Governo quer turismo como item de consumo

A venda de pacotes turísticos tão corriqueira quanto a de aparelhos eletrodomésticos. Esta é a intenção do governo federal anunciada pelo ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, durante o 31.º Congresso Brasileiro de Agências de Viagem, chamado agora também de Feira das Américas, ocorrido na semana passada, no Rio de Janeiro.

Para alcançar esse objetivo, foi criado o Caixa Turismo do Proger Turismo (Programa de Geração de Emprego e Renda na Área de Turismo) com recursos de R$ 400 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Os recursos são destinados às agências de viagem por meio da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.

O ministro explica que esses recursos possibilitam que as agências vendam pacotes de viagem para o turista com renda mensal de até R$ 800, em pagamentos parcelados. O empréstimo às agências é feito a juros de 2%, inferior aos 3% a 3,5% cobrados por outros financiadores. “Com isso, estamos criando condições de o turismo virar um produto de consumo”, diz Mares Guia.

Essa é uma das iniciativas previstas no Plano Nacional de Turismo, que traça metas até 2007, como a de criar 1,2 milhão de empregos no setor, aumentar de 34 milhões para 65 milhões o número de desembarques domésticos nos aeroportos brasileiros e gerar US$ 8 bilhões em divisas. A atração de nove milhões de turistas estrangeiros ao Brasil é uma das metas mais ousadas, tendo em vista os números atuais: o Brasil recebeu, em 2002, 3.783.409 turistas estrangeiros, 20,7% a menos que em 2001 (4.772.575), queda devida principalmente à crise argentina.

A visita de estrangeiros gerou uma receita de US$ 3,12 bilhões no ano passado.

Para chegar aos nove milhões em 2007, o País vai investir, somente em 2004, R$ 100 milhões na promoção do turismo brasileiro no exterior e pretende priorizar os turistas da América do Sul. “No ano passado, houve uma queda de seiscentos mil no número de turistas argentinos recebidos pelo Brasil em função da crise naquele país. Hoje, nossa relação comercial e diplomática com a Argentina é extraordinária e o número de argentinos entrando aqui pode chegar a 1,5 milhão”, informa.

Para isso, o Brasil vai manter o comitê Visit Brazil, escritório de promoção turística na Argentina, que soma 22 empresas e, durante a FIT (Feira Internacional de Turismo), que acontecerá em Buenos Aires, o governo vai realizar “Uma noite brasileira” para mostrar aos argentinos principalmente o que o País tem de produção cultural, em vez de enfocar somente os recursos naturais e de lazer.

China

Em 2004, o governo deve dar início a um trabalho para buscar também o turista chinês. Segundo Walfrido dos Mares Guia, o governo chinês aprovou o Estatuto de Destino, um documento que inclui o Brasil na lista de países recomendados para se visitar. Com isso, o governo deverá estabelecer parcerias com operadoras para verificar e definir os produtos turísticos brasileiros que seriam interessantes para o mercado chinês. “Temos que considerar que uma viagem entre a China e o Brasil leva mais de um dia e que, por isso, temos que oferecer um produto interessante que faça esse turista querer vir para cá”, comentou o ministro. Mares Guia lembrou que a China tem um PIB (Produto Interno Bruto) superior a US$ 1 trilhão e que cresce 10% ao ano.

O ministro afirmou ser favorável à revisão da exigência de visto para turistas norte-americanos. “Não entendo porque o Brasil quer fazer reciprocidade entre desiguais. Os americanos não querem vir morar no Brasil e sim visitar o País como turistas”, comentou. Hoje, o Brasil recebe por ano 630 mil turistas dos Estados Unidos. Sem a exigência de visto esse número poderia passar para três milhões, segundo o Ministério do Turismo.

A jornalista viajou a convite da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav) e Vasp.

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