Tecnologia de ponta no combate à adulteração

Em busca de um combustível mais puro, de melhor qualidade, portanto, menos poluente, o Departamento de Química (IQ) da Unicamp desenvolveu duas ferramentas para controlar a qualidade do combustível de maneira mais eficaz e com tecnologia de ponta. Enquanto uma delas se atém a formular métodos para testes, a outra se concentra especificadamente em projetos de equipamentos para substituir os existentes.

O professor Célio Pasquini, coordenador do Grupo de Instrumentação e Automação em Química Analítica (Gia) do IQ, relata que o primeiro equipamento é destinado a operar em bancada de laboratório. É mais complexo e de custo mais elevado. “Ele se destina à determinação dos parâmetros de qualidade de qualquer um dos combustíveis (álcool, gasolina e diesel), além de se encontrar em fase final de desenvolvimento e já ter um protótipo construído”, diz. “O outro equipamento, de baixo custo, se destina ao controle do álcool hidratado, diretamente nas bombas dos postos de abastecimento, monitorando a quantidade de água (adulterante mais comum para este combustível) e mostrando a qualidade do combustível para o consumidor. O protótipo está sendo avaliado, atualmente, no IQ da Unicamp”, complementa Pasquini.

Ele explica que ambos os aparelhos se fundamentam nos princípios da Espectrofotometria na Região do Infravermelho Próximo, que é técnica baseada na interação da radiação eletromagnética, (luz) não visível, com os constituintes dos combustíveis. A medida dessa interação proporciona a aquisição de informações que podem ser empregadas, por sua vez, na determinação dos parâmetros de qualidade dos diversos combustíveis. “Os instrumentos se servem de diversos componentes ópticos. Para o modelo de bancada, a tecnologia dos componentes é muita avançada, incluindo, por exemplo, filtros óptico-acústicos que selecionam a radiação na faixa do infravermelho próximo. Para o equipamento de baixo custo, componentes de menor complexidade são empregados para a seleção da radiação”, diz o professor.

As vantagens com a substituição da tecnologia ocorreriam principalmente pela possibilidade de se aumentar o número de análises feitas, reduzir seus custos e como conseqüência, ampliar as amostras de combustível coletadas nos postos. Isso, lembra Pasquini, “permite assegurar, a um custo menor, um controle mais efetivo da qualidade dos combustíveis, minimizando a ocorrência de adulterações”.

De acordo com o professor, as pesquisas foram desenvolvidas no sentido de dotar o País de tecnologia própria no que se refere à instrumentação moderna. A idéia de se empregar a técnica para o monitoramento da qualidade de combustível, não é inédita, e é desenvolvida em vários centros no exterior, tendo agora o Gia como um participante efetivo.

Os resultados obtidos até agora apontam que o instrumento de bancada construído pode vir a substituir cerca de seis outros equipamentos importados, hoje empregados na determinação dos parâmetros de qualidade de combustíveis. O instrumento de baixo custo destinado a aferir a pureza do álcool, opera fornecendo de forma clara ao consumidor a qualidade do combustível que está adquirindo, no momento do abastecimento.

Desenvolvimento leva dois anos

O professor Pasquini conta que “os equipamentos demoraram dois anos e meio para serem desenvolvidos com aporte financeiro do Fundo Setorial do Petróleo (CTPetro) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a um custo de R$ 170 mil e prazo de dois anos”. Segundo ele, até agora, os testes dos equipamentos foram realizados só no laboratório do Gia, a Unicamp”.

A comercialização dos equipamentos, esclarece o professor, depende de uma interação mais efetiva entre a universidade e setor produtivo. Para o caso do equipamento mais sofisticado, de bancada de laboratório e que se destina ao monitoramento de todos os combustíveis, há uma empresa de São Paulo interessada na sua produção. Para o instrumento de baixo custo, destinado ao monitoramento de qualidade do álcool combustível, não há interessados ainda. “Se comercializados, o equipamento de laboratório, de uso mais amplo e de alta tecnologia, deverá custar cerca de US$ 30 mil. O outro, dedicado e de aplicação direta nos postos de abastecimento, tem preço ao redor de R$ 600. A grande diferença de custo se deve a filosofia de um e de outro equipamento. O de aplicação nos postos deve ser de baixo custo, pois a intenção final é que todas as bombas de abastecimento tenham um deles para monitorar a qualidade do produto. O outro se destina a uso intensivo nos laboratórios e pode agregar um preço maior, pois os instrumentos que ele pode substituir, quando somados os seus custos, são muitas vezes mais caros”, explica Pasquini.

Hoje, no Brasil, o controle da qualidade dos combustíveis comercializados em postos é de responsabilidade da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que mantém programas e realiza testes nos estabelecimentos de todo o País. Para garantir que o índice de apenas 8% de adulteração de gasolina utilizada pelos brasileiros diminua ainda mais, a ANP estabeleceu convênios com 18 instituições envolvendo cerca de 250 profissionais, atuando no monitoramento da qualidade dos combustíveis em 18 estados além do Distrito Federal, compreendendo mais de 90% do total dos postos revendedores.

Até agora, este ano, foram realizadas 14.091 inspeções por parte da fiscalização. O resultado foi de 823 interdições de estabelecimentos e aplicação de 7.252 multas. Desse total, 736 foram pela venda de produtos fora dos padrões de qualidade estabelecidos. Entre as conseqüências mais diretas da fraude do combustível estão os diversos danos na mecânica dos veículos, sonegação fiscal e aumentos da poluição, principalmente nas grandes cidades. (CC)

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