Bruges, uma cidade pintada à mão

A Bélgica é um país bonito por excelência mas a simpática e peculiar Bruges, cidade medieval localizada a 96 quilômetros de Bruxelas, parece ter sido tirada de uma moldura. Certamente, a beleza da Capital Cultural da Europa deste ano deve ter inspirado muitos dos mais famosos pintores. O seu centro formado por casarios coloridos e os charmosos bairros cortados por canais e pontes fazem o turista mais amador em fotografia fazer belíssimos registros.

Bruges fica em Flandres, região Norte e a mais baixa do país, e é a capital da Flandre Ocidental. Com uma região central de 23 mil habitantes -120 mil somando toda a periferia – a pitoresca Bruges é uma das mais famosas cidades belgas e uma das que mais atraem turistas. São pessoas do mundo inteiro que se encantam não somente pela beleza, mas também pela história que a circunda.

A língua oficial de toda a região de Flandres é o flamengo, uma derivação do holandês. Porém, assim como demais regiões belgas, as pessoas em Bruges falam inglês, o que facilita em muito a comunicação com os turistas.

Ascensão

Bruges foi uma das cidades mais ricas de toda a Europa, situação que perdurou por quase quatro séculos e que teve seu ponto culminante durante a era dos duques de Borgonha, nos séculos XIV e XV. O período de prosperidade teve início em 1300, a partir do que poderia ter sido uma catástrofe – uma grande enchente que, de imediato, provocou grandes danos à população aumentou consideravelmente o fluxo do Rio Zwin, tornando-o um excelente canal de navegação e Bruges, em um relevante centro comercial e cultural com um dos portos mais atuantes de toda a Europa do Norte.

Durante este período, ricos comerciantes passaram a patrocinar os melhores artistas de tapeçaria, escultura e pintura do país, o que fez com que Bruges concentrasse um grande e rico acervo de obras de arte, hoje apreciado por turistas do mundo inteiro. O período de vacas gordas só terminou no século XV, quando a cidade assistiu à ruína do Rio Zwin, que sofreu mudanças nas características do seu leito e se tornou inadequado para navegação.

Cultura e folclore

Igrejas, monastérios, conventos e até um hospital são riquezas em forma de arquitetura que também abrigam peças de arte da época da prosperidade. O antigo hospital Sint-Jeans é hoje um dos museus mais visitados por turistas porque abriga várias obras de Memling, um pintor que veio da Alemanha, no século XII, e que se utilizou dos serviços do hospital quando esteve doente em Bruges.

Mas não é só esse. Bruges tem um grande número de museus que valem a pena serem visitados. O Gruuthuse, por exemplo, foi o palácio dos lordes de Gruuthuse durante os séculos 14 e 15. O nome do museu é em alusão a Lodewijk van Gruuthuse, o mais famoso lorde da cidade na época. O acervo é variado, há desde móveis e artigos de cozinha a instrumentos musicais e pratarias. O museu está aberto de terça a domingo, das 9h30 às 17h. Preço: 5 euros por pessoa.

Algumas igrejas em Bruges também guardam peças valiosíssimas e exclusivas. É o caso da Igreja de Nossa Senhora, que tem em um de seus altares a escultura “A Santa e a criança”, uma das poucas obras de Michelangelo que estão fora da Itália. Esta peça foi comprada por uma família de Bruges, em 1505, para ser doada a Catedral de Sienna, o que nem chegou a acontecer.

O folclore é levado a sério e expressado em toda a Bélgica em forma de carnavais, festivais, desfiles, peças de teatro e procissões religiosas. Em Bruges, uma das principais manifestações folclóricas é a Procissão do Santíssimo Sangue, de características tanto folclóricas quanto religiosas, e que tem seu ponto final na Capela do Santo Sangue, durante o Pentecostes.

Passeios

Os passeios de barco são populares na Bélgica e, em Bruges, os turistas aproveitam o costume local para conhecer a cidade a partir dos canais.

Mas nada combina mais na romântica capital da Flandre Ocidental do que um passeio de carruagem pelas ruas do centro histórico. Estes veículos, que fazem parte de muitos cartões postais da cidade, são puxados por belos e bem tratados cavalos e podem carregar até oito pessoas, dependendo do tamanho.

O preço do passeio de uma hora é 10 euros por passageiro na carruagem que cabem cinco pessoas; já o aluguel do veículo por meia hora de passeio na carruagem para cinco passageiros custa 27 euros. Este é um dos passeios que valem muito a pena serem feitos. Além de proporcionar um dos momentos especiais da viagem, é uma boa forma de observar melhor a cidade, sem se preocupar com os veículos ao atravessar ruas e ter que olhar onde pisa. No percurso, a vontade é de fotografar pois são muitos os pontos que valem ser guardados para relembrar na volta para casa. Neste caso, é só pedir para o motorista dar uma parada, não há problemas quanto a isso. Não perca a oportunidade de fotografar, por exemplo, o Lago do Amor, não somente pela beleza do local como pela lenda da qual ele é o cenário. Contam os belgas que um rapaz se suicidou no local após ter sido recusado pela família da mulher amada, uma história tão romântica quanto o próprio clima da cidade.

