Transgênicos

Assunto do momento. Merecedor do maior estudo e observação. Leigos ou interessados emitem diferentes opiniões. Uns por simplicidade, outros por motivos às vezes de interesses pouco confessáveis. Escrevemos na condição de médico e também com ligações à agricultura.

Lemos por duas vezes o livro Futuro Roubado, escrito por três cientistas norte americanos. O livro foi prefaciado por Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos da América do Norte, posteriormente, como candidato a presidente, teve maioria, mas, perdeu para Bush dado a complexidade do sistema eleitoral norte americano.

Os autores do livro: Drs. Theo Colburg, Dianne Dumamoski e John Peterson Myers, tiveram seu livro prefaciado no Brasil por José Lutzemberger. Impresso no Brasil nas oficinas gráficas L&P.M, em 1997.

Lutzemberger, no parágrafo final de seu prefácio, escreve: “O texto que apresento no apêndice, na parte ?Colheitas e pragas?, a resposta está nos venenos? – traz também conhecimentos fundamentais para a fitosanidade e que ainda escapam ao conhecimento de muitos agrônomos. Estes conhecimentos, incluindo a teoria da Trofobiose, de Chaboussou, estão sendo bloqueados por interesses transnacionais. Espero, com isto, contribuir significativamente para a revolução necessária dando aos jovens idealistas o instrumento intelectual necessário para a continuação da luta para a qual eu, agora velho, já não tenho força física. Enquanto durar o intelecto estarei com eles”. José Lutzemberger, em 23-7-1997.

Al Gore, tem no seu prefácio, no parágrafo final: “?Futuro Roubado? é um livro de importância crítica, que nos força a fazer novas perguntas sobre os agentes químicos sintéticos que espalhamos pela Terra. Por nossos filhos e netos, precisamos urgentemente encontrar respostas. Cada um de nós tem o direito de saber e o dever de aprender”.

Trechos do Prólogo: parágrafo segundo – Os sete anos que Theo Colburn passou sintetizando as pesquisas existentes sobre alterações hormonais e a extensa base de dados que montou forneceram documentação científica para nossa iniciativa. O desafio de Dianne Dumamoski foi transformar a complexidade científica em uma história acessível para pessoas sem nenhuma experiência científica anterior. Dianne, que há vinte e cinco anos escreve sobre ciências políticas e ambientais, complementou estas informações através de entrevistas e levantamentos adicionais. O Dr. John Peterson Myers contribuiu com sua formação científica e sua experiência extensa em políticas ambientais nacionais e internacionais, adicionando mais uma dimensão valiosa ao nosso modo de ver as coisas.

Analisaram em conjunto o declínio das águias na costa leste do Canadá e Estados Unidos. O que poderia ter interferido no acasalamento? Lontras na Inglaterra. Vison no lago Michigan. Gaivotas no lago Ontário. Jacarés no lago Apkpe, na Flórida. Focas no norte da Europa. Golfinhos no Mediterrâneo. Espermatozóides na Dinamarca, justificando todas as mudanças de causas ambientais.

Os autores, por provas obtidas de animais silvestres, justificam as implicâncias prováveis à saúde humana.

Theo Colborn chamou a atenção para o perigo de agentes sintéticos hormonais que podem interferir no sistema endócrino. Estudaram gerações de camundongos. Não cabe aqui estudar o sistema endócrino, mas nós somos frutos de nossa regulação hormonal fornecido pelas nossas glândulas de secreção endócrina. Da regulação dele depende até nosso biotipo. Recordamos ainda de nosso tempo no segundo ano de medicina, em aula proferida pelo Professor Antenor Pânfilo dos Santos, um baiano negro, que foi mata mosquito em Salvador, aqui estudou medicina, foi professor e até diretor de Faculdade Médica. Foi também vereador, hoje é nome de rua brilhante. Eloqüente. Em aula de glândulas endócrinas falou de forma enfática: “vejam bem os senhores a influência de nossas glândulas endócrinas, feito levantamentos estatísticos nas penitenciárias, setenta por cento deles são hipertireóideos (aumento de função da glândula de secreção interna da tireóide que tem função endócrina) vítimas de uma fatalidade biológica. Nós somos frutos da regulação de nossas glândulas endócrinas. A soja transgênica é fruto de alterações genéticas na sua essência. Homens e animais têm uma semelhança evolutiva nos ambientes em que vivem.

Diz-se pesticida para matar as pestes. A indústria química que arrecada fábulas passou a usar o eufemismo de “defensivos”. No Brasil, a expressão é agrotóxico. As gigantescas corporações dos negócios agrotóxicos compraram quase todas as companhias de produção de sementes. Querem monopolizar os bancos genéticos para controlar a seleção de maneira a promover variedades que dão resposta unicamente aos seus insumos. Querem obrigar o agricultor a não mais produzir sementes próprias, para comprar sempre de novo sementes delas que já vem peletisadas com adubo químico, fungicida, inseticida, tornando-a resistente. Daí a necessidade de menor uso de agrotóxico habitual. Fácil de entender.

Do ponto de vista médico, a observação de que a natureza protege a todos os seus componentes, dando-lhes resistência quando sua integridade é ameaçada, pode ser exemplificado pela penicilina.

A descoberta da penicilina por Flemming foi acidental. Um acaso com a pessoa certa. Guardou algumas lâminas com colônias de bactérias na mesma gaveta com lâminas contendo fungos. Possivelmente, ao fechar a gaveta, uma lâmina de fungos caiu em cima de uma que tinha bactérias. Posteriormente, quando abriu a gaveta, observou que na lâmina que possuía bactérias elas estavam mortas. Foi do estudo desta coincidência que surgiu a penicilina. Maravilhoso do ponto de vista médico no combate às infecções. Uma dose apenas, de 400.000 unidades de penicilina curava qualquer gonorréia. Aí vem a mãe natureza. Com o correr do tempo, os diplococos causadores da doença foram adquirindo resistência. Surgiram novos antibióticos de largo espectro (com maior raio de ação) para tratamento e cura de doenças infecciosas. A gonorréia, que era curável com uma simples dose de 400.000 unidades, passou a ser resistente e hoje é uma doença de difícil tratamento dado a resistência que a natureza foi dotando os bacilos.

Na agricultura repete-se o fenômeno. Agrotóxicos de larga ação vão adquirindo resistência, daí não se poder imaginar que não surja o problema da resistência da soja transgênica de forma específica. Na Argentina e nos Estados Unidos da América do Norte, há relatos do surgimento de pragas imunes e é uma questão de tempo far-se-á necessário o uso de novos agrotóxicos eliminando a justificativa atual da economia.

Agora a questão do mercado. Países desenvolvidos não aceitam a soja transgênica na alimentação humana. A China, nosso grande importador, e outros países mais desenvolvidos também não a aceitam. No equilíbrio de mercado de procura e oferta, a demanda menor forçava a baixa do preço do produto. Acrescente-se a problemática de armazenagem especial quando temos problema já com a não-transgênica. Teria que haver armazéns específicos.

Louvável o comportamento do nosso Exmo. Governador do Estado, Roberto Requião de Melo e Silva, tentando isentar nosso Estado do plantio da soja transgênica.

Pouco louvável as declarações do Senador Osmar Dias que, abordando o assunto pela imprensa de forma favorável e de uma forma pouco elegante em relação ao ponto de vista contrário, igual ao nosso.

João Juglair Júnior

é médico e agropecuarista.

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