No Sul, 71% da população não faz exercícios regularmente

Uma pesquisa realizada recentemente pela empresa Hello Research traz dados alarmantes sobre a prática de exercícios no Brasil. De acordo com o levantamento, 66% da população brasileira não tem o hábito de fazer atividades físicas mesmo que de vez em quando. Na região Sul, a porcentagem sobe para 71%. E os dados nacionais mostram que, entre as mulheres, a situação é ainda pior: 76% das representantes do sexo feminino em todo o país podem ser consideradas sedentárias.

Portanto, é a média masculina (55%) que puxa a geral nacional para baixo. O estudo também mostra que pessoas mais velhas são mais sedentárias do que as mais novas – 52% dos jovens de 16 a 24 anos não têm hábito de fazer exercícios regularmente, enquanto a média sobe para 76% entre as pessoas de 60 anos ou mais. Entre a população que possui o hábito de fazer atividades físicas com frequência, os mais citados são futebol (46%), corrida (36%) e musculação (18%).

De acordo com o professor do curso de Educação Física da Unibrasil, Gilson Brun, este novo levantamento vem para confirmar o resultado de outras pesquisas realizadas já há algum anos que também apontam esse caráter de mais sedentarismo entre as mulheres. Ele cita dois estudos semelhantes, o Pés Brasileiros (2010) e o Vigitel (2011) – este último, consulta feita por contato telefônico encomendada pelo Ministério da Saúde. No entanto, apesar de admitir que os resultados da pesquisa da Hello Research serem alarmantes, ele afirma que a realidade pode ser um pouco diferente.

“O problema desse tipo de levantamento é que o foco fica na questão da atividade física como exercício esportivo. De maneira geral, a mulher é mais ativa do que o homem, mas não tem tempo ou o hábito de fazer exercícios constantes porque tem mais afazeres domésticos”, comenta. Ele ainda explica que, mesmo assim, as atividades domésticas não substituem a prática de exercícios físicos regulares. “Elas ajudam na somatória do gasto de energia, mas não podem substituir a atividade física formal, pois não têm a mesma qualidade quando se fala em saúde”, completa.

Por sua vez, a professora de Educação Física da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Edna Maria de Camargo, afirma que não é só a dupla jornada que impede que as mulheres tenham o hábito de fazer exercícios físicos com regularidade. “Já realizamos algumas pesquisas aqui na universidade e, sempre que as mulheres são perguntadas sobre isso, as outras barreiras apontadas por elas são o frio, a falta de companhia e a insegurança nas ruas”, afirma.

A questão do frio está diretamente relacionada à menor autoeficácia das mulheres em relação aos homens, segundo a professora. “O sexo feminino é mais preguiçoso nesse sentido mesmo. Para os homens, o clima não interfere”, explica. A falta de segurança, entretanto, é o principal fator determinante para que elas não façam exercícios. “Curitiba tem uma estrutura muito boa, com estações nas praças e ciclovias e ciclofaixas que estão sendo melhoradas, fazendo com que as pessoas saibam que não é necessário ter dinheiro para fazer exercícios, mas a insegurança não permite que elas aproveitem”.

Para ela, existem algumas barreiras que as mulheres podem superar por conta própria e outras que dependem da sociedade. A criação de mais políticas públicas de segurança é, portanto, crucial para essa mudança de hábitos. Outras medidas para que as mulheres se tornem menos sedentárias seriam conversar com o companheiro para dividir as tarefas da casa, procurar companhia para fazer exercícios e melhorar a autoeficácia, ignorando a preguiça e o frio (na sexta, traremos uma matéria só sobre isso no TDelas).

Essa mudança de hábito é essencial para a saúde da mulher, segundo o médico ortopedista do Hospital Pilar, Paulo Sérgio Matschinske. “O sedentarismo provoca uma baixa na atividade metabólica do indivíduo, o que pode provocar graves lesões no sistema músculo-esquelético, como as tendinites, lombalgias ou até mesmo a osteoporose, tão comum em mulheres de mais idade, depois da menopausa”, comenta. Mas não é só a partir da menopausa que as mulheres devem praticar atividades físicas. “Independente da idade, os exercícios melhoram o metabolismo e trazem benefícios para o sono, o funcionamento intestinal, a atividade cardíaca, além dos músculos e ossos”.