Para onde a crise levará o mercado de tecnologia?

Criatividade será a chave para o setor de Tecnologia da Informação (TI) conseguir novas oportunidades durante a crise financeira mundial. A área deve continuar crescendo em 2009, porém, em um ritmo menor. Pelo menos essa é a opinião da consultoria IDC (International Data Corporation), que na semana passada divulgou um estudo em que prevê, para a América Latina, um crescimento “saudável”, mas em níveis “notadamente menores” que os 15% projetados para 2008 divulgados em outubro pela entidade, antes da crise do mercado financeiro se abater sobre o mundo. O panorama mundial na área também não é bom: o gasto em TI deverá crescer, ano que vem, 2,6%. Em agosto, antes da crise, o mesmo IDC previa um índice de 5,9%.

O impacto desses números no Brasil deve ser grande. Isso porque o País representa – ainda segundo o IDC – 45% dos investimentos totais em TI em toda a região. O segundo lugar é do México, com distantes 20%. Especialistas da área no Brasil seguem o pensamento do IDC. E eles acrescentam que também não é de se esperar que o País desponte agora em inovação, já que os investimentos em pesquisa, que sempre foram escassos por aqui – seja por iniciativa pública ou privada -, não devem aumentar.

“O foco do mercado brasileiro é em software. Nesse setor, a tendência é que sofra menos com a crise. Sofre, mas menos”, analisa o economista e coordenador dos cursos de graduação tecnológica da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), Celso Poderoso. “O Brasil é visto como um grande prestador de serviços na área. Com o dólar caro, o nosso serviço ficou muito mais barato para outros países consumirem”, completa.

A opinião do presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), Antonio Carlos Gil, vai no mesmo sentido. Para ele, a crise é uma oportunidade para a área de TI. “As empresas vão precisar mais da Tecnologia da Informação para reduzir custos e controlar a organização”, avalia. “E se a taxa cambial continuar nessa faixa, o Brasil estará mais competitivo.”

O diretor-presidente da regional paranaense da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet (Assespro-PR), Luís Mário Luchetta, tem opinião semelhante: “O mercado de TI tem algumas particularidades. Em momentos de crise, por exemplo, muitos segmentos buscam a tecnologia para encontrar saídas de gestão e redução de custos”, diz.

Obstáculos

Mas há pelo menos uma pedra no caminho das empresas brasileiras da área: países com mão-de-obra extremamente barata, como Índia e China. Luchetta aponta uma solução para isso: “Não temos como competir com eles em preço, mas sim em criatividade nas soluções de software”. Mesmo assim, o executivo ainda tem pelo menos uma ressalva: “A falta de crédito afeta, senão as empresas de TI, as empresas que as contratam”.

Já Poderoso pensa que as empresas podem até adiar, com a crise, a compra de novos softwares, mas a possibilidade de economizarem muito mais com os benefícios trazidos pelos programas pode acabar falando mais alto. “A tendência é que investimento em software racionaliza processos e implica em menos pessoas alocadas”, afirma. Outra vantagem, para ele, está no fato que empresas de desenvolvimento de software não precisam de grandes investimentos. “Dificilmente isso acontece”, ressalta.

Alguns setores sofrerão mais que outros

Divulgação
Com o dólar c,aro, o nosso serviço ficou muito mais barato para outros países consumirem. Celso Poderoso, economista e coordenador da Fiap.

O panorama não é o mesmo, porém, para empresas com foco em pesquisas e inovação. “Principalmente quem faz pesquisas – aquelas que criam novos produtos, como microprocessadores e componentes – vai enfrentar dificuldades, porque isso é caro, e o investimento demora a retornar”, prevê Celso Poderoso, da Fiap. Essa situação, porém, vale apenas se for considerado um panorama global. “No Brasil isso não afeta tanto, porque tem muito pouco investimento aqui”, completa. “Essa é uma área em que somos extremamente fracos”, opina Antonio Carlos Gil, da Brasscom. Ele diz que instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) têm começado a oferecer linhas de crédito nesse setor, porém não ainda o suficiente para tornar o País competitivo internacionalmente. “A gente deve ser um pouco mais agressivo nessa área. Mas é uma questão de longo prazo”, avalia.

Incubadas

De acordo com Poderoso, empresas incubadas estão entre as que tendem a sofrer mais com a crise na área de TI. “O investimento precisa de retorno. Empresas incubadas, mesmo tendo grande potencial e tecnologia, trazem uma incerteza quanto ao retorno do investimento e, por este motivo, este tipo de empresa sentirá mais os efeitos da crise”, afirma.

Se o capital vem de órgãos oficiais, porém, Poderoso não vê a mesma situação. “Não imagino que o governo tiraria dinheiro dessas empresas”, pondera.

Paraná

No Paraná, a situação do mercado de TI para o ano que vem não deverá ser muito diferente do panorama nacional, com crescimento em menor ritmo. A avaliação é do diretor-presidente da regional paranaense da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet (Assespro-PR), Luís Mário Luchetta. Segundo ele, o Estado tem 165 empresas que se destacam na área. E pelo perfil delas, de desenvolvimento de soluções em setores como gestão de governo, tributária e de recursos humanos, não há porque pensar que a crise deva atingí-las a fundo. Incentivos do BNDES e o costume em já trabalhar com pouco investimento também podem, segundo Luchetta, ser grandes aliados dessas empresas. “As pequenas e microempresas sempre sofreram muito com a falta de investimento, e passaram a desenvolver apenas com clientes contratando”, aponta.