O amor não tem idade

Dia dos namorados: Namorar é para todos e para sempre

Ninguém tem dúvida de que o Dia dos Namorados aqui no Brasil foi criado para desempacar um mês morno para o comércio. Dizem que foi um publicitário que, em 1948, teve a ideia de criar essa data comemorativa e incrementar as vendas, os jantares nos restaurantes e, mais recentemente, o rodízio dos motéis.

Perdeu-se a chance de comemorar junto com boa parte do resto do mundo a data da morte de São Valentim, 14 de fevereiro. Diz a lenda que o bispo romano Valentim realizava casamentos escondidos depois de uma proibição do Imperador Claudius II.
Foi preso e na prisão apaixonou-se pela filha de um carcereiro e lhe enviava bilhetes assinando “de seu Valentinus”, o que tornou-se uma expressão de amor romântico em outras partes do mundo. O pobrezinho foi decapitado, mas depois tornou-se santo e é considerado o guardião dessa rebeldia do amor romântico que desafia até autoridades estabelecidas.

No Brasil temos o dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro, no dia 13 de junho, um dia depois do designado Dia dos Namorados. Parece que namorar é algo apenas para solteiros cujo objetivo é casar. Será que depois do casamento não é mais necessário o namoro? Casar ainda é  um intento muito almejado, basta ver as dezenas de paróquias de Curitiba aproveitando para vender o  bolo de Santo Antônio com mini-imagens do santo escondidas na massa.

O maior bolo tem 14 mil quilos! Há bolo para muitos desesperados, as filas são gigantescas e há quem compre vários pedaços, é claro, aumentando a chance de encontrar o santinho. Quem encontrar uma imagem do santo – não vale engoli-la! – vai casar! Bem, a superstição não diz quando será o casamento, então não basta encontrar o santo e o namorado, é preciso investir na relação, como asseguram os psicólogos.

Namorar é uma palavra que tem significado amplo. Penso que os mais bonitos sentidos de namorar são atrair, encantar-se e cortejar. Estar junto, cativar o outro e fazer-se cativar. É bonito. Namoro é uma palavra bem brasileira, já que em outros idiomas a expressão namorar  ou “pedir em namoro” é traduzida como “convidar para sair”. Aqui para nós o namorar existe durante toda a vida de um casal (ou deveria), de preferência renovando-se continuamente. Os casados não precisam ficar na fila para procurar o santinho no bolo, mas namorar é preciso.

Mesmo em um longo casamento é essencial apaixonar-se várias pelo mesmo parceiro. Deixar as dificuldades se acumularem e esquecer o romantismo no dia a dia é mortal para qualquer relação. Culpa-se tudo: os filhos e seus problemas, a conta de luz, o trânsito, o encanador que não veio, a política, a pia entupida, os quilos a mais, o entusiasmo de menos, tudo desculpa para não namorar.
Geralmente, em pouco tempo de casamento o casal se esquece de viver cada momento,  deixam-se levar pelo conforto até que o tédio se incorpore na rotina e nem mais percebem as qualidades do parceiro que fizeram com que  se apaixonassem. Aquela indiferença já foi amor.

E dos grandes. Que tal, então, aproveitar esse dia de comércio e, homenageando São Valentim, tirar o pó daquelas cantadas e olhos revirados que vocês costumavam fazer no início do relacionamento? Azeitar a ferrugem, polir o enfado, sair da mesmice… qualquer coisa que resgate o bem-querer e o carinho entre vocês.

Com tanta desesperança pelo mundo, comemorar essa data é esperançoso. Não é necessariamente uma data para jovens. É para os emocionalmente maduros, aqueles que  não tem medo de serem vulneráveis. Namorados, casados, amigados, aqueles que querem ficar junto.

Os atuais solteiros e desacompanhados aproveitem para enamorar-se de si mesmo, ou para sair e curtir a data com amigos e podem até posicionar-se na fileira para usufruir o seu pedaço de bolo. Estudos mostram que filas possibilitam encontros interessa,nte. Vai que, né? Se o mundo anda feio, nada como finalizar com um poema do Drummond: “Pois de amor andamos todos precisados! Em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente! Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.”

Lidia Dobrianskyj Weber - Arquivo pessoal

Lidia Dobrianskyj Weber é doutora em Psicologia, palestrante, professora e pesquisadora da UFPR, autora de 13 livros, entre eles, “Família e Desenvolvimento Humano”(Juruá).