A banalização do sexo

Os sentimentos ligados ao sexo estão muito banalizados nos dias de hoje. Em qualquer lugar, seja em out-doors, seja em revistas masculinas, vê-se uma loura ou uma morena sempre nuas, o que significa que o apelo sexual está sempre presente.

Todas as capas de revistas se tornaram um festival de mulher atraente e sedutora. Isso dá a falsa sensação de crescimento psicológico e liberdade. Até nos programas Casa dos Artistas e Big Brother, a preocupação obsessiva do telespectador é saber se está rolando sexo e quem vai ficar com quem. A curiosidade e o interesse pela vida sexual são muito maiores em relação às outras pessoas do que pela sua própria vida.

Essa ansiedade em relação ao sexo não chegou a esse estágio por acaso. É preciso olhar lá para os anos 60, quando o sexo era até uma novidade política. Nos anos 50 havia uma situação tão conservadora que a gravidez era quase considerada uma anomalia (motivo de vergonha e de pouco orgulho). Já nos anos 70, ocorreu a luta pelo amor livre e pela resolução das culpas e dos medos. Achava-se que a sexualidade era uma forma da pessoa superar seus fantasmas, mitos e preconceitos. Era uma forma de crescimento social e político.

De lá para cá muita coisa mudou. Hoje não há mais tanta ênfase no proibido, e na culpa. O sexo virou realmente uma mercadoria de consumo, principalmente quando a embalagem é perfeita. Convivemos num nível de insatisfação permanente, apesar de não existir mais aqueles temores sexuais insuportáveis.

A mídia está manipulando a liberdade das pessoas. Já não há mais o privilégio ou a manutenção da privacidade. Hoje, para alguma mulher ficar famosa, com raras exceções, tem de tirar a roupa. Esse apelo chegou a um nível tão intenso que o corpo é muito mais importante que a própria pessoa.

O bumbum, que sempre foi uma marca registrada da mulher brasileira, passou a ser a esperança de milhões de cinderelas. Está todo mundo correndo atrás da sobrevivência e do “sucesso”. A menina mostra o bumbum como se fosse a coisa mais importante e única que ela tem. Os seios foram siliconizados e o corpo malhado. Mas quando ela começa a falar, percebe-se que é insegura, frágil e quer se casar e ter filhos. Demonstra um sentimento de “pureza” e ingenuidade, está em busca da construção de um ninho, de uma família.

Começa a ocorrer então, uma dissociação emocional, como se o corpo fosse uma coisa e a pessoa outra. Parece que a vida da pessoa começa a ser programada não pela escolha que ela possa fazer, mas por toda uma indústria que está ao redor dela vendendo ilusões e fantasias como se fossem fontes de verdadeiro prazer.

As pessoas acabam perdendo a sua capacidade de escolha e discernimento, e não sabem mais como enfrentar seus problemas. Isso explica facilmente o crescente número de indivíduos sozinhos e emocionalmente comprometidos, onde a angústia e a depressão são inevitáveis.

Moacir Costa

é médico psicoterapeuta. Autor do livro Sexo: O Dilema do Homem – Editora Gente. Telefone: (0800) 770-6543.

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