A droga fragiliza a estrutura da personalidade

Interessante a vida dos seres humanos. Vivemos em fases, períodos, moda. Tudo passa. Algumas coisas ficam. E a moda atual qual é? Sem dúvida, é a discussão sobre drogas. Estimulada a curiosidade pela novela para este tema tão angustiante e desconhecido, as pessoas se perguntam: E daí, como pode? Por quê? Quem é o drogado? Pode ser o meu filho? O do vizinho? Quem é o traficante? O pipoqueiro na frente da escola? Qual a droga da moda?

As respostas não são fáceis. A problemática das drogas não se resume em poucas palavras ou frases de efeito, mas, sim, na compreensão da dinâmica da vida de cada pessoa. Por quê? O ser humano sempre esteve de alguma maneira envolvido com drogas. A tentativa da busca de sua transcendência, o descontentamento com sua vida terrena sempre o empurrou para a solução mágica. E a droga pareceu ou parece ser a solução. Alegre engano. A disponibilidade e o fácil acesso que hoje temos a qualquer tipo de droga, tanto as lícitas quanto as ilícitas, disseminam o uso e facilitam a qualquer pessoa ser apresentada a uma substância. A juventude passa a ser, então, uma presa fácil.

A adolescência, período confuso e complexo do desenvolvimento da personalidade, caracteriza-se por indefinições, angústias e temores, além da busca de afirmação da própria identidade. Esta fase comporta diversas vulnerabilidades, tanto biológicas quanto psicológicas, sociais e até espirituais. A conjugação destes fatores desencadeia comportamentos, às vezes, inadequados, exibicionismos e dificuldades para lidar com as pressões que o grupo exerce sobre o jovem.

A família e a escola passam a ter papel fundamental na prevenção das drogas. A falta de diálogo, as falhas de comunicação entre o pai e a mãe, pais e filhos, professores e alunos, o “fora da moda”, a colocação de limites, a idéia errônea de que a formação da pessoa só depende dela mesma, vêm, sistematicamente, fragilizando as estruturas de personalidade que impediriam o jovem de buscar a solução mágica. Pais e educadores representam o mais potente obstáculo ao avanço da experimentação, uso e abuso de drogas. A proximidade com os jovens é que possibilita, por conhecê-los muito bem, a identificação de alterações físicas, comportamento inquieto, desconfiado, novas amizades quase secretas, conflitos familiares mais freqüentes, indisciplina tanto em relação às normas de casa quanto às da escola.

Para professores e orientadores educacionais, a baixa do rendimento escolar, desafios às ordens, ausências da sala de aula são indicadores que merecem atenção especial, pois podem, precocemente, acender o sinal de perigo e propiciar a abordagem com a conseqüente tomada de providências para a ajude efetiva. Pânico, desespero, ameaças e, principalmente, pacto com os jovens destroem qualquer possibilidade de ação preventiva eficaz. Por outro lado, atitudes positivas, francas, posturas assertivas, claras, com ações decididas e coerentes, restabelecem a confiança mútua e abrem o caminho para a superação das dificuldades.

A medicina hoje, pela psiquiatria, entendendo melhor a dinâmica das relações que são estabelecidas pelo homem com as drogas, bem como a importância da neuroquímica na gênese da dependência, tanto física quanto psicológica, criou técnicas de abordagem, de diagnóstico e de tratamento que vêm revolucionando o campo das dependências.

Não existem medicamentos específicos para o tratamento de dependência, como a do álcool ou da cocaína, por exemplo. Há, sim, substâncias que são poderosos ajudantes no controle das manifestações secundárias apresentadas pelas drogas ou, mesmo, para o tratamento das chamadas comorbidades, que são patologias psiquiátricas que podem estar presentes num usuário, determinando, às vezes, o estabelecimento do abuso das drogas ou o desencadeador de patologias.

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná, por meio da Aliança Saúde PUC-Santa Casa de Curitiba, está colocando o Paraná no primeiro time das instituições voltadas ao estudo, pesquisa, ensino e tratamento no campo das dependências. Responde, dessa forma, aos reclamos da comunidade, que cobra respostas às questões que envolvem as drogas. O Centro de Atenção às Drogas, que está completando um ano, entregará à sociedade a primeira turma de especialistas na área das dependências. Isso representa que mais de cem profissionais, treinados e formados pelos melhores especialistas deste campo no Brasil, se somarão àqueles que, de alguma maneira, já vêm trabalhando neste campo.

Da mesma forma, iniciam-se as ações que dotarão o Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz-PUC de um moderno Centro de Assistência ao Dependente Químico, que, em regime de internação de curta permanência, usando das mais modernas e atuais técnicas de intervenção, estará contribuindo para a recuperação das pessoas, devolvendo-lhes sua capacidade produtiva e o seu convívio sadio na comunidade.

Dagoberto Hungria Requião

é diretor do Centro de Atenção às Drogas e do Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz da Santa Casa – Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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