Foto: Divulgação

Segundo os antigos, o retângulo representava o corpo do mitológico caçador Órion, e as Três Marias eram o seu cinturão.

continua após a publicidade

As noites quentes de verão têm um atrativo especial no Brasil. Devido à inclinação da Terra, nesta época, a mais bonita constelação no céu – Órion – coloca-se exatamente sobre o equador celeste. Isso significa que esse faiscante conjunto de estrelas -entre as quais figuram as populares Três Marias – aparece bem diante da vista, a meio caminho entre o horizonte e o alto do céu. Por ser tão fácil de achar, é um bom alvo para quem está começando a deslindar os segredos e as maravilhas da Astronomia. A constelação contém sete estrelas principais: quatro delas formam um retângulo em cujo centro situam-se as Três Marias. De acordo com a descrição dos antigos, o retângulo representava o corpo do mitológico caçador Órion, e as Três Marias eram o seu cinturão.

Além disso, a região é densamente povoada por objetos, como a Grande Nebulosa de Órion, uma imensa nuvem de gás em expansão. Trata-se de um dos raros fenômenos desse tipo que se pode ver – ainda que fracamente – a olho nu. Observada com um telescópio ou mesmo com um binóculo, ela toma a forma de uma mancha difusa, de intensa coloração verde-azulada (muitas fotografias mostram-na com outras cores, mas tal efeito é artificial). Sua luz fria, do tipo fluorescente, é emitida por gases energizados por estrelas jovens e quentes – especialmente as do Trapézio, um grupo de seis pares de astros, reunido bem no centro da nuvem. Com um pequeno telescópio, não é difícil encontra-la.

A Grande Nebulosa situa-se logo acima das Três Marias, cujas estrelas têm os nomes árabes de Mintaka (a da esquerda), Alnilam (do meio) e Alnitak. Essas posições estão invertidas, no mapa, porque o desenho tradicional das constelações foi feito pelos povos do Hemisfério Norte: no Hemisfério Sul, as figuras parecem estar de cabeça para baixo. Alnitak é um astro do tipo gigante, situado a uma distância de 1.108 anos-luz (um ano-luz mede aproximadamente 10 trilhões de quilômetros). Alnilam, distante 1.206 anos-luz, era, para os árabes, a ?pérola? de Órion, e merece, com certeza, essa designação. Mintaka, finalmente, é um tipo raro de estrela e desdobra-se em um interessante sistema duplo, quando visto através das lentes.

A estrela mais brilhante do Órion, situada abaixo e à direita das Três Marias, é Betelgeuse, uma supergigante vermelha (cujo diâmetro é 250 vezes maior que o do Sol). A segunda em fulgor é Rigel, diagonalmente oposta a Betelgeuse na constelação. Ao contrário da primeira, é azul, quase branca, e relativamente quente: tem uma temperatura superficial de 13.500 graus, contra os 5.500 do Sol. Como Mintaka, vista ao telescópio, desdobra-se em um sistema duplo. Fechando o retângulo vê-se Belatrix, no canto inferior esquerdo, e, na ponta superior, Saiph. Esta última, apesar de comparativamente pálida, é, na realidade, um sistema triplo que órbita em torno de um centro comum.

continua após a publicidade

Não muito distante de Órion, vê-se outra constelação de destaque das noites de verão – o Cão Maior. Sua estrela mais importante é Sirius, a mais brilhante do céu e a sexta mais próxima do Sol (está a uma distância de 8,5 anos-luz). Por ser fácil de encontrar, ajuda a achar objetos interessantes nas vizinhanças: por exemplo, as sete estrelas dispostas em semicírculo, junto a Wezen, a Delta do Cão Maior.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 80 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007.Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com.

continua após a publicidade