Os passeios de carruagem partem da Grand Place, lindíssima, com prédios em estilo gótico onde os belgas e turistas se encontram para conversar e tomar uma cerveja com os amigos, mesmo nas noites mais frias. É bom lembrar que a Bélgica fabrica mais de 350 tipos de cerveja e é especialista em batata frita e mariscos, bons produtos para um aperitivo.

As paisagens e as rendas de Bruges

Daniele de Sisti

O outono é um período muito especial em toda a Bélgica. Bruges, por ser bastante arborizada, tem uma paisagem fantástica nesse período, o que acontece também durante o inverno. Além das praças, um dos locais que deixam os turistas boquiabertos e que fazem Bruges parecer uma tela de pintura é o jardim das casas de A Beguinage, fundadas em 1245 por Margaret de Constantinopla, condessa de Flandres. Foi lá que esposas e filhos dos homens que partiam para as cruzadas ficavam abrigados, vivendo em comunidade e praticando obras de caridade.

O turista pode visitar uma das casas de beguines. Estão abertas de dezembro a fevereiro, das 10h às 12h e das 14h às 16h e de março a novembro, das 10h às 12h e das 13h45 às 17h. O preço do ingresso individual é 2 euros.

Museu da Renda

No roteiro de Bruges deve ser incluído um programa bastante turístico – a visita ao Museu da Renda, situado à rua Jerusalém. Não se trata de um local com um grande acervo, mas vale a pena ser visitado para conhecer algumas peças que encantam pelos detalhes e delicadeza. Além disso, é uma boa oportunidade de assistir de perto ao trabalho de algumas rendeiras que passam a tarde no local. Só para se ter uma idéia do imenso trabalho e valor agregado à famosa renda belga, um centímetro rendado pode representar até quatro horas de trabalho.

Ao contrário dos famosos bordados da Ilha da Madeira, em Portugal, onde a nova geração não se interessa mais em dar continuidade ao trabalho dos antepassados, a renda da Bélgica não está correndo o risco de desaparecer em poucos anos. O aprendizado é passado de mãe para filha e ainda é comum ver mulheres bastante jovens se dedicando a uma peça. Um dia por semana são ministradas aulas a principiantes. O preço do ingresso no Museu da Renda é 1,50 euro por pessoa. O museu está aberto de segunda a sexta, das 10h às 12h e das 14h às 18h e sábados das 10h às 12h e das 14h às 17h.

A maioria das lojas de roupas do centro de Bruges vende peças de renda, uma mais encantadora que a outra, porém um alerta: é recomendável consultar o guia de turismo ou outro belga que não seja o vendedor da loja para saber qual é a renda de boa qualidade. Elas, em geral, são misturadas às de primeira linha. Não compre gato por lebre e pesquise o preço, pois há lojas caríssimas especializadas nesse artigo.

Outro ponto turístico interessante é a própriaPrefeitura da cidade, que funciona em um bonito prédio em estilo gótico. Porém, somente o primeiro piso é aberto à visitação pública, das 9h30 às 17h, de terça-feira a domingo. Preço por pessoa: 2 euros.

A jornalista viajou a convite da Belgian Tourist Office, Tourist Office for Flandres e Lufthansa.

Esta foi a segunda reportagem da nossa série sobre a Bélgica. Na próxima semana o foco será a cidade da Antuérpia.

Ao turista de primeira viagem

Daniele de Sisti

– Visite o Museu de Memling para conhecer as obras deste importante artista do século XII.

– Visite o Museu da Renda e conheça de perto todo o processo do tradicional trabalho das rendeiras, que é passado de geração para geração desde a Idade Média.

– A paisagem outonal de Bruges é lindíssima e fica para sempre na memória. Mas a cidade é um bom destino em todas as estações. Ao contrário de outros países europeus, a Bélgica não tem um inverno rigoroso.

– Assim como Bruxelas, Bruges tem também os restaurantes da rede Le Pain Quotidien, um ambiente muito agradável em que se pode experimentar diversos pratos típicos à base de frutos do mar, quiches e saladas deliciosas.

– Não esqueça de levar sapatos confortáveis. Andar pela cidade é, sem dúvida, a melhor forma de conhecer bem os pontos mais interessantes. Mas não deixe de fazer o passeio de carruagem para entrar no clima romântico da cidade, fazendo uma viagem ao passado.

– Trace um roteiro gastronômico que inclua pratos de mariscos regados à cerveja Straffe Hendrik e, de sobremesa, o chocolate belga. Se você quiser levar umas garrafas de cerveja belga para casa, uma boa dica é a loja de Bier Tempel, situada à rua Philip Stockstraat 7, 8000 (telefone 050-34 37 30). Lá você encontra as mais famosas cervejas (como Leffe e Jupiler), incluindo as fabricadas pelos monges trapistas.

– O melhor meio de transporte para ir de uma cidade a outra na Bélgica é o trem. Da estação central de Bruxelas a Bruges, o preço da passagem é 10,30 euros por pessoa. Há desconto para crianças, pessoas com mais de 65 anos e grupos. Mais informações estão no site www.nmbs.be.

– Por ser uma das principais cidades turísticas belgas, Bruges tem um grande número de hotéis: 104 no total, que somam 2.478 leitos.

– Onde ficar: Hotel Oud -Huis Amsterdam, situado à rua Spiegelrei 3, 8000. (www.oha.be). Além de ser um hotel bastante aconchegante, fica bem localizado: próximo à Grand Place e aos principais museus e pontos turísticos.

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