Turismo aliado ao conhecimento é uma boa opção

Imagine conhecer um lugar não apenas pela beleza ou pelas sensações que transmite. Imagine poder ir além e saber como aquele local se formou ao longo das eras, o que guarda em termos de riquezas geológicas, como fósseis e formações rochosas, que minerais se escondem debaixo dos rios e por que suas águas formam tantas esculturas nas pedras.

Existe uma modalidade de turismo que trabalha esses aspectos e torna possível ir além do visual. O geoturismo tem exatamente essa proposta: proporcionar o conhecimento dos aspectos naturais, como a geologia do local, a geografia e as relações ambientais, formando um conteúdo cultural inestimável para estudiosos e leigos.

“Nessa atividade existe uma relação muito estreita com educação e cultura. A ideia é que estes aspectos sejam apresentados de maneira suficientemente fascinante para que sejam um atrativo turístico”, resume o consultor em geoturismo e professor de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Antônio Liccardo.

O Paraná já tem trabalhos nesse segmento. Liccardo fez uma pesquisa pela Mineropar – órgão estadual que cuida da atividade mineral e que viabilizou os levantamentos na área de geoturismo – dos potenciais geoturísticos do Estado e constatou que era necessário mostrar esse conhecimento a quem quisesse ver.

O resultado foi que, como um primeiro passo, foram instalados painéis geoturísticos nos principais pontos de visitação, como Foz do Iguaçu, Vila Velha e no litoral, incluindo a Ilha do Mel.

“Nestes pontos também já existe algum material gráfico de divulgação e houve alguns cursos de capacitação de guias – que, aliás, fizeram muito sucesso”, diz o consultor.

Gruta da Pedra Ume, na região de Tibagi, era local onde os tropeiros extraíam rocha para curtir o couro dos animais.

Foi o caso de Tibagi, nos Campos Gerais. Lá, comunidade e prefeitura abraçaram a causa. Os painéis, contendo especificações técnicas das rochas e dados sobre a formação geológica do município, foram instalados em diversos pontos de visitação, como no mirante do Rio Tibagi, no Cânion Guartelá e nos saltos Puxa Nervos e Santa Rosa.

“O Rio Tibagi tem toda uma história de desbravamento de diamante e ouro. Seu primeiro mapa data do século XVIII. Até então, era uma região completamente selvagem, conhecida como Sertões do Tibagi”, explica. A riqueza mineral do rio, portanto, é indiscutível.

A localidade também guarda fósseis e pinturas rupestres. A Gruta da Pedra Ume, que pode ser visitada no local, é resquício da época em que os tropeiros extraíam dali esse tipo de rocha para o curtimento da pele dos animais.

E o processo de formação do cânion, em seus 30 quilômetros de extensão e até 450 metros de profundidade, é um conhecimento à parte. O local é formado por longas fraturas na terra, permeadas de diabásio, rocha típica da região.

As panelas ou marmitas que existem no leito do rio, cortando o cânion -e que tanto divertem os turistas, como se fossem banheiras de hidromassagem – também são explicadas do ponto de vista geológico. “São formadas pela erosão. A água faz ali um redemoinho e os sedimentos que carrega funcionam como uma lixa, cavando a pedra”, explica o estudioso.

Roteiro geoturístico em Tibagi

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As panelas ou marmitas, que tanto divertem os turistas no Guartelá, são formadas por processo erosivo, “cavadas” pela água.

As diretrizes do turismo atualmente caminham para o desenvolvimento de rotas e circuitos turísticos nas regiões onde o levantamento foi feito. Tibagi, por exemplo, trabalha na confecção de um roteiro geoturístico.

Mesmo antes de estar pronto o roteiro, a cidade já recebe excursões, principalmente provenientes de universidades, com estudiosos interessados na riqueza geológica da região.

“Já recebemos gente do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e de instituições do Paraná também. Quando o roteiro estiver pronto, iremos passá-lo a todas as universidades”, adianta a gerente de Turismo da prefeitura, Juliana Nogueira.

Mas qualquer visitante pode ter acesso a esse conhecimento. De acordo com a gerente, há pelo menos duas empresas locais que fazem as trilhas da região contemplando informações geoturísticas. São elas a Águas Vivas Aventuras – (42) 3275-1357 – e a Pai do Mato – (42) 8813-3148. (LM)

Conheça as formações da Rota dos Tropeiros

A Rota dos Tropeiros está toda mapeada, embora seja cheia de contrastes, já que alguns municípios apresentam ótima estrutura turística, enquanto outros, quase nenhuma.

No entanto, em termos de geoturismo, a rota apresenta uma constância de paisagens maravilhosas: ali foram cadastrados cerca de 300 pontos de interesse geoturístico ao longo das 17 cidades que a compõem.

