Fio de cobre ou satélite? A internet é uma só

Por sua vez, as opções mais recorrentes de banda larga baseadas em redes terrestres esbarram não só na questão do mas têm suas vantagens anuladas pela própria heterogeneidade e dos diversos pontos de congestionamento existentes nesta rede. Tudo isto somado, a impressão que se tem é de que o mercado de conteúdos ricos tem um osso duríssimo para roer antes que se torne viável e se transforme numa fonte de receitas para os provedores de serviços. De que maneira, os satélites poderão abreviar este suplício?

Para responder a esta questão, analisemos a situação atual. Uma vantagem inegável da conexão discada está na sua incrível simplicidade. Não fosse o retardo crônico na recepção dos dados, este modelo de conexão seria o caminho natural do desenvolvimento da internet. Mas vamos considerar o seguinte: os longos tempos de espera observados na conexão via modem de 56K ocorrem pela simples razão de que os arquivos “baixados” do provedor para o usuário final são excessivamente “pesados” para esta largura de banda. Só que a experiência mundial comprova que a recíproca não é verdadeira. Os níveis de up-loading utilizados pelo assinante médio de um ISP estão, em geral muito abaixo, desses 56K disponíveis.

Ora, se não existe, portanto, uma congestão nas duas vias, a questão que se coloca para os ISPs é resolver o problema do usuário do ponto de vista do tráfego na recepção de dados (incoming data). Imaginemos, então, uma solução de conexão na qual o assinante mais trivial, com seu modem de 56K possua, em contrapartida, uma capacidade de “incoming” de 400 Kbps, totalmente livre de pontos de congestão ou de choque. Capacidade esta que habilitaria o seu provedor de serviços a uma diversificada oferta de novos produtos, tais como vídeo full motion; áudio com qualidade de CD; teletreinamento e grandes massas de dados de missão crítica.

É isto que a conexão com satélite pode garantir hoje a custos relativos altamente competitivos. E a tecnologia para tanto é simples e composta de poucos e eficientes elementos; ou seja: os roteadores de mídia de última geração e as plataformas de gerenciamento de distribuição de conteúdo associados ao novo conceito de “mineração de banda de passagem” (os Null Packet Optimization ou NPO uma tecnologia patenteada recentemente pela SkyStream Networks) que otimizam a capacidade de transmissão de multimídia em sistemas de banda larga”.

Numa configuração típica deste modelo, o provedor instala em suas premissas um sistema SMR (Source Media Router), cuja finalidade é rotear, encapsular e concentrar conteúdos tipicamente distribuídos via satélite. Na ponta do usuário, um roteador de borda (o EMR ou Edge Media Router) se encarrega de receber estes conteúdos, sem que eles necessitem acessar a rede física terrestre. Eles simplesmente “descem” pelo ar, sem qualquer atrito, até alcançar a LAN, a rede metropolitana da empresa ou o PC corporativo, os quais continuam, no entanto, ligados ao provedor por fio de cobre ou fibra para efeito de “up-loading”.

Com o apoio da nova tecnologia EVR (Edge Video Router), uma solução desta natureza completa o sonho do provedor: a total integração do ISP com a totalidade dos provedores de conteúdo e com qualquer tipo de dispositivo com capacidade de recepção em multimídia: diga-se; aparelhos de TV, home-theaters e computadores convencionais.

Associada a uma plataforma de gerenciamento de distribuição como a tecnologia zBand – hoje já bastante disseminada, este aparato tecnológico permite que um ISP desenvolva emissoras fechadas de TV por satélite (utilizando uma estratégia semelhante à das VPNs) ou faça a distribuição de conteúdos em regime de broadcasting, inclusive com contratos de QoS, uma prerrogativa comercial e técnica hoje restrita apenas às TVs por assinatura.

Em todo o mundo, grandes provedores de serviços e operadoras já utilizam ou realizam trials com as conexões de satélite e, com a progressiva desregulamentação dos mercados de Vídeo e TV, começam a se preparar para abocanhar o seu filão no promissor segmento de conteúdos ricos. Entre os exemplos estão Dotcast, EchoStar Communications, iBlast, Gilat, Granite Broadcasting, Loral Cyberstar, Microsoft TV, Pacific Convergence Corporation, Speedcast e Telefonica. No Brasil o movimento nesta direção é igualmente intenso. E deve se acelerar consideravelmente a partir do segundo semestre, quando as regras para a TV digital e para a distribuição de TV via internet estiverem plenamente definidas.

Suzana Loureiro é diretora da SkyStream Networks para a América Latina (suzana.loureiro@skystream.com).

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