Plutão, um planeta maior ou menor?

Plutão apresenta numerosas características comuns aos asteróides que circulam além da órbita de Netuno. Sua trajetória corta a órbita de um outro grande planeta: Netuno. Plutão está submetido à influência de Netuno, tendo em vista estar em ressonância 2.3, ou seja, Plutão efetua duas voltas completas ao redor do Sol, quanto Netuno efetua três voltas completas. Aliás, Plutão possui uma órbita muito alongada (E=0,246) e seu plano orbital é muito inclinado (17º) em relação aos outros planetas, o que o aproximam muito dos objetos do Cinturão de Kuiper do que de um planeta. Por outro lado, Plutão também é muito pequeno (cerca de 2.250km), menor que o nosso satélite natural, a Lua (3.476km) e que os quatro satélites maiores que Júpiter, o de Titã que órbita ao redor de Saturno ou ainda de Tritão, satélite de Netuno. No entanto, Plutão é muito esférico como os outros planetas, possui uma atmosfera e apresenta estações. Mas alguns grandes asteróides se apresentam igualmente como um corpo esférico e alguns satélites, como Titã, possuem atmosfera mais espessa do que a de Plutão. As recentes observações têm mostrado que os outros asteróides possuem também os seus próprios satélites como, por exemplo, 243 Ida ou asteróides rasantes à Terra (69.230 Hermes, por exemplo).

Atualmente, não há dúvida, na visão de numerosos astrônomos profissionais ou amadores, que Plutão não é mais que um dos representantes, um dos maiores, dos objetos que circulam além da órbita de Netuno, ou seja, um transneptuniano. A descoberta de um objeto de um diâmetro superior a Plutão poderia ter como conseqüência, um questionamento relativo ao status de Plutão; um status que não se tem mais como sustentar, desde a descoberta de objetos tais como 2002LM60, denominado Quaoar (1.250km), 2004DW, denominado Orcus (com um diâmetro entre 1.010 e 2260km), e 2003VB12, denominado Sedna (com um diâmetro entre 1.700 e 2000km).

Para complicar a discussão, não existe uma definição oficial para os planetas, e a descoberta de objetos importantes nas fronteiras do sistema solar levanta regularmente a questão sobre o status desses novos objetos em relação a Plutão e vice-versa.

A história nos mostra que a destituição de status de Plutão não será o primeiro. Quando da descoberta em 1801, pelo astrônomo italiano Giuseppe Piazzi, do pequeno planeta Ceres, foi lhe atribuída o status de planeta, em igualdade com Marte e Júpiter. Somente depois de quase meio século que em virtude do número crescente de descobertas desses objetos nesta mesma região do sistema solar, ou seja, entre Marte e Júpiter, que a comunidade astronômica internacional decidiu considerar Ceres como um dos membros, o maior deles, do cinturão principal dos asteróides e, desde então Ceres foi destituído da sua condição de planeta de maneira justa.

2003 UB313, um décimo planeta ou transnetuniano?

Até julho, nenhum dos objetos encontrados ultrapassava as dimensões daquele que a qual se atribuiu o título de nono planeta: Plutão. As descobertas sucessivas, no limite do sistema solar, de Quaoar (1.200km), em 2002; do Sedna (1.600km), em 2003; do Orcus (1.500km) em 2004, levaram os astrônomos a supor que não duraria muito para que se encontrasse um objeto de dimensões equivalentes ou superiores a Plutão nesta região do espaço. As descobertas anunciadas no último mês no mesmo dia em que 2003 UB313, de 2003, 2003 EL61 (maior do que 1.800km), de 2005FY9 (entre 1.100 e 1.800km), parecem confirmar as suspeitas. Esses três últimos objetos recentemente anunciados são os três maiores asteróides conhecidos até hoje, sendo que o 2003 UB313 possui mesmo uma dimensão superior à de Plutão segundo algumas estimativas.

O que se reserva para Plutão nas próximas semanas? A confirmação do seu status de nono planeta ou a sua reclassificação entre os pequenos planetas ou asteróides? Da resposta a estas questões depende também a sorte do 2003 UB313. É necessária uma definição mais precisa de planeta.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão fundador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual hoje é pesquisador titular, sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e autor de mais de 70 livros, entre outros, do ?Explicando a Teoria da Relatividade?.

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