Tropeirismo visa alavancar o turismo

Usar o tropeirismo como forma de divulgar o Estado e promover a visitação turística. Esse é um dos objetivos do projeto Tropeiros do Brasil, desenvolvido pelo professor gaúcho Velocino Bruck Fernandes, radicado em Curitiba. O trabalho é fruto de dez anos de pesquisas e estudos e tem base ainda na própria vivência de Fernandes e outros pesquisadores, que participaram da cavalgada intitulada Cavaleiros da Integração Missioneira. A marcha foi feita por 45 integrantes, que percorreram mais de mil quilômetros entre São Miguel das Missões (RS) até Curitiba, com a finalidade de resgatar a importância histórica e cultural do tropeirismo no Brasil.

O trabalho está registrado em fitas de vídeo VHS que já foram exibidas em escolas públicas e particulares como complemento do conteúdo apresentado em sala de aula. O vídeo mostra, por exemplo, como se deu o início do tropeirismo no Estado, sua importância no desenvolvimento econômico do Brasil Colonial e como os caminhos levaram à consolidação das fronteiras do território brasileiro e à formação do povo, dos costumes e das tradições do Sul do País.

Assim como foi um dos fatores que impulsionaram o desenvolvimento econômico da Região Sul como um todo e, especificamente, do Paraná, Velocino Fernandes acredita que agora, no século 21, o tropeirismo pode dar novamente sua contribuição econômica ao Estado como propulsor do turismo, um grande gerador de divisas que ainda começa a ser valorizado como tal.

Potencialidades

Durante a cavalgada, que ocorreu em julho e agosto de 1999, os participantes puderam verificar o potencial turístico das regiões por onde passaram – do Rio Grande do Sul ao Paraná. Segundo o professor, muitos dos pontos turísticos visitados são bem pouco conhecidos pelos turistas, apesar de alguns deles já contarem com infra-estrutura pronta para receber visitantes. Mas todos com uma coisa em comum: enorme potencial para se transformar em um ponto turístico interessante, seja pela importância histórica e cultural, seja pelas paisagens naturais perfeitas para a prática do turismo rural e do ecoturismo. Por isso, Velocino Fernandes sugere a criação da Rota de Ecoturismo Rural Cultural, do Rio Grande ao Paraná.

O ponto de partida da marcha percorrida em 1999, o município de São Miguel das Missões, por exemplo, é Patrimônio da Humanidade, tombado pela Unesco; já o município de Santo Ângelo tem em sua igreja matriz um exemplo de construção feita pelos jesuítas, a única conservada até hoje. Em Santo Ângelo é que está também o monumento do índio Sepé Tiaraju, com a inscrição “Essa terra tem dono”, em referência à resistência dos indígenas no episódio de tentativa de invasão dos espanhóis.

Em Santa Catarina, entre os locais que merecem ser melhor divulgados para a atração de turistas está o Complexo Turístico Quedas do Rio Chapecó, em Abelardo Luz e, já na divisa com o Paraná, a Fazenda Ervateira Pagliosa, um dos principais produtores de erva-mate do Brasil. Lá o turista pode, por exemplo, acompanhar todo o processo de produção da erva-mate, desde a colheita até o empacotamento. Duas reservas indígenas já em território paranaense também poderiam fazer parte de um roteiro turístico – a de Mangueirinha e a de Chopinzinho, reservas caigangue e guarani, respectivamente.

A rota continuaria por Guarapuava, na Aldeia Temática Corbani Tamanini, onde já existe uma pousada, o Museu do Índio e o Museu do Tropeiro. Em Prudentópolis, os turistas poderiam conhecer algumas igrejas e moradias em estilo ucraniano e o Parque do Cassiano. Já em Ponta Grossa, o Parque Estadual de Vila Velha é o principal atrativo; em Balsa Nova, no Distrito de São Luiz do Purunã, a serra paranaense mostra uma estrutura já pronta com diversas pousadas de turismo rural que se beneficiam de sua exuberante paisagem verde. A rota acabaria no Parque dos Tropeiros, na Cidade Industrial de Curitiba.

Para o professor Velocino Fernandes, mais ainda do que participar de um roteiro turístico, ao percorrer esses caminhos, o turista estaria tendo uma aula de histórica ?in loco?, associada a temas atuais. “Podemos associar o tropeirismo com muitos temas bastante atuais hoje e que merecem análise e discussão, como indigenismo, formação étnico-cultural, ecoturismo, educação ambiental, manifestações artístico-culturais, civismo, religiosidade e perspectivas de futuro”, observa o professor.

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