Biomassa, o futuro da energia

Segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), divulgados no Brasil pelo Ministério de Minas e Energia (MME), em vinte anos, cerca de 30% do total de energia consumida pela humanidade será através da biomassa. Em geral, esse tipo de energia é limpa. Ou seja, não produz poluição nem se esgota e é renovável. Essa forma está crescendo rapidamente em todo o mundo. O governo federal está aproveitando a novidade para aumentar o incentivo à produção dessas novas fontes energéticas.

A biomassa ou bioenergia é produzida através da combustão, gaseificação, fermentação ou produção de substâncias líquidas, a partir de material vegetal, entre eles diversos tipos de árvores (lenhas e carvão vegetal), alguns óleos vegetais (amendoim, girassol, soja e dendê), resíduos agrícolas, agroindustriais e urbanos.

Com a aprovação do Programa Nacional de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), o País passa a investir pesado no desenvolvimento dessas novas energias. Além da biomassa, a eólica (dos ventos) e a PCH (pequenas centrais hidrelétricas) também ganharam destaque no destino dos incentivos.

Após a aprovação do programa, o governo publicou no Diário Oficial da União o Decreto 5.025, que estabelece a primeira etapa do Proinfa. Essa fase inicial prevê a compra por parte da Eletrobrás de 3,3 mil mW de energia a partir de biomassa, eólica e PCH.

O professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Dimas Silva, destaca que no uso de biomassa para a produção energética o custo é mais baixo, já que são realizados com resíduos abundantes em todo o País. “O Brasil, nesse sentido, é privilegiado em relação aos demais países. Ele é responsável por 1/4 de toda a produção vegetal. Nesse tipo de produção se aproveita tudo e a maioria dos resíduos está em falta em vários países”, diz.

Mas o professor alerta que, mesmo tendo grandes quantidades de resíduos, o potencial não é totalmente aproveitado. Segundo ele, apesar de ser a forma de energia mais popular, ainda falta um incentivo para que ela se desenvolva e atenda uma demanda de energia elétrica em grande quantidade. “Ela ainda não é utilizada em larga escala, como deveria. Somente algumas empresas, como siderúrgicas, de papel e madeireiras, do Sul e Sudeste por exemplo, aproveitam os resíduos”, completa Dimas.

Um dos exemplos de usina termelétrica a base de biomassa está no Paraná: é a Ecoluz. A usina funciona em Guarapuava, no centro do Estado, e aproveita a madeira para produzir cerca de 10 mil kW/h de energia elétrica.

Alguns materiais vegetais usados na produção de energia:

Biomassa arborícola – utilização de madeiras (eucaliptos por exemplo);

Sobra de madeira de indústria (serragem, por exemplo);

Resíduos agrícolas – como bagaço de cana-de-açucar, casca de arroz; Certos tipos de esgotos industriais e residenciais; Lixo de natureza biológica;

Fontes são renovadas

Aos poucos algumas iniciativas destacam a importância da renovação das fontes energéticas e utilizam a biomassa como combustível para a produção de energia elétrica. Os projetos mais elaborados e com menos custos são implantados em pequenas comunidades, distantes dos grandes centros urbanos. Um exemplo é o projeto desenvolvido pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio). O coordenador de pesquisas em óleos vegetais do Cenbio, Orlando Cristiano ressalta a evolução do processo que está sendo implantado em pequenas comunidades. O primeiro projeto implantado ocorreu na cidade de Moju, no Pará. O projeto Programa para geração de energia a partir de óleos vegetais na Amazônia foi realizado para o desenvolvimento e comercialização do sistema de geração de eletricidade, com tecnologia nacional, e de fácil operação e manutenção. Esse programa foi desenvolvido em parceria com a coordenação de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Prefeitura de Moju. “A distribuição de eletricidade foi feita por meio do uso de geradores a diesel convencionais, adaptados para funcionar com óleo vegetal. O uso é fácil e qualquer morador da comunidade pode comandar as ações. Depois de instaladas, nós só acompanhamos os resultados para ver como está sendo feita a geração de energia. Esse tipo de produção de energia é o essencial para pequenos vilarejos, além de ter baixo custo”, diz Orlando.

Segundo ele, três novos projetos estão sendo financiados e terminam em julho ainda na região Norte, com biogás, gerado através do óleo vegetal do dendê. Esse tipo de semente é típico da região e não ocorre escassez. “É uma fonte renovável que não tinha muito espaço, apesar de apresentar um campo enorme de possibilidades. É necessário um incentivo cada vez maior para que novas usinas sejam desenvolvidas, porque, por enquanto, somente algumas indústrias e pequenas comunidades tiram proveito desse tipo de energia”, completa. (RCJ)

Aneel está focada nas PCHs

As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) representam hoje um dos principais focos de prioridade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no que se refere ao aumento da oferta de energia elétrica no Brasil. Por suas características – usina com potência instalada superior a 1 mil kW e igual ou superior a 30 mil kW, esse empreendimento possibilita um atendimento amplo, assim como as usinas de biomassa, às necessidades de energia de pequenos centros urbanos, com menos impacto ambiental.

