O terrorismo de Estado

Durante a Segunda Guerra Mundial, vários países, dentre eles a Alemanha, tentaram desenvolver uma bomba atômica. Vários físicos fugiram da Alemanha nazista e se refugiaram nos EUA. Os soviéticos também realizaram experiências, pesquisas com o mesmo objetivo. No entanto, foram os norte-americanos que desenvolveram a tecnologia que permitiu a construção da primeira bomba atônica. Fizeram os pequenos ensaios no deserto do Novo México, durante o verão de 1945. Desse teste, ficou evidente que os efeitos mortais dessa arma superava todos os outros precedentes. A nação norte-americana era o primeiro país no mundo a possuir uma arma de destruição maciça. Henry Truman se vangloriou da posse dessa arma para impressionar Stalin diante da Conferência de Postdam.

A utilização dessa nova arma tem provocado interpretações históricas muito polêmicas. Para alguns historiadores, os norte-americanos só a utilizaram contra os japoneses com a finalidade de intimidar os soviéticos, que não desejavam que o conflito no Extremo Oriente se prolongasse por um tempo suficiente para que a sua participação se tornando importante pudesse participar da ocupação. Estas idéias sugerem que os problemas políticos e diplomáticos do uso da bomba se tornariam uma espécie de terrorismo de Estado, segundo o qual os países que a possuíssem teriam meios de pressionar os países que não as possuíssem. Em conseqüência dessa posição, deu-se início, no mundo inteiro, a uma corrida para a dominação das tecnologias referentes às armas nucleares.

Não há duvida de que o presidente dos Estados Unidos, ao fazer o uso da bomba, procurou demonstrar a superioridade americana no plano militar. Tudo parece indicar, segundo alguns historiadores, que a utilização da bomba objetivava impedir uma eventual intervenção dos soviéticos no território japonês. Desse modo, os norte-americanos afastavam a influência soviética no território asiático.

Releva salientar que a utilização de uma única bomba seria largamente suficiente para demonstrar a sua superioridade. Desse modo, a segunda bomba, à qual deveriam seguir-se várias outras, se o Japão recusasse aceitar a rendição, parece confirmar a vontade dos EUA de colocar fim a um conflito muito dispendioso sob o ponto de vista da perda de vidas humanas. O general MacArthur, que seria mais tarde o comandante da tropa de ocupação, era a favor de uma estratégia mais radical em relação aos japoneses.

Razões para duas catástrofes nucleares

As razões que conduziram Truman à primeira catástrofe nuclear passaram a ser estudadas pelos historiadores norte-americanos, que levantaram várias questões. Valeu a pena ganhar a guerra contra o Japão recorrendo às armas atômicas? Se isso foi necessário, quais os objetivos reais que levaram Henry Truman e seus conselheiros? Não procuraram eles ao matarem milhares de japoneses, provocar medo aos soviéticos, uma vez que a guerra fria era inevitável? Essas acusações graves se baseavam freqüentemente em argumentações ambíguas e confusas.

Uma tendência dos historiadores revisionistas nos anos 60 do século passado, que não tinham nenhuma simpatia pelos nazistas, japoneses ou soviéticos, mas que não acreditavam nas boas intenções dos EUA, sugeriam que Washington tenha sido o iniciador da Guerra Fria. Seu raciocínio se apóia em algumas boas questões:

Por que os Estados Unidos não tentou recorrer aos bombardeios convencionais, antes de decidir pela destruição atômica de Hiroshima e de Nagasaki?

Por que os responsáveis políticos não escutaram os peritos que asseguravam estar no Japão prestes a assinar a sua rendição, antes do fim de 1945, mesmo se a bomba não fosse empregada, mesmo que a Rússia não entrasse na Guerra e mesmo que não se desembarcasse no arquipélago japonês?

Por que bombardear Nagasaki, três dias depois de Hiroshima, se a primeira bomba foi suficiente para convencer o Japão nos terríveis efeitos da bomba?

Por que o presidente dos Estados Unidos adotou uma atitude intransigente em relação à Tóquio, especialmente no que se refere à manutenção eventual do imperador Hirohito, depois do sucesso do primeiro teste da bomba atômica no deserto do Novo México?

Por que, depois do fim de julho, não queria a ajuda soviética?

Durante a reunião de Potsdam, ao tomar conhecimento através do presidente Truman de que os Estados Unidos possuíam uma nova arma, Stalin desejou que os Estados Unidos fizessem bom uso dela contra o Japão. Truman agiu como Roosevelt, dava pouca informação aos soviéticos, o mínimo de cooperação. Aliás, não tardou muito para que fosse proposta um controle internacional do uso do átomo, decisão que os soviéticos não aceitaram.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é fundador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual hoje é pesquisador titular, sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e autor de mais de 70 livros, entre outros, do ?Explicando a Teoria da Relatividade?.

O que as pessoas sabem sobre Hiroshima?

