A vida pode (e deve) ser normal após a cirurgia de próstata

A grande preocupação dos homens que têm diagnóstico de câncer de próstata ? além, é claro, do tratamento e a cura da doença ? está relacionada às seqüelas que a cirurgia pode acarretar. Incontinência urinária, disfunção erétil e mudanças brutais no estilo de vida tornam-se, nesse momento, questões extremamente relevantes na vida desses homens. Para a enfermeira Gisele Regina de Azevedo, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Estomaterapia (SOBEST), através de terapias, produtos e, sobretudo, da conscientização, é perfeitamente possível resgatar 100% da qualidade de vida desses pacientes.
O primeiro ponto importante é que nem todo homem que se submete a uma cirurgia de próstata irá apresentar seqüelas. ?Dependerá da extensão e característica do tumor, das terminações nervosas e dos músculos próximos que precisarão ser removidos em função da doença?, explica Gisele.
Durante, aproximadamente, 30 dias após a cirurgia, é comum que o paciente utilize uma sonda que servirá para eliminar a urina e outras substâncias, além de ajudar na cicatrização interna. Quando se retira definitivamente essa sonda é que se percebe o grau de incontinência apresentado. ?No pós-operatório imediato, a maioria acaba usando fraldas ou absorventes por medida de segurança?, conta a profissional, explicando que o próprio médico se encarrega dessa orientação. ?A decisão pelo uso de fraldas ou absorventes dependerá da intensidade registrada na primeira incontinência. Se o volume de urina eliminada involuntariamente for grande, a melhor opção é o uso de fraldas especiais?.
O uso de fraldas por adultos tem o mesmo efeito psicológico gerado nas crianças. ?Por medo de não conterem a urina em locais públicos ? ou mesmo em casa, diante da família ? muitos homens relutam em abandonar esse paliativo?, diz a enfermeira. O ideal, segundo ela, é que se deixe de usar a fralda tão logo sejam notados os primeiros sinais de continência. ?É preciso ter, acima de tudo, coragem?, resume. Porém, alguns podem levar vários meses para abandonar o acessório, mesmo estando com o domínio das funções urinárias.
Segundo Gisele, alguns movimentos podem favorecer a perda de urina. ?Estar sentado e se levantar, mudar bruscamente de posição ou começar a andar são mecanismos que podem compelir a urina para fora devido à força da gravidade aliada ao aumento da pressão intra-abdominal sobre a musculatura da bexiga?. Para se lidar com isso, um dos caminhos é a reeducação urinária. ?Criar novos hábitos, como urinar mais vezes antes de sair de casa ou logo que se chega ao destino, evitar o uso de aspartame, bebidas gasosas ou que contenham cafeína, por exemplo, é importante?. Outra solução que apresenta excelentes resultados são os exercícios para fortalecer a musculatura do assoalho pélvico, associados à eletroterapia e ao biofeedback. ?Um paciente que perdeu, por exemplo, cerca de 40% da musculatura do períneo, pode fazer com que o restante recupere seu potencial através de exercícios específicos?.
Trabalhando desde 1997 com pacientes portadores de incontinência urinária, a enfermeira estomaterapeuta Gisele de Azevedo cita que todos os pacientes apresentam melhora após os tratamentos. ?Isso não significa que fiquem perfeitos, mas o tratamento garante qualidade de vida e a realização das atividades praticadas antes da cirurgia?, explica.
O trabalho de especialistas em incontinência urinária ? como os estomaterapeutas, psicólogos e psicoterapeutas – que ajudariam muito os pós-operados a retornarem à vida normal ainda não são disponibilizados pela rede pública de Saúde (SUS) nem pela maioria dos planos de saúde. As sessões com um estomaterapeuta com a finalidade de reeducar as funções urinárias começam com uma periodicidade de duas a três vezes por semana e vão se espaçando ao longo do tratamento que costuma durar entre três e cinco meses. O valor acertado com o profissional é sempre estipulado pelo conjunto de ações tomadas, independente do tempo que durará o tratamento.
De acordo com a enfermeira, uma vez orientado por profissionais capacitados, o homem pode voltar à normalidade. Sem esse apoio, só em raríssimos casos. Porém, ela destaca outro ponto fundamental à recuperação. ?É preciso ter recursos internos para o uso das técnicas alternativas?, afirma, referindo-se a disposição do paciente em superar as adversidades impostas pela doença e pela cirurgia. Acostumada a atender homens com idade entre 45 e 80 anos, submetidos a esse tipo de cirurgia, Gisele conta que ?o melhor paciente, o que tem maior potencial de recuperação é aquele que quer realmente viver. É aquele que tem com o quê se preocupar, pessoas para as quais se dedicar. Esse é o perfil do paciente ideal?.

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