Políticas públicas destinadas às mulheres têm se voltado cada vez mais para a violência doméstica. Ao mesmo tempo em que há avanços, ainda existem muitos casos de mulheres que sofrem agressões físicas e morais de seus parceiros ou ex-companheiros. Mas o que os homens acham sobre a violência contra a mulher e como se portam diante disto? Uma pesquisa feita entre agosto e setembro deste ano pelo Instituto Avon, em parceria com o Data Popular, responda estas questões. A publicação Percepções de Homens Sobre a Violência Doméstica contra a Mulher indica que 41% dos brasileiros conhecem um homem que já foi violento em alguma oportunidade com alguma mulher.

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O levantamento ainda aponta que 16% dos homens reconhecem que já cometeram algum tipo de violência com a atual ou a ex-companheira. Isto significa uma população de 8,8 milhões de brasileiros. Mas ainda há milhares que homens que não fizeram o mesmo. A pesquisa também mostra percepções contraditórias dos homens sobre a violência contra a mulher. Os dados apontam que 92% dos homens são favoráveis à Lei Maria da Penha, mas 35% admitem que desconhecem (totalmente ou parcialmente) a legislação. Além disto, 37% acreditam que a aprovação da Lei Maria da Penha fez com que as mulheres passassem a desrespeitar os homens.

A percepção dos homens sobre o que é ou não agressão também é revelada na pesquisa. A maioria dos homens não concorda que a mulher procure a Delegacia da Mulher nos casos de xingamentos, empurrões, humilhações em público, impedimento de sair de casa, ameaças verbais e quando ela é obrigada a fazer sexo sem consentimento. Segundo o levantamento, 53% dos homens apoiam a ida à delegacia quando são arremessados objetos contra as mulheres; 60% concordam em casos de tapas; 77% entendem quando há socos; e 88% dos homens apoiam a denúncia quando ocorrem ameaças com armas.

A pesquisa ainda mostra que a maior parte dos homens agressores (75%) sofreu violência física quando eram crianças. Entre os entrevistados, 46% apanharam do pai e 48% da mãe. Eles também indicaram que não possuem o pai como exemplo de carinho. Para 60% dos homens, o pai era a figura mais brava da família. Os homens apontaram que falar sobre os problemas e dar carinho são comportamentos típicos das mulheres.

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É preciso conscientizar o público masculino

A presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, Rafaela Lupion Mello, afirma que é fundamental conhecer a perspectiva do homem, pois desta maneira, é possível trabalhar sobre o tema com o público masculino. Ela lembra que a violência psíquica também está incluída entre as agressões contra a mulher e que esta informação também deve ser mais difundida na sociedade. “O que mais me chamou atenção (na pesquisa) foi o fato de os homens não encararem como agressões os empurrões, os xingamentos, as ameaças por palavras, forçar a prática sexual e quando a mulher é impedida a mulher de sair”, salienta.

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Rafaela ainda reforça que o conteúdo da Lei Maria da Penha deve ser mais trabalhado com os homens. “Eles alegam conhecer a lei, mas em um senso comum. Os homens não sabem o que ela contém. A maioria é favorável a ela, mas sem conhecer”, conta. Para a secretária municipal da Mulher, Roseli Isidoro, falta conhecimento sobre o que caracteriza a violência contra a mulher, especialmente depois da criação da Lei Maria da Penha. “Antes de a lei ser criada, não havia a tipificação da violência. A lei trouxe o que é violência doméstica e familiar. Mas a sociedade ainda acha que xingar não é violência, mesmo que o xingamento mexa muito com o emocional da mulher. Os homens precisam entender que não é apenas a violência física que deixa marcas”, salienta.

A secretária também ressalta que, por outro lado, cre,sce a quantidade de homens que não aceitam a violência contra a mulher. Roseli acredita que este contingente deve ser incluído até mesmo ajudando na orientação para outros homens. “Temos que trazer estes homens para o nosso lado. Estamos percebendo que os homens estão mais dispostos”, considera. A pesquisa do Instituto Avon aponta que os homens acreditam que a conversa deve ser a saída após um caso de violência. “A mulher precisa tomar coragem e conversar, ainda mais quando surgem sinais que antes não existiam. É preciso coragem para tratar sobre este tema com ele. Este também é um recado para as famílias. Quando começa a acontecer, também cabe aos pais conversarem com os filhos. Não adianta fechar os olhos”, opina Roseli.