A maior parte da população do mundo pouco conhece da história de Hiroshima e Nagasaki. O povo norte-americano, em especial os veteranos da Segunda Guerra Mundial, permanecem ainda convencidos de que a bomba atômica lhes salvou a vida. O que a maior parte dos norte-americanos conhecem sobre Hiroshima constitui um mito. Aliás, esta posição de desconhecimento da população norte-americana não é só relativa a este assunto, mas a todos os eventos históricos.

A importância deste último ato da Segunda Guerra Mundial é que ela constitui o prelúdio dos 40 anos da guerra fria. Este evento que determinou o fim da Segunda Guerra Mundial constitui um conjunto de crenças que permite compreender melhor as crises pela quais estamos passando atualmente no Oriente Médio. Se a opinião pública norte-americana considerou, induzida pela propaganda governamental que o massacre de 200 mil civis em Hiroshima e Nagasaki, na maior parte de mulheres, crianças e pessoas idosas sem arma, não havia sido necessária, sua percepção moral de sua população e de sua nação se encontra totalmente desestabilizada. Nessas condições, sugere-se que o presidente Harry Truman não disse toda a verdade sobre as motivações da sua decisão.

Conclusão-Holocausto

A prova de que o objetivo não era terminar a guerra levando o Japão à rendição está no fato de que a escolha do Japão foi feita, em 5 de maio de 1943, pelo Comitê de Política Militar do Projeto Manhattan; a escolha de Trinity no Oceano Pacífico, em fevereiro de 1945; o Comitê de Alvo do Projeto Manhattan selecionou quatro cidades como possíveis alvos para a bomba atômica: Kyoto, Hiroshima, Kokura e Niigata, em 27 de abril de 1945, quando os bombardeios nessas cidades são suspensos e é decidido que o bombardeio B-29 permitisse uma visão da região a ser bombardeada; a segunda reunião do Comitê de Alvo em Los Alamos decidiu que os primeiros alvos para um bombardeio com armas nucleares poderiam ser as cidades de: Kyoto, Hiroshima, Yokohama, e o arsenal de Kokura, em 10 de maio de 1945. O interesse dos Estados Unidos era, sem dúvida, fazer uma experiência para avaliar o poder destruidor da armas desenvolvidas sem nenhum respeito às vidas humanas civis, conforme as próprias declarações assinadas em 26 de julho de 1945, há exatamente 60 anos – pelos representantes de 50 nações reunidas em São Francisco, quando foi assinada a carta de princípio das Nações Unidas, cujo primeiro objetivo era o de resguardar as gerações futuras do flagelo da guerra. Foram inúteis as lutas desenvolvidas por L. Szilard desde de 25 de maio de 1945 pessoalmente junto a Truman e mais tarde, em 17 de julho de 1945, quando entregou ao presidente Truman uma petição contra o uso de armas nucleares assinada por 70 cientistas. A prova de que o que interessava os resultados da avaliação está no próprio lançamento da bomba que seria dirigida a Kokora, mas que foi substituída por Nagasaki, pois o alvo estava completamente encoberto. Diante desses fatos, cabe ao leitor julgar que não se tratava de um ato contra os princípios de qualquer religião ou credo ou, para aqueles que não acreditam em um ente superior, mas que acreditam no sofrimento humano, pois ali morreram civis dentre eles, crianças, mulheres e idosos. Esperamos que isso nunca se repita. E nesse momento devemos ter uma admiração especial pelo húngaro Leo Szilard, que lutou até o último instante para que essa tragédia não tivesse lugar. (RRFM)

Um dos pais da bomba atômica

Szilard era conhecido pelos seus colegas como um questionador ativo e excêntrico, que gostava de perturbar os seus colegas com questões estranhas, aparentemente inconcludentes, mas, na realidade, de grande perspicácia e que revelavam a sua natureza de cientista livre sobre todos os aspectos: político e científico.

Nascido em Budapeste, na Hungria, em 11 de fevereiro de 1898, o físico e biologista molecular era excelente em suas previsões políticas. Ainda jovem, previu a primeira Guerra Mundial, vários anos antes. Por ocasião do surgimento do nazismo, anunciou aos amigos que, um dia, os nazistas iriam controlar toda Europa. Em 1934, previu com detalhes a Segunda Guerra Mundial.

Antes de fugir da Alemanha para Londres, em 1933, para escapar das perseguições nazistas, tinha por hábito viver em hotéis, sempre com uma valise pronta para uma eventual viagem. Foi nessa cidade que leu um artigo do físico inglês Ernest Rutherford (1871-1937), no Times, de Londres, que, além de negar toda possibilidade de extrair a energia nuclear, considerava esta pretensão como idéia de lunático. Em oposição a esta conclusão pessimista, acreditava na idéia de que seria possível extrair a energia nuclear, como base na equação de Einstein: E = mc2.

A possibilidade de uma reação nuclear em cadeia surgiu em 12 de setembro de 1933, em Londres, quando Leo, ligeiramente irritado, em virtude da manhã cinza muito depressiva, esperava o sinal vermelho, na esquina de Southampton Row com Russell Square, próximo ao British Museum, em Bloomsbury.

