Aquecimento fortalece furacões, conclui comitê da ONU

O aquecimento global criou furacões mais fortes, incluindo os do Oceano Atlântico, como Katrina, que devastou a cidade de New Orleans em 2005, concluiu um comitê internacional de cientistas. Esta é a primeira vez que especialistas afirmam, categoricamente haver uma conexão entre os dois fenômenos.

Durante uma maratona de reuniões em Paris, membros do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) aprovaram um texto que diz que um aumento na força de furacões e ciclones tropicais desde 1970 "mais provavelmente do que não" pode ser atribuído ao aquecimento global provocado pela atividade humana, diz Leonard Fields, de Barbados, and Cedric Nelom, do Suriname, dois participantes das discussões.

Em seu último relatório, divulgado em 2001, o mesmo comitê havia dito que não dispunha de evidências para chegar a tal conclusão. "É muito importante" que a linguagem escolhida para tratar do tema, desta vez, seja forte, disse Fields. "As companhias seguradoras prestam atenção na linguagem, também".

O IPCC ressalva que o aumento no número de tempestades fortes difere nas diversas partes do planeta, mas que as tempestades que atingem o continente americano são influenciadas pelo aquecimento global, diz outro participante do comitê.

Divergências

Com esse conteúdo, o relatório – que deverá ser apresentado ao público amanhã – divergirá de modo importante de uma nota divulgada em novembro de 2006 pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), que colabora com o IPCC. Depois de um debate acalorado, a OMM declarou que não ligaria as tempestades do passado ao aquecimento global.

A discussão sobre se os furacões mais fortes podem ser ligados ao aquecimento global divide a comunidade científica que, no entanto, concorda que a elevação das temperaturas é um problema criado pelo homem.

O pesquisador Kerry Emanuel, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e que foi pioneiro nas pesquisas ligando o aquecimento aos furacões, teve acesso á linguagem usada em uma versão preliminar do relatório do IPCC e considerou-a "uma afirmação bem forte".

Causa humana

Na elaboração do relatório que será apresentado amanhã, representantes de 113 países concordaram em afirmar que o aquecimento global é "muito provavelmente" causado pela ação humana. O relatório do IPCC tem de ser aprovado por unanimidade, por cientistas envolvidos e representantes de governos.

Dois participantes das discussões, que pediram para não ser identificados, disseram que o termo "muito provavelmente" foi aprovado hoje. Isso significa que há concordância em atribuir pelo menos 90% de probabilidade à causa humana para explicar a mudança climática.

O relatório de 2001 falava em "provavelmente", o que representa uma probabilidade alta, mas ainda abaixo de 90%. Ao longo da semana, chegou-se a especular que a linguagem seria alterada para "virtualmente certo", o que refletiria 99% de confiança na causa humana como a melhor explicação.

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