Tecnologia pode ajudar a combater a Dengue

Pode-se imaginar que o controle da dengue depende de campanhas de conscientização, fiscais nas ruas eliminando possíveis focos do Aedes aegypti, carros borrifando inseticida e outros métodos pouco complexos. Mas a tecnologia pode ser uma grande aliada no combate à doença. O geoprocessamento, também conhecido como SIG (Sistema de Informação Geográfica) ou GIS (do inglês Geographic Information System), facilita a identificação de locais com maior incidência da dengue – ou de qualquer outra doença -, permitindo que o combate seja focado nesses lugares.

A grande maioria das prefeituras, porém, ainda não utiliza a tecnologia.

E, das que utilizam, muitas a adquiriram apenas para processar informações relativas a loteamentos, para fins de otimizar a cobrança do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Mas alguns municípios estão começando a abrir os olhos para os benefícios que essa tecnologia pode trazer para a saúde dos cidadãos. Para o combate a doenças, o equipamento pode ser praticamente o mesmo utilizado nos levantamentos para o IPTU. Em soluções mais simples, é preciso apenas um software instalado em um computador e vários palmtops, que são utilizados pelo pessoal que vai às ruas. No software, são inseridos mapas das ruas e fotos aéreas ou de satélite. E quem vai às ruas com os palmtops vai marcando os locais onde encontra, por exemplo, focos do mosquito da dengue. ?Quando o fiscal chega na Prefeitura, conecta o palm ao computador e os dados são descarregados?, explica a analista de sistemas Paula Talmelli, da empresa Imagem, que provê soluções de SIG para governos municipais e estaduais.

?Muitas vezes as Prefeituras não têm equipes muito grandes. Assim, agiliza porque não precisa passar dados do papel para o computador.?

Depois de centralizados os dados, o trabalho fica simples. ?O software identifica os pontos em que há mais focos. Com isso, o governo pode verificar onde há falhas e determinar estratégias de combate e campanhas de prevenção nesses locais?, completa. A Prefeitura de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo (a cerca de 440 quilômetros a noroeste da capital) utiliza o geoprocessamento na área de saúde desde 2003. ?Para o controle da dengue, as informações são atualizadas diariamente e utilizados os dados para as ações de controle mecânico

e químicos nos casos suspeitos e positivos da doença?, explica a bióloga Amena Alcântara Ferraz, coordenadora do Setor de Controle do Aedes da cidade paulista.

O objetivo do município, segundo Amena, é agilizar a análise e monitoramento das ações, ?a fim de melhorar a qualidade do trabalho em campo e auxiliar as tomadas de decisão. Este é um ponto forte no trabalho em nossa cidade?.

Para trabalhar diretamente no geoprocessamento, São José do Rio Preto precisou contratar apenas três pessoas.

De acordo com Amena, o sistema ainda cobre todas as doenças de notificação compulsória, mortalidade infantil, violência, localização de poços artesianos com coleta de água e outros fatores.

Origem se deve à colera

Algumas formas bem menos complexas de geoprocessamento já são utilizadas há séculos. Mas a forma mais próxima da que conhecemos hoje foi utilizada pela primeira vez justamente para auxiliar no combate a uma doença. O responsável foi o médico inglês John Snow.

Sua intenção era mapear uma epidemia de cólera em Londres, em 1854. Usando um mapa, ele marcou as localizações de cada caso da enfermidade. Dessa forma, conseguiu encontrar o foco principal da doença, que era uma caixa d?água contaminada, ao redor da qual apareciam a maioria dos casos. Ele ainda ilustrou o trabalho com estatísticas que mostravam a conexão entre os casos da doença e a qualidade da água, e acabou convencendo a Prefeitura a desativar a caixa d?água. Em pouco tempo, a epidemia foi controlada. Esse estudo é considerado um dos grandes eventos na história da saúde pública. Por conta disso, Snow é considerado até hoje o pai da epidemiologia.

O SIG no Paraná

Em Curitiba, o geoprocessamento também é bastante utilizado, através do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Inicialmente concebido para o planejamento urbano, o uso já se disseminou para outras áreas. O engenheiro cartográfico Neudi Gritte, analista de sistemas do órgão, explica que, atualmente, a grande maioria das secretarias da cidade usa o sistema. Inclusive a de Saúde, através do setor de epidemiologia. ?É um sistema que pode ser usado para muitas finalidades?, diz. A capital paranaense é considerada uma das pioneiras do Brasil no uso do SIG. Já na década de 80, utilizava um sistema que é considerado por Gritte um avô do geoprocessamento atual. Segundo Gritte, o sistema atual é usado em Curitiba desde 1998. Outra cidade paranaense que utiliza bastante a tecnologia é Maringá, onde o SIG tem sido usado principalmente para o recadastramento imobiliário, planejamento de diretrizes viárias e cadastro de áreas de mata nativa, entre outros.

Onde o SIG pode ser utilizado

SEGURANÇA PÚBLICA

>> Gerenciamento de incêndios

>> Identificação de focos de criminalidade

>> Controle de ocorrências

>> Identificação de invasões clandestinas

OBRAS PÚBLICAS

>> Identificação de endereços

>> Cálculos de rotas inteligentes

>> Monitoramento e planejamento de vias

MEIO AMBIENTE

>> Identificação de áreas naturais favoráveis a deslizamentos

>> Caracterização da topografia

>> Gerenciamento de áreas de proteção

>> Controle da hidrografia do município

SAÚDE

>> Monitoramento de focos de doenças

>> Acompanhamento de focos em hospitais ou postos de saúde

>> Seleção de locais para controle de epidemias

PLANEJAMENTO URBANO

>> Identificação das tendências de expansão urbana

>> Identificação de ocupações clandestinas

>> Suporte ao sistema de tributação imobiliária (IPTU)

>> Gerenciamento das redes de água, esgoto e transportes

>> Planejamento do uso do solo do município

SERVIÇOS AO CIDADÃO

>> Localização de serviços públicos

>> Localização de pontos turísticos

>> Localização de endereços

>> Cadastro escolar e definição dos pólos de educação

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