De Rio Negro, no sul do Estado, a Sengés, no extremo norte, painéis explicam como se formaram as cachoeiras e cânions – acredite, a região é permeada deles, todos posicionados paralelamente, ainda que alguns passem despercebidos.

Na Lapa, a Gruta do Monge é explicada sob o ponto de vista geológico, bem como em Castro o visitante é informado de que está transitando do primeiro para o segundo planalto. Em Palmeira, na Colônia Witmarsum, o geoturismo dá promissores frutos.

Lá foi implantado um painel explicando a existência de estrias glaciais em arenitos de um afloramento à beira da estrada. Este sítio geológico corria risco de destruição, no entanto, num esforço conjunto entre a comunidade e a Mineropar, o local foi preservado.

“Hoje, depois de alguns anos, este ponto se transformou num dos principais atrativos turísticos do lugar e trouxe, segundo testemunhos da própria comunidade, um grande incremento na economia turística da Colônia”, afirma o professor Antônio Liccardo.

A rota continua em Piraí do Sul, onde as rochas típicas da região e rios encachoeirados dão um espetáculo de natureza. Lá, uma peculiaridade: a pousada Serra do Piraí, que fica em meio às fazendas, proporciona um clima de total imersão nas belezas do lugar.

O proprietário Emerson Selvilzki é também o guia que acompanha os hóspedes nas trilhas. No próprio local onde está instalada a pousada há um painel geoturístico.

E os passeios por ali são cheios de conhecimento: durante a caminhada, o guia faz questão de falar sobre as formações rochosas, mostrar as inscrições rupestres ocultas na paisagem e explicar como o movimento do rio forma desenhos e escavações nas rochas.

À noite, nada como deitar no “quintal” da pousada para ver a infinidade de estrelas cobrindo as matas. Para chegar à pousada, o caminho é a PR-151, que liga Piraí do Sul a Ventania. A pousada fica a 14 quilômetros do centro de Piraí. Telefone: (42) 3237-3402.

Siga o caminho das tropas

A Curitiba por trás das rochas

Parque Tanguá era antiga pedreira: solução urbanística que guarda história da construção da cidade.

Conhecer Curitiba do ponto de vista geoturístico é também uma forma de avaliar como o desenvolvimento, da cidade caminhou lado a lado com a qualidade de vida.

O professor Antônio Liccardo, junto com os pesquisadores Gil Piekarz e Eduardo Salamuni e viabilizado pelo Estado e município, lançou no fim do ano passado a publicação Geoturismo em Curitiba.

Em formato prático, tais como os manuais de turismo, o livro conta curiosidades relacionadas à construção da capital e a forma como a urbanização foi trabalhada no sentido de sanar as consequências de extrair da natureza o material necessário às obras.

Ainda no Tanguá, túnel mostra o interior da rocha e o movimento da água subterrânea.

É o caso dos parques, que tornam a capital paranaense tão famosa Brasil afora. Boa parte deles, sabem os curitibanos, são antigas pedreiras – lugares de onde a cidade tirou rocha para crescer.

“O Tanguá, por exemplo, é um dos monumentos do geoturismo no Brasil”, avalia. Quando for visitá-lo novamente, preste atenção ao túnel que passa debaixo da montanha. “Ali é possível ver o interior da rocha e o movimento da água subterrânea do aquífero (no caso, o do Atuba)”, explica o pesquisador. É por causa dessa água que a rocha é toda fraturada.

O Parque Iguaçu, onde fica o zoológico, guarda dados preciosos de desenvolvimento e transformação natural. As cavas, hoje preenchidas pela água, são resultado da extração de areia e argila das bordas do Rio Iguaçu – materiais também usados para construir a cidade.

E uma curiosidade que o livro conta e pouca gente sabe: antes de descoberto o ouro de Minas Gerais, Curitiba era, junto com Paranaguá, o centro de exploração do minério para suprir a Coroa Portuguesa no século XVII.

“Dizem inclusive que foi um escravo que minerava aqui quem encontrou ouro em Ouro Preto, posteriormente”, conta Liccardo. O local onde está o lago do Parque Barigui seria um dos pontos de exploração – a área do parque compunha a sesmaria do capitão-povoador Mateus Leme, que faiscava a região junto com seus garimpeiros em busca do precioso minério.

Debaixo das ruas, minerais raros, típicos da região, estão ocultos. É o caso do neodímio-lantanita, cuja amostra já atraiu a atenção até mesmo de pesquisadores do exterior.

Serviço

A publicação Geoturismo em Curitiba pode ser adquirida na livraria Dario Vellozo (Praça Garibaldi, 7 – no Palacete Wolf).
Fone: (41) 3321-3379.
Custa R$ 20.

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