A dança dos asteróides gêmeos

ESO/Divulgação

Até 2000, o 90 Antiope foi considerado um asteróide simples. O sistema duplo foi confirmado pelos grandes telescópios.

São Paulo – O universo está sendo palco de um balé espacial. São dois asteróides, gêmeos, que giram um ao redor do outro como se dançassem um pas-de-deux perpétuo. O par foi observado e descrito em grau de detalhamento sem precedentes por um grupo internacional de astrônomos profissionais e amadores do Brasil, França, Polônia e Estados Unidos.

 O estudo, cujos resultados serão publicados na edição de abril da revista Icarus, foi possível graças a dados obtidos com grandes telescópios como o VLT, do Observatório Europeu Austral (ESO), de 8 metros, associados a observações feitas com telescópios mais modestos, com medidas entre 20 centímetros e 1 metro.

De acordo com um dos autores, o brasileiro Marcelo Assafin, professor do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a caracterização física completa do sistema, conhecido como 90 Antiope, tem um impacto científico importante, uma vez que pouco se sabe sobre a formação de asteróides duplos no cinturão existente entre Marte e Júpiter. ?É uma oportunidade única para saber mais sobre esse tipo de objeto. Os dados que conseguimos já permitem descartar algumas hipóteses sobre sua origem, reforçando a tese de que eles se formaram por reagrupamento de material fragmentado?, disse Assafin.

Combinação

Descoberto em 1886 pelo alemão Robert Luther, o 90 Antiope foi considerado um asteróide simples até 2000. Naquele ano, observações de alta resolução angular feitas no observatório Keck, no Havaí, demonstraram que se tratava do primeiro sistema duplo de asteróides até então registrado.

A equipe responsável pela descoberta em 2000 é a mesma que produziu o novo artigo. Em 2003, sob a coordenação de Pascal Descamps, do Observatório de Paris, o grupo iniciou, no VLT, estudos sistemáticos sobre o 90 Antiope, com uma equipe formada por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, e do Instituto de Mecânica Celeste e Cálculo de Efemérides (IMCCE), da França. ?O sistema duplo foi confirmado pelos grandes telescópios com técnicas de óptica adaptativa, que eliminaram artificialmente o efeito da turbulência atmosférica e permitiram visão semelhante à que se teria a partir do espaço?, explicou Assafin.

Logo se percebeu que, curiosamente, as duas componentes do sistema tinham praticamente o mesmo tamanho e giravam uma em torno da outra. Os pesquisadores tiveram então a idéia de complementar os dados de óptica adaptativa com observações de solo. A partir de 2005, iniciou-se uma ampla campanha que envolveu astrônomos profissionais e amadores de diversos países. Quando um asteróide fica eclipsado pelo outro há uma queda de luz observável. Com a ajuda de um modelo matemático, os cientistas conseguiram inferir o tamanho dos objetos e, pela variação de luz, puderam, como em uma tomografia, determinar sua forma.

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