Curitiba precisa de um novo incentivo,
de boas propostas e de um debate para
melhorar suas condições turísticas.

Depois de constatar o acelerado e adiantado processo de extinção e desvirtuamento em que se acham inúmeros clubes tradicionais e restaurantes de comidas típicas e outros espaços culturais de Curitiba, o presente artigo visa emitir um coeso brado de alerta para motivar o desencadeamento de um debate de tomada de consciência social contra aquele caviloso processo de destruição de nossa identidade cultural. Esse debate pode ser inspirado na mobilização dos parisienses que culminou na salvação e restauração do Moulin Rouge de Paris. Ou ainda nas boas decisões da prefeitura de New York que acabou com o tráfico e prostituição no Time Square, entre as ruas 42 e 46, o que incrementou bastante o turismo local.

O Moulin Rouge, histórico espaço de espetáculos culturais da cidade de Paris, patrimônio da França e da humanidade, estava para ser demolida pelos bárbaros da pseudo – modernidade. A comunidade parisiense revoltou-se, mobilizou-se, salvou, restaurou e eternizou o Moulin Rouge, entendendo-o como parte da indústria turística e cultural da cidade de Paris, da França e da humanidade.

Cultura e indústria turística

O dicionário Michaelis define cultura do ponto de vista antropológico como: “estágio do desenvolvimento cultural de um povo caracterizado pelo conjunto de obras, instalações e objetos criados pelo homem desse povo ou período; conteúdo social”. Se a preservação e o culto dos ícones culturais hão de se justificar por si próprios, não há porque temer, que em nome e a bem desta própria preservação deixemos de pensar em meios e modos de arrecadar fundos monetários para aqueles fins. O que remete ao desenvolvimento da indústria turística por via da cultura.

Esporte e propaganda

Esporte é cultura. Esporte é propaganda no exterior. Trata-se de produtos exportáveis brasileiros. O evento máximo da cultura universal são as Olimpíadas, que entre os gregos antigos era mais completa pois, além das competições esportivas contava com competições culturais, e não se sabe porque não se pensa em voltar, no mundo atual àquela sábia prática dos velhos gregos. As atuações brasileiras neste tipo de competição são sempre pífias, beirando ao vergonhoso, levando-se em conta as dimensões do país.

A economia brasileira precisa mortalmente exportar seus produtos. Para isto, é necessário investir em propaganda internacional. Os profissionais da propaganda a dividem em duas partes: 1) propaganda institucional (indireta) do país de procedência e do fabricante de determinado produto e 2) propaganda (direta) do próprio produto.

A primeira antecede e acoberta a segunda que completa a primeira. Não conseguimos ainda compreender, como país, que a melhor propaganda institucional de uma nação é realizado pelos feitos de nossos atletas e artistas no país e no exterior.

Em nosso subconsciente coletivo vemos os atletas e artistas como vagabundos, quando deveríamos vê-los como a heróica linha de frente da conquista de mercados externos. Veremos como a morte de um clube de bairro que pratique algum tipo de esporte olímpico, ainda que seja o prosaico tênis de mesa e o fechamento de uma pista de atletismo está no início de nossas pavorosas performances nas olimpíadas. A rigor o sistema escolar formal básico deveria ser dotado de todos os esportes olímpicos, complementado por clubes e espaços esportivos públicos.

Cultura esportiva na capital

Futebol e atletismo

Exemplos máximos de barbárie e depredação cultural, que ilustra bem o que queremos dizer, foi o fechamento das pistas de atletismo do Coritiba F.C e do Paraná Sport. Como nossos jornalistas esportivos, dirigentes, preparadores físicos, professores de educação física, técnicos e médicos esportivos são formados à machado, não conseguiram ainda compreender duas realidades básicas.

A primeira: se nossos jogadores de futebol não desenvolvem plenamente seus potenciais de velocidade, resistência, impulsão, força nos arremessos (manuais e com os pés); se contundem mais freqüentemente do que deveriam é porque ostentam precária formação óssea e muscular decorrentes da deficiente formação e preparação físicas.

