca espaço

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 60% a 80% da população faz uso de plantas medicinais. A afirmação de que o emprego de plantas em áreas terapêutica e preventiva surgiu antes mesmo da humanidade é correta, dizem os especialistas. Porém, esse conhecimento tradicional está se perdendo, pois tanto universidades quanto as políticas de saúde pública no País acabam voltando suas atenções para a indústria química.

Um projeto desenvolvido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) quer identificar o emprego das plantas medicinais e promover um trabalho para o uso racional dessas espécies. A comunidade escolhida foi a da Vila Macedo, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. A coordenadora do projeto e professora de Farmacognosia, Nilce Nazareno da Fonte, afirma que o projeto envolve alunos interessados com o tema, e que nesse primeiro momento estão fazendo o levantamento da realidade no local.

A professora explica que a idéia do projeto não é diagnosticar ou prescrever remédios, mas identificar quais os erros e acertos cometidos pela população, e orientar essa comunidade. “Não queremos interferir no papel do médico, mas nosso papel enquanto farmacêuticos é dar essas explicações”, comentou. Nilce disse ainda que a intenção é interagir com os médicos que atendem nas unidades de saúde, para que eles ensinem a população a usar corretamente a fitoterapia. “Mais do que uma ação, queremos promover uma reação nessas pessoas”, resumiu. Ela lembra que o objetivo do projeto é atingir primeiro a população mais carente, mas também, aqueles que tiverem interesse no assunto.

Uma das principais preocupações da professora é que as novas gerações não conheçam os benefícios das plantas medicinais. Na década de 90 houve um estímulo para o emprego da fitoterapia, mas as publicações feitas – muitas vezes em revistas para o público jovem – trouxeram informações equivocadas. “E são informações como as reações pela associação de plantas, quais são tóxicas e a diferença da eficácia relacionada com a hora e forma de colher que nós queremos informar”, disse Nilce.

Outro grande problema identificado pela coordenadora é que os cursos da área de saúde formam profissionais voltados para a indústria química. O mesmo acontece com as políticas de saúde no Brasil, que não priorizam a medicação: “O referencial que se tem de saúde no País está voltado para a indústria química”, comentou. Ela concorda com as ações para a liberação de medicamentos no Brasil, que determina que antes da liberação, um produto precisa passar por diversas etapas de pesquisas.

“Mas no caso dos remédios com plantas medicinais a legislação é muito severa, e dificilmente se consegue registrar no Ministério da Saúde uma folha ou raiz”, explicou Nilce, lembrando que as pessoas que difundem essa aplicação podem ser presas por crime hediondo. A professora disse ainda que Curitiba, entre os anos de 1990 e 2001, se tornou referência na utilização da fitoterapia na saúde pública, quando 82% das unidades de saúde ofertavam remédios à base de onze plantas.

Mas, devido a um procedimento de investigação do Ministério Público em empresas que atuam sem registro no MS, o programa municipal foi prejudicado. Hoje, de acordo com o promotor de Justiça da Promotoria de Defesa do Consumidor, João Henrique Vilela da Silveira, o processo continua tramitando e não existem novidades sobre as investigações.

Voltar ao topo