A descoberta do mais velho planeta conhecido

O telescópio espacial Hubble permitiu ao astrônomo norte-americano Band Hansen, e sua equipe: Hasvey Richer, Stein Sigurdssin, Ingrid Stairs e Stephan Thorsett descobrirem o mais velho e distante planeta conhecido – um astro com as dimensões de Júpiter -, que gira ao redor de uma estrela jovem semelhante ao Sol. Localizado na Via-Láctea, a distancia de 5600 anos-luz da Terra, no aglomerado estelar globular Messier 4. Este aglomerado é facilmente visível na constelação do Escorpião.

Com a idade estimada em 13 bilhões de anos, o planeta é quase três vezes mais velho do que a Terra, cuja idade é de cerca de 4,5 bilhões de anos. Essa idade sugere que ele tenha se formado há apenas um bilhão de anos depois do Big-Bang (Grande explosão) que deu origem ao nosso universo. O mais antigo planeta deve ter tido uma notável história em virtude dos seus vizinhos. Esse conjunto consumiu-se ao atravessar a multidão do núcleo de um aglomerado de mais de 100 mil estrelas. Até as recentes observações efetuadas pelo Hubble, os astrônomos questionavam a identidade desse objeto. Poderia tratar-se de um planeta ou uma anã marrom, ou seja, uma estrela que abortou ainda durante a sua formação sem alcançar o estágio estelar.

As análises das observações realizadas com o telescópio espacial Hubble mostram que o objeto possui uma massa 2,5 vezes a de Júpiter, o que confirmaria a idéia de que se trata realmente de um planeta. Sua existência constitui um tentador indício de que os primeiros planetas se formaram rapidamente em um bilhão de anos depois do Big-Bang. Em conseqüência, os astrônomos foram conduzidos à conclusão de que a existência de planetas extrassolares deve ser muito mais abundante na nossa Galáxia.

O planeta recentemente descoberto está situado no núcleo do velho aglomerado estelar globular Messier 4, situado a uma distância de 5600 anos-luz na constelação do Escorpião. Os aglomerados globulares são diferentes em elementos pesados não tinham sido ainda formados em abundância na fornalha nuclear das estrelas. Em conseqüência, alguns astrônomos afirmavam que os aglomerados globulares não poderiam conter planetas. Essa conclusão foi questionada até que, entre as estrelas descobertas em 1999, o telescópio Hubble encontrou um planeta do tipo jupiteriano entre as estrelas do aglomerado globular 47 Tucana. Parece que os astrônomos estavam procurando planetas em sítios equivocados. Tudo indica que mundos gigantes e gasosos orbitando a grande distância das suas estrelas devem ser comuns nos aglomerados globulares.

Quando este planeta nasceu, ele deveria estar orbitando ao redor de uma jovem estrela amarela a uma distância equivalente à de Júpiter ao nosso Sol. O planeta sobreviveu à radiação ultravioleta, à radiação de supernova e às ondas de choque, que devem ter assolado o jovem aglomerado globular numa furiosa tempestade de fogo durante os primeiros dias de estrela renascida. Por volta desse tempo, a vida multicelular apareceu sobre a Terra, enquanto o planeta e a estrela estavam mergulhados no núcleo de Messier 44. Nessa região densamente povoada de estrelas, o planeta e o seu Sol passaram próximos a um antigo pulsar, formado numa supernova, ainda quando o aglomerado era mais jovem, que também conservava o seu próprio companheiro estelar. Com o seu lento movimento, o Sol e o planeta foram capturados pelo pulsar, cujo companheiro original foi ejetado no espaço, onde se perdeu. O pulsar, o Sol e o planeta foram recolhidos pela ação gravitacional das regiões menos densas do aglomerado. Eventualmente, a estrela idosa transformou-se numa gigante vermelha e transferiu matéria para o pulsar. O momento transportado por essa matéria provocou um movimento de rotação mais rápido da estrela de nêutron, transformando-o em um pulsar com um período da ordem de um milissegundo. Entretanto, o planeta continuou a descrever sua órbita a uma distância de cerca de 4,5 bilhões de quilômetros do par (aproximadamente a mesma distância de Netuno ao Sol).

Ele se assemelha a um planeta gigante gasoso, sem uma superfície sólida como a Terra. Como se formou muito mais cedo do que a vida do universo, é provável que não ainda não houvesse abundante quantidade de elementos tais como carbono e oxigênio. Por essas razões, ele muito provavelmente não desenvolveu nenhuma forma de vida.

Ainda que a vida tenha surgido em, por exemplo, uma sólida lua que esteja orbitando o planeta, é pouco provável que tenha sobrevivido à forte corrente de raios-X que deve ter acompanhado (o spin-up) aparecimento do pulsar. Lamentavelmente, é pouco provável que alguma civilização tenha testemunhado e registrado a história dramática desse planeta, que começou muito próximo ao início do tempo.

Estas idéias propostas pelos astrônomos norte-americanos acima citados parecem altamente especulativas.

O único fato sólido é que o planeta existe. Sua presença foi detectada com base na oscilação gravitacional induzida na órbita de duas estrelas (uma anã branca e uma densa estrela de nêutron). Com referência à idade do planeta – cerca de 12,7 bilhões de anos -, sua fundamentação é também sólida, pois ela se baseia na antiguidade do aglomerado estelar. Com efeito, o aglomerado Messier 4 é conhecido por conter estrelas que são muito velhas, devendo ter se formado há cerca de 13 bilhões de anos.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

é fundador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual hoje é pesquisador-titutar, sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e autor de mais de 70 livros, entre outros, do “Sol e a energia do Terceiro Milênio”. Consulte a homepage:
http://www.ronaldomourao.com

Voltar ao topo