Alerta global

São Paulo – A qualidade do ar nas megacidades não pode ser vista como uma questão exclusivamente local. Pelo contrário, ela se tornou um problema a ser resolvido globalmente, por causa do inter-relacionamento muito próximo entre os gases associados com a poluição urbana e os gases de efeito estufa de vida mais longa dispersos na atmosfera.

Essa foi a mensagem dada por Paulo Eduardo Artaxo Netto, chefe do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), em São Paulo, durante palestra no 15.º Congresso Brasileiro de Meteorologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Meteorologia.

“A poluição urbana deixou de ser um problema local. Hoje, é absolutamente crítico o tratamento da questão da redução da mudança climática global e da poluição do ar de modo integrado”, disse. “As comunidades de cientistas que antigamente tinham pouca intersecção, sobretudo a de químicos, climatologistas e daqueles que estudam o funcionamento dos ecossistemas, passaram a trabalhar com uma abordagem bem mais integrada do que há 10 ou 15 anos”, afirmou.

Por outro lado, essas questões também devem ter respostas regionais e individualizadas. Segundo Artaxo, as soluções para o Brasil não serão as mesmas da China ou da Europa, até mesmo porque o processo de urbanização está sendo feito em ritmo distinto entre os países e também em velocidade muito maior do que a projetada há alguns anos. “A problemática dos poluentes urbanos e das emissões globais de gases estufa é diferente em cada região. Mas, para resolvê-la, as fontes de emissão devem ser controladas conjuntamente para que tenhamos um meio ambiente mais saudável, tanto local como globalmente”, afirmou Artaxo.

Segundo ele, que integra o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), essas importantes discussões são determinadas pelo rápido aumento populacional: a previsão é que a população urbana da Ásia, que já passa de 1,3 bilhão de habitantes, chegue a um contingente de pelo menos 2 bilhões em 2015.

“Nova Déli, na Índia, praticamente dobrou de 1974 a 1999 do ponto de vista da população. Isso mostra que o crescimento dos grandes aglomerados urbanos também é um processo global que deve ser tratado como tal”, apontou.

Urbanização

O índice de urbanização na América Latina hoje é maior de 75%, com cerca de 350 cidades no continente com população acima dos 300 mil habitantes. “E a projeção é que esse índice chegue próximo de 90% em 2030, dado que está sendo essencial para a administração da qualidade dos recursos atmosféricos”, disse.

Artaxo lembrou que o setor de transporte, uma das maiores fontes mundiais de óxido nítrico e monóxido de carbono nas grandes cidades, atualmente é responsável por 19% do total da emissão de gases do efeito estufa em todo o mundo, fração maior do que as emissões mundiais de gases devido às queimadas (17%).

Tanto por conta de seu efeito como poluente em áreas urbanas como pelo seu efeito climático no que diz respeito à questão radioativa, Artaxo destacou o preocupante aumento das concentrações globais de ozônio, um dos gases mais importantes do efeito estufa, ao lado do gás carbônico e do metano.