Pode parecer uma coincidência, mas, como confessou mais tarde, Leo acreditava ter sido influenciado pela leitura da profecia de uma bomba atômica de grande poder de destruição, imaginada pelo escritor inglês H.G. Wells, em seu conto de ficção-científica The World Set Free (1914). Apesar de não ter um grande sucesso de venda em relação às suas outras obras, sugere que a crítica de Jules Verne – de que Wells inventava – parece ter influenciado o escritor inglês que, nesta previsão, baseia-se nas recentes descoberta da radioatividade:

Nada pode ter sido mais óbvio para o povo do inicio do século XX, que a rapidez com a qual a guerra tornar impossível… [mas] ela não foi vista assim até as bombas explodirem nas suas mãos impotentes.

Leo leu o livro de Wells, em 1932, e concebeu a idéia de uma reação em cadeia em 1933, tendo registrado a patente dessa descoberta em 1934. No ano seguinte, depositou uma patente sobre essa questão. Logo em seguida, tentou criar uma reação em cadeia, usando os elementos berílio e índio, sem sucesso. Em 28 de junho de 1934, registrou sob a patente U.K. 63.726. Em 1936, patenteou a reação nuclear em cadeia para o almirantado britânico, assegurando o segredo.

Em 1938, Szilard foi convidado para ser professor na Universidade de Columbia, em Manhattan, quando passou a residir em Nova York. Mais tarde, o físico italiano Enrico Fermi (29/09/1901-29/11/1954), Prêmio Nobel da Física de 1938, juntou-se à sua equipe. Depois de estudar a ficção nuclear, em 1939, concluiu que o urânio seria o elemento capaz de manter uma reação em cadeia. A patente deste reator nuclear foi registrada sob o número United States Patent 2708656.

Szilard, considerado um dos pais da bomba atômica – sem dúvida, foi um dos cientistas responsáveis pela criação e desenvolvimento do projeto Man- hattan Engineering District um dos maiores empreendimentos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial destinados a desenvolver armas nucleares para os Estados Unidos, com a assistência da Inglaterra e do Canadá , quando concebeu a idéia de enviar uma carta confidencial ao presidente Franklin Roosevelt, na qual, alem de expondo que os físicos alemães estavam construindo armas nucleares, procurava encorajá-lo para que desse início imediato ao desenvolvimento desse programa. Urgia que o governo desse início a um programa idêntico, com risco de perder a guerra. Para conseguir o apoio do governo norte-americano, escreveu a carta que foi endossada e assinada por Albert Einstein, seu professor em Berlim e colaborador em alguns projetos científicos. A carta foi entregue em 2 de agosto de 1939.

Com o início do Projeto Man- hattan, transferiu-se para a Universidade de Chicago, para continuar as pesquisas relativas a bomba, já então com a colaboração de Fermi, quando foi produzida a primeira reação nuclear de fissão controlada, usando como combustível o urânio e barras de grafite como moderador, na realidade, o primeiro reator nuclear capaz de manter uma reação nuclear sob controle. Com a continuação da guerra, Szilard tornou-se um dos principais cientistas a colaborar com o desenvolvimento do projeto da bomba atômica sobre a orientação científica do físico Robert Oppenheimer e do engenheiro militar Coronel Leslie R. Groves.

À medida que os estudos avançavam, sua preocupação ia aumentando, ao descobrir que as armas nucleares iriam possuir um poder de destruição superior a de qualquer outra até então conhecida. Ele esperava que a bomba fosse usada unicamente para forçar os alemães e os japoneses a se renderem e que jamais fosse usada contra a população civil. Em conseqüência, sua preocupação na preservação da vida humana levou-o a se opor ao bombardeio das populações civis; em 25 de maio de 1945, tentou convencer pessoalmente Harry Truman, presidente dos EUA, depois da morte Roosevelt, do perigo do uso das armas nucleares. Não tendo obtido sucesso, redigiu uma petição, assinada por setenta cientistas e dirigida ao presidente Truman, entregue em 17 de julho de 1945, no qual solicitava que a bomba não fosse usada como arma de destruição, tendo em vista o seu poder destruidor. No entanto, o presidente resolveu usá-la a despeito do protesto de Szilard e de 69 outros cientistas que colaboravam com o projeto.

O lançamento da bomba em Hiroshima e Nagasaki, além de provocar a destruição total de Hiroshima e parcial de Nagasaki, provocou a morte de 300 mil civis japoneses. Antes da guerra, assim como seu professor e amigo Einstein, Szilard havia considerado os Estados Unidos como o governo mais democrático e da liberdade, em especial a liberdade na transmissão das idéias e verdadeiramente humano no mundo, razão pela qual tinha escolhido ao naturalizar-se em 1943.

Decepcionado com as pesquisas de armas nucleares, em 1945, decidiu dedicar-se à biologia molecular e passou os seus últimos de vida como membro do Salk Institute em São Diego. Morreu dormindo de um infarto em La Jolla, Califórnia, em 30 de maio de 1964. (RRFM)

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