Foto: Arquivo/O Estado
À semelhança de Plutão (foto), Éris possui uma órbita excêntrica, levando cerca de 560 anos
para completar uma volta ao redor
do Sol.

Éris, mais precisamente (136199) Éris ou 136199 Éris, tinha sido designado provisoriamente 2003 UB313, é o maior planeta anão conhecido do Sistema Solar descoberto pelos astrônomos norte-americanos Michael E. Brown, Chad Trujillo e David Rabinowitz do California Institute of Technology, em 5 de janeiro de 2005, em placas fotográficas obtidas em 21 de outubro de 2003. Na realidade, trata-se de um objeto transneptuniano – designado pela sigla inglesa TNO, trans-Neptunian object – que orbita ao redor do Sol numa região do espaço conhecida como Cinturão de Kuiper, acompanhado pelo menos por um satélite Dysnomia.

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À semelhança de Plutão, Éris possui uma órbita bastante excêntrica, levando cerca de 560 anos para completar uma volta ao redor do Sol; neste período o planeta alcança uma distância de cerca de 97 UA do Sol, em seu afélio, passando a uma distância de apenas 35 UA do Sol no seu periélio. Em comparação, a distância de Plutão ao Sol varia entre 29 e 49,5 UA, enquanto que a órbita de Netuno permanece a uma distância média de cerca de 30 UA.

Sua descoberta foi anunciada em 29 de julho de 2005, no mesmo dia do anúncio de 2003 EL61 e 2005 FY9, dois outros objetos também do Cinturão de Kuiper. Logo depois que Mike Brown, chefe da equipe dos descobridores, comunicou à imprensa em abril de 2006 que o telescópio espacial Hubble tinha determinado que o diâmetro de Éris é cerca de 2.400km, ou seja, ligeiramente superior ao do Plutão, desde logo ficou informalmente conhecido como o ?décimo planeta?, em virtude de ser maior que o então planeta Plutão.

Prevendo a descoberta de outros objetos semelhantes de dimensões iguais ou superiores às de Plutão, a International Astronomical Union (IAU) propôs uma definição do termo planeta mais precisa do que a existente. Uma nova conceituação foi aprovada em 24 de agosto de 2006. Éris foi enquadrado como planeta anão, assim como Plutão e Ceres. Brown aprovou a nova classificação de planetas anões.

Nome

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Antes que a União Astronômica Internacional (UAI) desse o nome oficial da deusa grega Éris, o astro tinha a designação provisória de 2003 UB313, que constitui um registro alfanumérico atribuído aos asteróides e cometas, de acordo com as normas da UAI, logo após a descoberta de um novo corpo celeste. No entanto, a possibilidade de que esse corpo celeste fosse classificado como um planeta fez com que a UAI não autorizasse nenhum nome, pois havia sérias dúvidas se esse novo objeto viria ou não a ser classificado como um planeta principal ou um simples asteróide. Se fosse aceito, a UAI só aprovaria nomes da tradição greco-romana, tal como acontece com todos os outros planetas do Sistema Solar. A indecisão fez com que fosse batizada popularmente com o nome ?Xena? – uma suposta personagem mitológica, criada especialmente para a série televisiva Xena, A Princesa Guerreira. Segundo Brown, tal designação tinha um razão mais profunda. Com efeito, o X inicial de Xena constituía uma referencia ao algarismo X da numeração romana, numa suposição de que ele fosse o décimo planeta tão procurado e capaz de explicar as irregularidades no movimento de Netuno, que a massa reduzida de Platão não havia solucionado.

Classificação

Considerado durante algum tempo como o décimo planeta do Sistema Solar pela mídia, foi rejeitado pela UAI do status de planeta em 24 de agosto de 2006, ao mesmo tempo que se procedeu à desclassificação de Plutão.

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Desde então Éris é um objeto disperso designado pela sigla inglesa SDO – scattered disc objects. Na verdade, Éris é, além de um objeto transnetuniano, situado depois de Netuno, um dos maiores objetos do Cinturão de Kuiper.

Mitologia

Na mitologia grega, Éris personifica a deusa romana da Discórdia. Sua oposição é a deusa Harmonia, que corresponde à deusa romana Concórdia.

Segundo Hesíodo (Os Trabalhos e os Dias e Teogonia), Éris é filha primogênita de Nix, a Noite, e mãe da Dor (Algea), da Fome (Limos), da Desordem (Dysonomia) e de outros flagelos. Éris é responsável pelas batalhas, disputas e anarquias.

Na Ilíada, Homero refere-se a Éris como irmã de Ares (Marte), e portanto segundo se supõe filha de Zeus e de Hera. Ares, deus da guerra, a quem Éris acompanha em seus combates, tem em mãos o emblema da Guerra.

Homero assim a descreveu (IV, 440-443): ?(…) a Discórdia incansável, Companheira e irmã do homicida Ares, Quem a princípio se apresenta timidamente, mas que logo toca a testa no céu e seus pés loucos na terra?.

Entretanto, Éris representa também o aspecto positivo da emulação. Assim, no canto XI da Ilíada, Zeus envia Éris para estimular o ardor ao combate nos chefes gregos (XI, 3-14). Éris foi escolhida por Heráclito quando do seu encontro com duas mulheres no início das suas explorações, segundo Hesíodo.

A lenda mais famosa referente a Éris relata o seu papel ao provocar a Guerra de Tróia. As deusas Hera, Atena e Afrodite haviam sido convidadas, juntamente com o restante do Olimpo, para o casamento forçado de Peleu e Tétis, que viriam a ser os pais de Aquiles, mas Éris fora desdenhada por conta de seu temperamento controvertido – a discórdia – e, naturalmente, não era bem-vinda ao casamento.

Furiosa por não ter sido convidada para as bodas de Tétis e Peleu, mesmo assim, compareceu aos festejos e lançou no meio dos presentes o Pomo da Discórdia, uma maçã dourada com a inscrição ?à mais bela?, fazendo com que as deusas discutissem entre si a quem se destinava a maçã. Essa ?maçã da discórdia? se revelou fatal, pois é ela que provocará a Guerra de Tróia. Com efeito, o incauto Páris, príncipe de Tróia, foi designado para escolher a mais bela. Cada uma das três deusas presentes imediatamente procurou suborná-lo: Hera ofereceu-lhe poder político; Atena, habilidade na batalha; e Afrodite, a mais bela mulher do mundo, Helena, esposa de Menelau de Esparta. Páris elegeu Afrodite para receber o Pomo, condenando sua cidade, que foi destruída na guerra que se seguiu.

Éris e Ares formaram a cabeça dos Lápitas por ocasião da guerra contra os Centauros. Seu nome deu origem, em português, a palavra ?erística?, a arte da controvérsia, que significa a arte da disputa argumentativa no debate filosófico, desenvolvida sobretudo pelos sofistas, e baseada em habilidade verbal e acuidade de raciocínio.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Escreveu mais de 80 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007.

* Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com.