Alunos apresentam alternativa para tratamento de esgoto na Ilha das Peças

Dois projetos de alunos e professores de escolas situadas em ilhas do litoral paranaense se destacam na exposição científica do Fera com Ciência, em Paranaguá. Um deles expõe o trabalho pioneiro de tratamento de esgoto realizado na Ilha das Peças, o outro trata da história e da realidade ambiental da Ilha Rasa. Em ambos, fica patente o compromisso de professores e alunos com o conhecimento e a transformação da realidade em que vivem. Os dois projetos são realizados em duas subsedes do Colégio Estadual Marcílio Dias, em Guaraqueçaba.

O trabalho exposto por quatro alunas da Ilha das Peças tem a supervisão do professor Fernando Luiz Brock e faz parte do desenvolvimento de modelo alternativo e adequado de tratamento de esgoto doméstico para a comunidade local. As alunas Taiza, Sônia, Mariana e Joana residem em uma vila de pescadores artesanais e compreendem que as fossas sépticas utilizadas para o tratamento de esgoto não são ambientalmente corretas e estão empenhadas em propor algo pioneiro para melhorar esse quadro.

“Nosso projeto utiliza raízes de plantas para reduzir, em aproximadamente 90%, a presença de poluentes e contaminantes da parte líquida do esgoto”, explica o professor Fernando. A iniciativa ecológica recebe o nome de Projeto das Estações de Tratamento de Esgoto por Zona de Raízes (ETEZR) e utiliza plantas nativas facilmente encontradas da região, como a cebolana (Crinum spp).

O sistema se baseia em dois processos. Em primeiro lugar, há a separação do material sólido do líquido. Em seguida, pela ação da raiz da planta, a parte líquida é depurada e as bactérias presentes nas raízes ajudam a reter o excesso de componentes prejudiciais ao ambiente. Os resultados alcançados animam o grupo de pesquisadores. “Esse modelo está se mostrando capaz de resolver o problema de tratamento de esgoto em outras comunidades do litoral”, explica Fernando.

O projeto tem como parceiros o Centro de Estudos do Mar da UFPR, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), o Ibama, a Sanepar, a Associação de Moradores da Ilha das Peças, a Escola Municipal local e a Prefeitura de Guaraqueçaba, além do Instituto Oceanográfico Internacional, da entidade Engenheiros sem Fronteiras da Universidade de Maryland (EUA) e da empresa Ecodamata. 

Cidadania

O professor Michel Hamon deixou Curitiba para apostar em um proposta de mudança de perspectiva de vida. Formado em jornalismo, resolveu ir morar na Ilha Rasa e aderiu ao projeto Escola das Ilhas, que iniciou em 2004 e atende a necessidade local de existência de um pólo de Ensino Fundamental. Desde então, Michel tem despertado o interesse dos alunos pelo lugar em que vivem, tanto no que diz respeito ao meio ambiente como à história.

“Esta é uma exposição sobre a Ilha Rasa e sobre a Mata Atlântica”, define Michel. Há elementos da fauna, e da flora, como insetos e plantas nativas, bem como ossadas de um sambaqui, que indicam ter havido uma população da ilha há 6 mil anos. Os alunos Elizandra, Evelyn, Beatriz e Evandro (foto), todos da oitava série do ensino fundamental, fazem parte do grupo empenhado em conhecer melhor a Ilha Rasa. Afinal, dizem, é lá que vivem e é lá que querem viver da melhor forma possível, agindo sobre a realidade.

Mais que trocar de cidade ou mudar de vida, o projeto de Michel parece ser o de oferecer aos alunos uma educação de qualidade. Para ele, a formação da cidadania está diretamente ligada a isso e, principalmente, à possibilidade de interagir com a comunidade em busca de melhor qualidade de vida.