Protocolo de Kyoto e efeito estufa

O envio de gases para a atmosfera deve movimentar mais de U$ 10 bilhões anuais, a pagar aos países em desenvolvimento, embora não se saiba como definir o valor. Há muitas especulações. O Protocolo de Kyoto estabelece que os signatários controlem o “efeito estufa” em 5% abaixo dos níveis de 1990, para reduzir a poluição no período entre 2008 e 2012. Há expectativa de que as economias dos países industrializados sofram conseqüências adversas, e com isso surgem resistências.

Tal medida representa redução de centenas de milhões de toneladas de gases e deve diminuir a incidência de doenças nas vias respiratórias, pulmões, coração e até de câncer. Registros de má qualidade do ar em São Paulo indicam 20.000 mortes por ano – desde 1992 as emissões de poluentes responsáveis pelo efeito estufa aumentam 9%.

Sader (1992, p. 142) analisa a luta entre economia e a tese ecológica. Observa: “Nunca na história da humanidade houve tanta riqueza, saber e poder, e nunca eles estiveram tão concentrados e, portanto, nunca se excluíram tantos homens do acesso a eles”.

A questão do meio ambiente está entre interesses diferenciados das forças sociais. Os protagonistas não obedecem fronteiras e as relações de poder estabelecem-se pelo volume dos capitais das corporações.

O fim da guerra fria fez surgir um ciclo de expansão do capitalismo nunca antes visto. Acentuou-se a inovação tecnológica revelada nas áreas da informática, biotecnologia e química fina. Um mundo novo elimina fronteiras e revela corporações do capital que transcendem governos, apontando caminhos para as relações entre os povos.

As nações enfrentam as novas relações econômicas. O mesmo Sader (1992, p. 142) observa que “[…] a ecologia terá que acertar suas contas com esse mundo, com essa realidade histórica que requer de forma indispensável a temática ecológica, mas que a precede, a transcende e a condiciona”.

A Administração de Informações sobre Energia dos Estados Unidos, conforme a Revista Veja (2002, p. 34), diz que o país mandou ao espaço em 1980 1,8 bilhão de toneladas de dióxido de carbono, a partir do consumo de combustíveis fósseis. Em 2000 essa emissão foi de 1,83 bilhão de toneladas. Informa ainda: “Os Estados Unidos são o país que mais emite gases responsáveis pelo efeito estufa. As emissões americanas per capita superam as de qualquer outro país do mundo”.

O direito de poluir está acima de objeções. O marketing cria desejos artificiais para que o crescimento industrial se consolide e não interrompa a marcha. Até os mecanismos de vendas no varejo apresentam financiamentos cada vez mais sedutores – o hábito de compra deve ser repetitivo.

Como diz Schwarz (1990, p. 28): “[…] e depois precisamos comprar remédios, para tratar os efeitos negativos do processo. Entre esses efeitos incluem-se o estresse urbano, a exaustão, a depressão e as doenças causadas pela poluição; todos esses males, por sua vez, nos obrigam a ser consumidores de serviços de saúde e de férias, e assim cumprirmos nosso dever de fazer aumentar o produto nacional bruto”.

Os Estados Unidos não ratificaram o Protocolo de Kyoto e estimam que suas taxas de emissão, segundo relatório recente, devem aumentar em 43%, até 2020. Esta conjectura apóia-se em programas industriais das companhias texanas de petróleo e automobilísticas. A par disso, os principais órgãos de imprensa do Brasil registram que países industrializados do hemisfério norte foram responsáveis por 61% das emissões de dióxido de carbono (CO2) em 1995, ao mesmo tempo em que a sua contribuição ao estoque histórico de CO2 na atmosfera foi de 80%. É importante pensar-se a respeito.

BIBLIOGRAFIA: SADER, Emir et al. Ecologia, ciência e política. Rio de Janeiro: Editora Revan. 1992; O ESTADO DO PLANETA. Veja edição especial n.º 22. São Paulo: Editora Abril. 2002; SCHWARZ, Walter e Dorothy. Ecologia: alternativa para o futuro. São Paulo: Paz e Terra. 1990

Alexandre Silva S. Lôbo

é professor, consultor, doutor em Ciência do Meio Ambiente, mestre em Sociologia, pós-graduado como analista do Desempenho Escolar e graduado em Sociologia e Política e Administração Pública.

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