Estudo brasileiro sobre leptospira

O seqüenciamento do genoma da bactéria Leptospira interrogans sorovar Copenhageni, realizado por pesquisadores da rede Organização para Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos (Onsa), acaba de ser aprovado para publicação no Brazilian Journal of Medical and Biological Research (BJMBR). A íntegra do trabalho estará disponível gratuitamente, a partir de terça-feira, a cientistas de todo o mundo a partir da biblioteca on-line SciELO, no endereço www.scielo.br/bjmbr/leptospira.

O projeto consumiu quase R$ 800 mil e resultou no trabalho científico e no mapa genético completo do organismo responsável pela forma severa da leptospirose, doença endêmica no Estado de São Paulo que atinge especialmente áreas urbanas brasileiras.

O artigo ganhou elogios de especialistas da Nature Genetics, revista do grupo britânico Nature, mas não foi publicado na edição pretendida porque o periódico já aprovara a publicação de um artigo de cientistas do Centro de Genoma Humano Chinês, de Xangai, com mapa genético completo da variante da bactéria que causa a leptospirose naquele país. O artigo chinês havia sido submetido quatro meses antes.

O estudo brasileiro, que abre a possibilidade de utilização de 23 proteínas na produção de uma vacina contra a leptospirose, ganha destaque ao ser publicado na BJMBR, uma das mais qualificadas revistas científicas brasileiras. “Nosso seqüenciamento está mais completo em relação ao chinês, especialmente com relação ao sorovar Copenhageni, que é o predominante no Brasil”, afirma Ana Lúcia Tabet Oller do Nascimento, do Instituto Butantan, coordenadora do projeto. Há cerca de 250 sorovares distintos da bactéria e sua identificação é fundamental para a criação de uma vacina. Na China, foi feito o seqüenciamento do sorovar Lai, típico de regiões alagadiças com plantações de arroz.

A publicação do artigo e do mapa genético da bactéria na revista brasileira BJMBR pode ser considerada uma vitória para a ciência nacional. A equipe de pesquisadores envolvidos no projeto precisou organizar outro estudo comparativo entre genomas das variedades Copenhageni e Lai para ser publicado no Journal of Bacteriology. Entretanto, muitas conclusões importantes do estudo original foram deixadas de lado nesse estudo.

Entre as informações divulgadas pelo projeto estão algumas quebras de paradigmas metabólicos da leptospira, conforme explica Ana Lúcia. A L.interrogans possui um controle metabólico eficiente a ponto de mantê-la viva em ambientes hostis (fora do hospedeiro, por exemplo) por alguns dias, o que é considerado um longo período para bactérias. “Mas a principal característica do projeto é que ele foi totalmente direcionado para um fim: a produção de vacinas. Os resultados convergem para a identificação das proteínas candidatas a isso”, destaca Ana Lúcia.

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