As canchas de atletismo são ainda a melhor academia para o desenvolvimento da explosão e velocidade através das provas de velocidade e, resistência, por meio das provas meio fundo e fundo; impulsão e explosão nos saltos em distância, triplo, altura e vara; força nos arremessos manuais e do goleiro através do arremesso de peso, disco, martelo e dardo e conseqüente ganho de massa muscular dinâmica e eficaz prevenção na busca de máxima rarificação de contusões.

Fazer de um atleta um habilidoso jogador de futebol é muito raro; mas fazer de um habilidoso jogador um atleta é sempre possível e desejável e no futebol moderno imprescindível. Em segundo lugar, o futebol masculino e feminino, nas olimpíadas poderão nos render no máximo duas medalhas e o atletismo, como outros esportes, natação, ginástica olímpica, lutas, etc, poderão, com investimentos mínimos, nos render um grande número delas.

CLUBES DE BAIRRO

Jockey Club Paranaense (Fundado em 1873)

O turfe, em várias partes do mundo, emprega mais que a indústria automobilística e os cavalos de corrida já estiveram entre os principais produtos de exportação da Argentina.

Embora nosso Jockey Club tenha cento e trinta e sete anos de existência os paranaenses jamais conseguiram entender está atividade cultural e econômica como uma das mais tradicionais e sofisticadas indústrias instaladas no Estado e que deveria sair de seu provincianismo crônico, e ser direcionada para o mercado externo – se tivéssemos a coragem de quebrar alguns tabus que ainda amarram a atividade e aplicássemos modernos métodos de biotecnologia na mesma – em especial a inseminação artificial. O Jockey Club deveria constituir-se em pólo de atração turística de Curitiba.

A título de amostragem do processo de extinção e desvirtuamento que se encontram a maioria de nossos clubes de bairro, na cidade inteira, operamos um superficial levantamento do que acontece com alguns deles, situados nos bairros São Francisco, Mercês, Bom Retiro, Vista Alegre, Pilarzinho e cercanias. Os clubes de bairro são ícones culturais da cidade e como tais devem ser cultuados.

Sociedade Cabral

Situada entre as ruas Celestino Júnior e Senador Saraiva em terreno de 1800m2, aproximadamente. A sociedade era símbolo cultural do bairro e tinha por típico e original ser toda construída em madeira, evocando o ciclo histórico e econômico da madeira no Paraná e por tal ótimo como atrativo turístico. Foi demolida sem maiores explicações à comunidade circundante que a construiu e é sua legítima proprietária; corre no bairro as mais desencontradas versões sobre o destino do seu patrimônio.

Sociedade Beneficente Mercês (Fundada em 1919)

Sita na Av. Manoel Ribas,1506 esquina com Alcides Munhoz.

Transformou-se em uma agência do Banco do Brasil. Será que nosso Banco do Brasil, cobrando os juros que cobra da comunidade, envolvente ao clube, não teria dinheiro para construir uma agência em outro local sem desvirtuar os símbolos da cultura do povo brasileiro que deveria ser o primeiro a financiar e a preservar?

Gastronomia e turismo

O dicionário Michaelis define gastronomia como – 1. Arte de cozinhar e preparar as iguarias de modo a tirar-se delas o máximo de prazer. 2. Arte de escolher e saborear os melhores pratos”. Num país que busca a fome zero não se haverá de comer apenas por necessidade, mas também por prazer.

Os restaurantes, bares, feiras e espaços gastronômicos, principalmente os que servem iguarias típicas e tradicionais, constituem marcas indeléveis da cultura de um povo, podendo e devendo se constituir em fundamentais pólos de atração turística nacional e internacional com seus reflexos na balança de pagamento do país.

Além do que acontece com os clubes, muitos cidadões curitibanos vem observando estarrecidos e bestificados a destruição e desvirtuamento de sua identidade cultural gastronômica sem que as autoridades municipais do executivo e legislativo nada façam para salvá-la.