Além disso, a escassez de espaço para a construção de novas hidrelétricas com porte grande, está contribuindo para que as PCHs sejam uma alternativa mais comum entre os empreendedores. A partir de 1998 a construção dessas unidades foi estimulada. Assim que começou a atuar, a Aneel abriu processo de consulta para criar critérios de avaliação das PCHs. Uma resolução permite que a energia gerada por essas usinas entre no sistema sem que o empreendedor pague integralmente as taxas pelo uso da rede de transmissão e distribuição.

As PCHs estão sendo um dos pilares do Programa Nacional de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), aprovado pelo governo federal e que estimula a criação e o desenvolvimento de novas fontes, como a energia eólica e o uso da biomassa.

No Brasil, existem 204 PCHs em operação, somando 798.784 kW de potência ao sistema interligado nacional, ou seja, 1,04%. “É um número muito pequeno, mas que rende aos seus empreendedores muito mais do que se imagina. A instalação de uma PCH deve ser cautelosa e cronometrada detalhadamente. Se der certo, é lucro com pouco impacto ambiental. Esses são os seus diferenciais”, conta o professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Heinz Dieter Fill.

Apesar de toda a divulgação e estímulo para o crescimento da utilização desse novo tipo de energia, apenas 21% de todo o potencial das PCHs está sendo utilizado. De acordo com o Centro Nacional de Referência em PCHs (Cerpch), cinco estados brasileiros ainda não possuem plantas em operação.

Minas Gerais é o Estado que apresenta maior concentração de usinas, somando um total de 233.795 kW de potência. O Paraná vem em seguida, produzindo 175.510 kW. “Sem dúvida a grande maioria das PCHs se concentra no Sudeste e Sul por causa da quantidade de rios em que se pode construir pequenas barragens e com boa vazão (fluxo de água) e quedas. Isso pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma PCH. Depende muito das condições topográficas e geológicas”, explica o professor.

Questionado sobre a importância do Proinfa para o crescimento das PCHs, o professor foi cauteloso. Ele acredita que é um passo grande para o desenvolvimento, mas acha melhor esperar pelos incentivos antes de imaginar algo que pode não acontecer. “É aquilo que todo mundo sabe. Falar é fácil. Difícil é pôr a mão na massa e fazer. Se realmente houver incentivo para a construção de novas PCHs, será ótimo, pois é uma alternativa que não afeta o meio ambiente”, completa Heinz.

Ambientalistas resistem às pequenas centrais

O professor Heinz Dieter Fill destacou ainda um dos casos que não deram certo no Paraná por causa da questão ambiental: a Usina de Guaratuba, na Serra do Mar. De acordo com Heinz, grupos de preservação reclamavam constantemente das ações no local e conseguiram impedir a finalização da obra. Mas, atualmente, o local abrange plantações de banana e palmito, que segundo o professor, ocasionaram mais desmatamento. “É complicado. Ao mesmo tempo que buscamos divulgar a importância das PCHs, temos que convencer os ativistas ambientalistas de que o impacto na natureza é reduzido. Esse é um ponto que ainda precisa ser discutido”, ressalta.

O engenheiro Ivan Sabatela reforça o discurso do professor quando o assunto é a questão ambiental. Ele assegura que o pequeno ou quase nulo impacto ambiental que a instalação de uma PCH ocasiona é o principal trunfo para que essas usinas tenham o reconhecimento necessário na produção de energia elétrica no País. Diferente das usinas tradicionais, o espaço é reduzido e a produção é menor, mas já é suficiente para abastecer uma cidade de porte médio. “É um negócio bom para todos. Para quem investe, para o local, para os habitantes, todo mundo sai ganhando. Você gera energia, sem afetar o meio ambiente, como acontecia na construção de uma enorme barragem, por exemplo”, diz o engenheiro.

Ivan já trabalha há 62 anos no ramo e passou por algumas das maiores empresas de energia elétrica. Ele afirma que a instalação de PCHs está gradativamente evoluindo e que o incentivo será bem-vindo para o desenvolvimento maior dessa fonte. “O mercado é novo, mas é promissor. Conhecendo os rios de uma região é fácil determinar se o local é ou não propício para implantação de uma usina. No Paraná temos bons rios e PCHs funcionando normalmente. Muitas empresas instaladas em cidades menores optam por trabalhar com uma PCH. A tendência é só haver crescimento”, conta. (RCJ)

Principais PCH?s em funcionamento no Paraná:

Itapejara d?Oeste

Rio Vitorino

– Usina Vitorino, com potência de 5.280 KWh.

Jaguariaíva

Rio Jaguariaíva – Usina Pesqueiro, com potência de 10.960 KWh.

Boa Ventura de São Roque

Rio Pedrinho – Usina Pedrinho I, com potência de 16.200 KWh.

Tibagi

Rio Tibagi

– Usina Salto Mauá, com potência de 19.550 KWh.

Campo Mourão

Rio Mourão

– Usina Salto Natal, com potência de 15.120 KWh.

Guarapuava

Rio Jordão

– Usina Salto Curucaca, com potência de 7.342 KWh.

Tamarana

Rio Apucaraninha

– Usina Apucaraninha, com potência de 9.550 KWh.

Turvo

Rio Marrecas

– Usina Boa Vista II, com potência de 9 mil KWh.

Cruzeiro do Iguaçu

Rio Chopim

– Usina Júlio de Mesquita Filho, com potência de 29.072 KWh.

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