Lenda Viva

Vecchio entrou para a história com a camisa do Coxa em 68

Aquele era ‘o maior Campeonato Paranaense de todos os tempos’. Não era para menos. O Atlético formou um esquadrão, que, entre outros, tinha Djalma Santos, Belini, Dorval, Zé Roberto e Zequinha. O Coxa estava armado com Modesto, que era do Santos, e outros bambas. Por isso, costuma-se dizer que o futebol paranaense se divide entre antes e depois de 1968. Após 23 anos, os tradicionais rivais chegavam a uma disputa direta pelo título. A última fora em 1945. Aquilo tinha tudo para ser histórico. E foi. O segundo Atletiba do ano levou 36 mil pessoas ao Belfort Duarte. O campeonato pegava fogo. Os dois turnos chegaram ao fim com Coritiba e Atlético dividindo o primeiro lugar. Era preciso uma decisão extra, numa melhor de 4 pontos.

O primeiro confronto aconteceu no dia 25 de agosto de 1968 e foi vencido pelo Coxa por 2 x 1. O Alviverde precisaria de um simples empate três dias depois, na Vila Capanema, para ficar com o título que insistia em fugir do Alto da Glória desde 1962. Mas quem marcou no começo do segundo tempo foi Zé Roberto, de cabeça, forçando a terceira partida. Porém, o jogo ainda não tinha terminado e ganhava ares dramáticos. Aos 40 minutos, o técnico Francisco José Sarno tirou Walter, colocou Paulo Vecchio e pediu para o gaúcho: ‘Vai lá, meu guri! Faz o gol do título’. E ele fez.

Aos 70 anos, Paulo Vecchio lembra de todos os detalhes do gol. ‘O Belini estava colado em mim, eu pulei erguendo o braço e colocando o corpo na frente e escorei de cabeça. O Arnaldo César Coelho estava pertinho da trave. A bola entrou, ele apitou o gol e terminou a partida. O estádio veio abaixo’, disse.

Antes da partida, Geraldo Damasceno, o Geraldino, que era assistente técnico de Francisco Sarno e foi bicampeão no Ferroviário com Paulo Vecchio disse, batendo no ombro do atacante: ‘O cara para ganhar o título é este Sarno. Ele é o cara do título. Päe ele pra jogar. Não deixa o homem fora, não. Se quer ser campeão, coloca o gaúcho’, recorda Paulo Vecchio. Mas Sarno deixou o atacante de fora. No começo do segundo tempo mandou Paulo Vecchio aquecer no vestiário. Evangelino Neves foi junto com o jogador, com o ouvido colado no rádio para saber o que acontecia em campo. Foi o presidente do time que deu a notícia: ‘O Atlético marcou. Aquece que você vai ter que entrar’.

Mas aos 25 minutos, Sarno tirou Oromar e colocou Walter. ‘Eram vinte e cinco minutos do segundo tempo, eu aquecendo e o cara bota outro. Eu tirei faixas, tirei o uniforme e disse que ia embora. Aí o Evangelino disse que eu ia entrar, que era para eu ficar tranquilo. Eu não queria mais, queria ir embora, mas ele me levou de volta para o campo, sem faixas nos pés, sem nada’, recorda. Depois Paulo Vecchio ficou sabendo que Geraldo Damasceno, que não estava no banco dos reservas, ficou berrando do alambrado para Francisco Sarno: ‘Bota o Paulo, Sarno, bota o Paulo’.

Não sou o Pelé

Diante de tanta tensão, Sarno tinha se esquecido de Paulo Vecchio. Ao ser lembrado por Geraldino, mandou chamar o atacante. Aí, ele tirou Walter para colocar o gaúcho. ‘Eu fui chegando e ele dizendo: pelo amor de Deus, Paulo, vai lá e faz o gol. Vai lá e faz o gol. O repórter de aproximou e perguntou: o que ele disse? Ele disse que quer que eu faça o gol do título. O repórter perguntou: você vai fazer? Sei lá. Eu não sou o Pelé. O Pelé está em Santos. Mas vou tentar’, disse Paulo Vecchio, antes de entrar no gramado. Ele ainda ouviu: ‘Vai lá, meu guri! Faz o gol do título!’. Era Sarno transtornado.

O atacante entrou aos 40 minutos do segundo tempo, sem as faixas que tirou vestiário e logo de cara meteu uma bola na trave. A partida foi correndo, os minutos sendo devorados, o final da partida se aproximou e aí aconteceu aquilo, no último minuto: Paulo Vecchio se livrou de Belini, cortou a trajetória da bola com a cabeça e ela entrou no, ângulo. Era o gol do título. Não era Pelé, mas deu conta do recado mais uma vez.  Entrou para a história do Coxa.