Em seguida, a título de ilustração, citamos e comentamos a situação de alguns estabelecimentos gastronômicos que servem de exemplos positivos e negativos do nosso ponto de vista, pedindo desculpa e compreensão a outros estabelecimentos em situação semelhante, não citados por absoluta falta de espaço na imprensa e tempo de pesquisa.

ALGUNS BONS EXEMPLOS

Bar do Ligeirinho

Situado na Rua Carlos de Carvalho,120, Centro, pertencente ao competente e simpático cidadão curitibano Ronaldi Abrão e serve como pratos típicos miúdos de boi, onde se destaca a iguaria – testículo de boi. Ronaldi Abrão, há 60 anos no ramo, era dono do Bar Stuart situado na Praça Osório, 427 onde servia os mesmos pratos.

Em desrespeito a tradição cultural e gastronômica da cidade, por ocasião da venda do Bar Stuart, o novo dono deixou de servir os pratos típicos tradicionais.

Bar Triângulo (Fundado em 1936 – Rua 15 de Novembro, 36)

O velho prédio foi restaurado pelo dinâmico empresário Imad Hamdar e preservará a tradição de fornecer cachorro quente com receita caseira.

Bar Palácio

O tradicional restaurante mudou da Barão do Rio Branco para novas instalações, mas não mudou seu tradicional cardápio onde se destaca o churrasco assado na frente dos fregueses.

Restaurante e Armazém Santo Antônio (Rua Solimões, 316). A construção foi restaurada e evidencia com toda a ênfase a data da construção original de 1870, contrariamente do que aconteceu com uma casa adquirida pela Champagnat Multimarcas na Rua Tapajós, 890 – que tinha gravada na parte frontal a data de 1942 e que a administração fez questão de apagar do prédio numa demonstração de total desprezo pela cultura histórica da cidade.

Juréia (Visconde do Rio Branco, ao lado do 1691). Comandada por Vinicius Kaniak, serve o prato Juréia – Costela de Boi assada, com farinha de mandioca e brócolis.

Bar do Pudim (Praça do Redentor, 322)

Estabelecimento que reúne desde jovens estudantes até jornalistas, publicitários e profissionais liberais num lugar simples mas com o melhor bolinho de siri da cidade além do que, preços honestos. Nesses ambientes culturais preserva-se o cultivo da milenar arte gastronômica e de conversar que alguns clientes gostam de temperar com pitadas do molho picante porém inofensivo, da maledicência. É o ambiente para cultivar velhas amizades e fazer novos amigos.

Maus exemplos

Confeitaria Schaefer (Rua 15 de Novembro, 420). Tradicionalíssimo estabelecimento gastronômico, cujo ponto alto eram as coalhadas, foi sumariamente fechado sem maiores protestos da comunidade curitibana pelo desaparecimento de tão transcendental símbolo da nossa cultura gastronômica e transformado no Show das Fábricas.

Bar Cometa – Ponto de encontro da cidade foi substituído pelas lojas Doraki.

Guairacá (Luiz Xavier x Oliveira Bello). Pior que o atentado que a rede Al – Qaeda perpetrou contra o HSBC é o atentado que esta multinacional ajuda a perpetrar contra a cultura da cidade instalando uma fria entidade bancária onde dantes era um fervilhante ambiente cultural.

Bar Paraná (Rua 15 de Novembro). Os mais antigos muito gostariam que o antigo restaurante com seu refinado cardápio voltasse a funcionar.

Inimigos da cultura

Normalmente estes estabelecimentos mudam de ramo e/ou são assumidos por comerciantes arrivistas, arrogantes, carcamanos, vulgares, mal encarados, mal educados, sem a menor cumplicidade com as tradições culturais da cidade e que agem como se estivessem prestando um grande favor à comunidade curitibana e não esta a eles, por freqüentar seus estabelecimentos.

