Losar, o ano novo tibetano

Na Lua nova de 28 de fevereiro de 2006 teve início o ano novo 2033 do calendário tibetano. De acordo a tradição do Tibete, o primeiro ano do calendário tibetano corresponde ao ano 127 a.C. do nosso calendário ocidental gregoriano. Na realidade, esse ano inicial de contagem calendárica corresponde à ascensão ao trono do primeiro rei tibetano Nyatri Tsenpo.

A cada ano se atribui um nome que lhe é próprio. Na realidade, o nome de cada ano de um ciclo de 60 anos é composto de dois elementos: o tronco celeste e o ramo terrestre. Cada ano está associado a doze ramos terrestres, na seguinte ordem cíclica: Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Carneiro, Macaco, Galo ou Pássaro, Cão, Porco, Rato, Boi e Tigre. Esses animais – considerados como aqueles que visitaram Buda antes do seu desaparecimento – são igualmente associados a cinco elementos naturais: Madeira, Fogo, Terra, Metal ou Ferro e Água. Um animal é utilizado para cada ano e um elemento para cada dois anos sucessivos.

O ano lunar compreende 12 meses e 30 dias cada um. Como o ano lunar só compreende 354 dias, um mês suplementar é adicionado no fim de cada três anos. Como determinados dias são suprimidos do calendário tibetano, com base em indicações astrológicas, esta é a razão que explica por que numerosos tibetanos não conhecem a sua data de nascimento calculada segundo o nosso calendário ocidental gregoriano.

Segundo a astrologia tibetana, alguns dias lunares são duplicados enquanto outros suprimidos. É o astrólogo que define o calendário no início de cada ano novo. A festa do ano novo tibetano – o Losar – é considerada a festa mais importante do ano em todo o Tibete, como no seio da diáspora tibetana bem como em certas regiões, onde não se festeja a mesma data como na região de Kongpo, no sudeste do Tibete, onde a festa do ano novo ocorre no mês de novembro e é correspondente ao ano novo agrícola (Sonam Losar) que marca o início da colheita. Na região de Zanskar, o Losar é uma festa de dezembro.

O ano novo é o momento que as pessoas se livram simbolicamente de tudo que é negativo durante os 12 últimos meses e quando se preparam para a alegria da entrada do ano novo cheio de promessas. A cerimônia de passagem do ano novo é sobretudo uma festa familiar que dura vários dias. As famílias tibetanas se reúnem para começar os rituais do vigésimo nono dia do décimo segundo mês. Limpam-se as casas a fim de eliminar tudo que é considerado como impuro. Em seguida, dividem entre os amigos o Gouthouk, a sopa do vigésimo nono dia. Essa sopa, acompanhada de bolos de farinha de trigo, de carne e de radiz, portadora de presságios, simbolizados por alguns ingredientes como: fio de lã para a doçura, pequenos cacos brancos para um espírito positivo ou pedaços de carvão para os pensamentos negativos para serem rejeitados, etc. No fim da refeição, se purificam simbolicamente os corpos com bolas de tsampa. Descarregam os elementos negativos de cada um, eles serão depositados fora da casa e queimados em companhia de uma estátua, igualmente de tsampa, representando o mal. Finalmente, se livram de todas essas ondas do mal e podem esperar o início do ano com grande esperança. Na manhã do ano novo, cada um veste roupas novas e é o momento de apresentar os votos de felicidade aos seus amigos. A divindades não são esquecidas, e a elas se lançam porções de tsampa em sinal de devoção. Os altares de cada lar são igualmente ornados de oferendas de toda sorte: chá, sal, cabeças de carneiro esculpidas na manteiga, etc. O dia se passa em família, entre orações, jogos e refeições festivas. No dia seguinte, é a ocasião de sair para visitar os próximos e trocar os votos. É o terceiro dia a ocasião de colocar no teto de cada casa e nos lugares de culto as novas bandeiras de orações enquanto que as antigas são queimadas.

O ano atual – o vigésimo segundo de uma seqüência de troncos celestes e ramos terrestres de 60 anos – é um ano macho ou Yang de elemento terrestre Fogo e do animal Cão. Como o signo do fogo equivale à cor vermelha na teoria dos cinco elementos, o ano que ora se inicia é considerado o ano do Cão de Fogo.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 75 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2006. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com.

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