A responsabilidade dos pais na questão da depressão infantil

As crianças ganham quase tudo o que querem: o tênis mais caro, o celular mais moderno, as roupas da moda.

Têm liberdade para passar várias horas na frente da TV, do computador ou do videogame.

Possuem muitos brinquedos e pouca cobrança e, mesmo assim, não parecem felizes ou tranqüilas como outras.

Muitas vezes, por detrás desse comportamento, pode existir um dos males que mais aflige a humanidade: a depressão, que nas crianças são ainda mais complicadas de se tratar. Às vezes é justamente o comportamento dos pais o principal culpado.

Recentemente, a psicóloga Lídia Weber, coordenadora do Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná, pesquisou cerca de três mil crianças curitibanas e constatou que, invariavelmente, seus pais confundem carinho com “dizer sim”.

Dentre as crianças pesquisadas e que sofrem de depressão, 56% são filhas de pais negligentes. “Esse tipo de pai nunca tem tempo para ajudar nas tarefas, não se preocupa com a educação e estabelece poucos limites”, esclarece a especialista. Além disso, dão pouco afeto à criança, que acaba apresentando um desempenho sofrível não só nos comportamentos sociais, mas também acadêmicos.

Identificar o quadro

Os pais com comportamento autoritário também podem estar empurrando seus filhos em direção à doença. Entre as crianças com depressão, 26,3% são filhas de pais autoritários.

Muitos limites, muitas regras, pouco carinho e pouca participação são receitas prejudiciais para a auto-estima das crianças. Apesar de terem um desempenho escolar razoável e poucos problemas de comportamento, elas apresentam pouca atividade social, são mais submissas e têm tendência a se anular, por acreditar que somente assim serão amadas.

Pesquisando a interação entre pais e filhos há mais de dez anos, Lídia Weber defende que o comportamento da criança pode ser modelado pelo tipo de relação que os pais estabelecem com os filhos.

Analisando os perfis dos pais pesquisados, ela chegou a quatro grupos: além dos autoritários e dos negligentes, existem os pais permissivos (muito afeto, mas pouco limite) e participativos (muito limite e muito afeto).

Os dois últimos grupos são os que apresentam filhos com menor índice de depressão – especialmente os participativos, considerado o melhor comportamento.

Descobrir um quadro de depressão infantil é difícil, principalmente porque a criança não consegue expressar o que está sentindo. “Ela não se queixa de estar triste ou angustiada porque não sabe o que está acontecendo, não reconhece muito bem esses sentimentos”, afirma o psiquiatra André Astete.

Por isso, é importante que os pais prestem atenção aos sinais que a criança emite. Um dos mais perceptíveis é a queda no rendimento escolar. Outros fatores que podem ocasionar a depressão infantil são situações de desesperança, em que a criança acha que a vida é ruim ou não sente alegria naquilo que faz.

Sem preconceito

Para o pediatra Carlos Roberto Brunini, O diagnóstico tem que ser feito sempre por um especialista e é fundamental que os pais se isentem de qualquer preconceito e não tenham vergonha de procurar um psicólogo.

Na depressão infantil é necessário avaliar também sua situação familiar, existencial, seu nível de maturidade emocional e, principalmente, sua auto estima. Além das entrevistas com a criança, é muito importante observar sua conduta segundo informações dos pais e professores.

O tratamento deve ser feito a partir de psicoterapia, e em situações mais graves, devem ser incluídos medicamentos. Na maioria dos casos, o comportamento dos pais também deve sofrer alterações. Conversar com o especialista é fundamental, para saber como agir.

“Não se pode simplesmente deixar a criança fazer o que quer, só porque ela está com depressão. As regras s&a,tilde;o importantes e devem existir sempre”, pondera Lídia Weber.

Carlos Brunini alerta que é sempre necessário tratar desse assunto de forma séria e estar sempre atento ao comportamento dos pequenos. “A infância é a base de toda uma vida, ou seja, uma criança feliz tem 99% de se tornar um adulto feliz”, completa.

Sintomas depressivos em crianças

As crianças têm dificuldades de expressar o que sentem, mas sintomas psicossomáticos podem ajudar a definir estados de depressão.

Faixa etária: 3 a 6 anos
Sintomas psíquicos: agitação e inibição
Sintomas psicossomáticos: choros e gritos sem razão aparente, diarréia, distúrbios do sono e falta de apetite

Faixa etária: 7 a 9 anos
Sintomas psíquicos: irritabilidade, insegurança, inibição, comportamento arredio, inibição na aprendizagem
Sintomas psicossomáticos: terror noturno, manipulação genital, choros infundados, micção descontrolada

Faixa etária: 10 a 14 anos
Sintomas psíquicos: sentimentos de inferioridade, impulsos suicidas, abatimento, meditação com tristeza
Sintomas psicossomáticos: cefaléia (dores de cabeça)

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