Mistérios de Sedna; o décimo planeta?

O pequeno planeta 2003 VB12, batizado Sedna, em homenagem à deusa dos oceanos na mitologia dos esquimós do Ártico – é o primeiro maior e mais distante objeto visto desde a descoberta de Plutão em 1930. Realmente, Sedna é o objeto mais afastado do Sol circulando ao seu redor em uma distância três vezes superior a da Terra a Plutão.


Sedna foi descoberto em 14 de novembro de 2003 pelos astrônomos Michael Brown, do Caltech, Chad Trujillo, do Gemini Observatory, e David Rabinowitz, do Yale Observatory, por intermédio do telescópio Samuel Oschin de 1,2m de abertura do Observatório do Monte Palomar do Caltech, próximo da cidade de San Diego, Califórnia. O objeto foi encontrado também em fotografias obtidas em 2001 e 2002. A confirmação da descoberta foi realizada pelos telescópios dos observatórios situados no Chile, na Espanha, em Arizona e no Havaí. A equipe do RHP SpaceGuard composta de Roberto Haver e Andrea Pelloni, com o precioso auxilio do professor Giuseppe Forti do Observatório de Arcetri, reencontrou 2003 VB12 em duas imagens obtidas no DSS-2 em 1990.

Sedna provém da hipotética nuvem de Oort?

É provavelmente a primeira detecção da hipotética nuvem de Oort, um reservatório distante de pequenos corpos gelados, imaginados pelos astrônomos holandeses Jan Hendrik Oort e Adrianus van Woerkom em 1950 para explicar a origem de numerosos cometas de longo período que circulando a grandes distancias sem direção preferencial, cruzam regularmente as vizinhanças da Terra. Esta nuvem de forma esférica difusa envolve o Sol esta situada a meio caminho de Alfa do Centauro, a estrela mais próxima do astro do dia. Sobre o efeito da perturbação gravitacional induzida pelas estrelas vizinhas, alguns núcleos cometários são ejetados fora do sistema solar enquanto outros, ao contrario, são lançados em direção ao interior, quando então ao se aproximar do Sol se tornam visíveis. Aceita-se que a nuvem de Oort situa-se teoricamente a distancia de aproximadamente 50.000 UA do Sol.

A região interior – não esférica – da nuvem de Oort foi definida como sendo composta de objetos que descrevem órbitas em media 2.000 e 15.000 vezes a distancia da Terra ao Sol. A nuvem de Oort pode ter se formado em virtude da ação gravitacional de uma estrela que passou próximo ao Sol, quando o Sistema Solar estava ainda nos primeiros estágios de sua formação. Nesta época, a região era povoada de asteróides; alguns deles das dimensões de Plutão (2.350km).

No entanto, o planetóide Sedna está situado a uma distancia muito próxima daquela prevista para a nuvem de Oort. Descoberto á distancia de cerca de 13,5 bilhões de quilômetros (90 UA) do Sol, o Sedna circula sobre uma órbita elíptica que o reconduz

todos os 12.260 anos a uma distancia de 11,3 bilhões de quilômetros (75UA) do Sol, quando de sua passagem ao periélio – a próxima ocorrerá no ano de 2076 -, e o conduz a mais de 148 bilhões de quilômetros ( 987 UA) em seu retorno ao afélio, ou seja ao ponto mais afastado ao Sol.

Não se pode considerar o Sedna como um membro do KBO – Kuiper Belt Object, ou seja, um objeto do cinturão de Kuiper – faixa de asteróides gelados situados além da órbita de Netuno e que se estende aproximadamente até a distância de 7,5 bilhões de quilômetros (50 UA) do Sol -, pois a sua trajetória não o conduz a esta região. A maior parte dos KBO está em ressonância com Netuno. Realmente, como o Sedna não se aproxima jamais a menos de 75 UA, ele não se encontra em ressonância com Netuno. Este fato, permite considerar o Sedna como um objeto da nuvem interior de Oort, o que parece mais aceitável diante do atual estado de conhecimento desta região longínqua do Sistema Solar.

Um planetoide gigante de cor vermelha

O Sedna desloca-se numa das regiões mais frias do sistema solar, cerca de 240 graus abaixo de zero, sendo provavelmente constituído de rochas recobertas de gelo, como sugere sua superfície relativamente brilhante. No entanto, nem tudo é ainda seguro, pois segundo as observações realizadas com o telescópio SMARTS de 1,3 metro de Cerro Tololo, no Chile, o Sedna apresenta uma coloração avermelhada. Em conseqüência, este planetoide é o segundo objeto mais vermelho do sistema solar depois do planeta Marte. O astrônomo

Chad Trujillo, do Gemini Observatory, depois de observá-lo com o telescópio Gemini de 8 metros de Mauna Kea, no Havaí, – um dos maiores telescópios ótico/infravermelho do mundo -, Trujillo concluiu ainda será necessário estudar minuciosamente a sua superfície pois ela não parece com nada previsto e que pudesse explicar.

Seu tamanho inicial foi estimado em cerca de 2.000 km de diâmetro, ou seja, quase do mesmo porte de Plutão (2.300km). No entanto, o fato de não ter sido detectado pelo telescópio espacial Spitzer, cujo diâmetro limite mínimo detectável é de 1.700 km, o astrônomo Mike Brown do Caltech avaliou que o tamanho do Sedna situa-se a meio caminho entre Plutão e Quaosar. Ora, como este planetoide descoberto pela mesma equipe em junho de 2002, possui um diâmetro estimado em 1.260 km com um erro de 190km, determinado por Brown e Trujillo, com auxilio do telescópio espacial Hubble. Não há duvida, que o Sedna é provavelmente o maior objeto já encontrado no Sistema Solar desde a descoberta de Platão em 1930. Este fato não justifica, mas permite compreender por que a mídia viu como o décimo planeta.

A possível presença de um satélite.

Tendo em vista que o movimento de rotação muito lento de Sedna da ordem de 42 dias – de todos os objetos do Sistema Solar, só Mercúrio e Vênus giram mais lentamente -, acreditou-se esta extraordinária rotação fosse causada pela presença de um satélite. No entanto, em 14 de abril de 2004, para a surpresa dos astrônomos, descobriu-se que Sedna não possuía um satélite, graças ao estudo minucioso de 35 imagens obtidas com o telescópio espacial Hubble. Recentemente, em 21 de agosto de 2004, o astrônomo inglês Chandra Wickramasinghe, da Universidade de Cardiff, na Inglaterra, após uma nova analise das observações, anunciou que o Sedna possui um satélite – o mais escuro objeto do sistema solar conhecido até hoje -, que deve ser, provavelmente, um gigantesco e extinto cometa no momento em órbita ao redor do novo planeta.

A descoberta deste e de outros objetos situados nas fronteiras do Sistema Solar esta dando um novas dimensão aos conhecimentos relativos à origem e evolução do nosso mundo planetário.

Para saber mais…

http://www.spitzer.caltech.edu/Media/releases/ssc2004-05/release.shtml

http://www.jpl.nasa.gov/releases/2004/85.cfm

http://www.nasa.gov/home/hqnews/2004/mar/HQ? 04091?sedna?discovered.html

http://pr.caltech.edu/media/Press?Releases/PR12505.html

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é pesquisador-titular do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual foi fundador e primeiro diretor, autor de mais de 70 livros, entre outros livros, do “Anuário de Astronomia 2004”. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com

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