Espantando o turista

Se um pacato turista que for praticante do prosaico cooper ao passeio a pé, resolver visitar Curitiba e dar uma caminhada por nossos bairros e parques estará arriscado a ser atacado por matilhas de cães e gatos abandonados; a quebrar a perna e/ou o pescoço ou ser atropelado nas ruas por falta de calçadas – passeios para pedestres – as quais ou são muito estreitas, ou mal construídas, obstruídas ou inexistentes obrigando os pedestres, idosos, deficientes físicos em cadeiras de roda ou não; crianças e adolescentes praticantes do skate, ciclismo, futebol, volley e outros esportes a utilizarem-se da pista de veículos atravancadas ainda pelo anacrônico sistema de transporte coletivos de superfície -numa era da vitória total do transporte individual – do automóvel; quando em termos coletivos de a muito deveríamos estar andando de metro subterrâneo.

O nosso turista revelará muita sorte se não for assaltado ao longo da caminhada e mais sorte ainda se quase por milagre encontrar algum policial. O panorama anteriormente exposto comprova as estatísticas e conclusões da Organização Mundial de Saúde que no mundo moderno o número de mortes por desastre e acidentes é maior do que por doenças. Investimentos, pois para resolver os problemas retro desfilados não só promoverão a indústria turística; como são investimentos básicos na salva-guarda da saúde dos habitantes da cidade e dos turistas que a visitam.

Propostas

O conjunto das idéias anteriormente expostas desemboca nas seguintes propostas a fim de no futuro evitar-se hecatombes culturais como foram o fechamento da Schafer e a demolição da Sociedade Cabral e para cuja ressurreição o presente trabalho espera estar contribuindo.

Para os cursos de História e Sociologia

– Pesquisar e escrever a História e Sociologia de nossos clubes, restaurantes tradicionais de comida típica envolvendo alunos e professores e talvez financiado pelo executivo municipal.

Para o poderes públicos

O executivo municipal poderia

– Operar levantamento criterioso de todos os clubes de bairro e restaurantes de comida típica e tradicional e de outros espaços culturais, em funcionamento, extintos ou em processo de extinção e/ou desvirtuamento, a fim de tombá-los.

– Montar política de revitalização dos mesmos no âmbito mais amplo de um plano de desenvolvimento da indústria turística da cidade.

– Montar política de retirada das ruas de cães e gatos abandonados símbolos tristes de um país de quarto mundo.

O legislativo e o governos estadual poderiam:

– Estabelecer legislação que contenha no seu espírito os seguintes pontos essenciais:

Em relação a cultura clubística:

– Montar legislação estabelecendo para os clubes tombados toda a sorte de incentivos fiscais e créditos; isenções ou descontos substanciais nas contas de água, luz, telefone, etc.

– Em contrapartida exigir dos clubes, sem prejuízo de sua disposições estatutárias originais a implantação do cultivo de esportes olímpicos, restaurantes de comida típica, cooperativas de consumo de produtos de primeira necessidade, creches, etc; e sua inclusão e cooperação com o plano turístico da cidade.

– Estimular a associação de clubes de bairro especialmente pelo fortalecimento dos eventos competitivos de esportes olímpicos através das confederações esportivas.

– Estimular a associação das cooperativas de consumo de produtos de primeira necessidade a serem instaladas nos clubes.

Em relação a cultura gastronômica:

– Não permitir que os estabelecimentos de cultura gastronômica típica e tradicional mudem de ramo e de cardápio mesmo quando mudam de proprietário.

– No âmbito de um plano de desenvolvimento da Indústria Turística considerar os estabelecimentos de gastronomia típica e tradicional como pólos de atração turística oferecendo todo o tipo de incentivos fiscais e créditos e isenções e /ou descontos substancias nas contas de água, luz, telefone, etc.

– Dentro de um entendimento fiscal mais amplo de que: o que os cofres públicos perderão pela não cobrança direta de impostos e taxas deverão recuperar, com amplas sobras, de forma indireta nos impostos e taxas que incidem sobre outras despesas que o turista normalmente realiza na cidade , como compras diversas, gastos em transporte, hotéis, etc.

– Estudar a concessão dos títulos de cidadania honorária de Curitiba e outros títulos honoríficos pelos relevantes serviços prestados à cultura gastronômica da cidade aos cidadões.

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