Brasil está defasado em relação ao controle da poluição

O Brasil está defasado em relação aos padrões de poluição atmosférica determinados em outros países e só conseguirá melhorar a qualidade do ar nas regiões metropolitanas quando adotar não só padrões restritivos, mas também metas claras para dar andamento aos projetos de redução da poluição.

A opinião é do membro do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) de São Paulo, Carlos Bocuhy, que participou do Seminário Internacional Políticas Públicas e Padrões de Qualidade do Ar na Macrometrópole Paulista, realizado na última semana em São Paulo, e que colocou em debate a medição da qualidade do ar e os efeitos na qualidade de vida da população.

“A discussão que se coloca no Consema a pedido dos ambientalistas é que se estude meios para adoção de padrões mais restritivos no Brasil atendendo às pesquisas da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas também que se defina quais as políticas públicas necessárias para esse controle de poluição. Ao mesmo tempo que adotamos novos padrões temos que ter metas claras”, alertou Bocuhy.

Mortes

De acordo com dados da OMS, morrem por ano cerca de um milhão de pessoas em todo o mundo por doenças decorrentes da poluição. Para se ter uma idéia, a aids mata cerca de três milhões de pessoas anualmente e os acidentes de trânsito, 1,2 milhão. “As mortes causadas por doenças da poluição têm uma magnitude importante”, disse o médico e coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, Carlos Dora, que também participou do evento.

O médico disse que o ar considerado limpo pela OMS é aquele que chega a ter 20 microgramas (mcg) de poeira dispersa no ar por metro cúbico. A Região Metropolitana de São Paulo tem hoje 50 mcg por metro cúbico. Esse mesmo índice na região de Curitiba, aferido em 13 estações espalhadas pela capital, Araucária e Colombo, chegou a atingir média de até 60 mcg em uma das estações (Araucária-UEG) em outubro – a medição é feita mensalmente pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). No entanto, outras estações mediram concentração de 13 mcg (Curitiba-Ouvidor Pardinho), 19 mcg (Curitiba-Santa Casa), 28 mcg (Araucária-Assis) e 47 mcg (Araucária-Cisa-CSN-PR).

Segundo Dora, EUA e China registram índices mais altos de mcg por metro cúbico, enquanto países como Suíça e outros países do Norte da Europa já chegaram na meta estipulada pela OMS. Os meios de transporte são apontados como grandes responsáveis pela má qualidade do ar nas grandes cidades.

Para o coordenador da OMS, o Brasil está caminhando em uma direção muito definida, mas o grande desafio é reduzir os índices de poluição do ar, melhorando o sistema de transporte nas grandes metrópoles, compatíveis com uma qualidade do ar muito boa. Além disso, o controle da poluição, para os membros da OMS e do Consema, exige adoção de uma política intersetorial, já que ao se falar de qualidade do ar, refere-se automaticamente à saúde pública, o que exige não só ações das agências de controle ambiental, como também da área de saúde, para trabalhar preventivamente.