Lendas da Copa

Ricardinho foi convocado em cima da hora para ser “penta”

Faltando pouco mais de 24 horas para o Brasil estrear na Copa do Mundo de 2002 contra a Turquia, os jogadores e o técnico Luiz Felipe Scolari fizeram o reconhecimento do gramado do estádio de Ulsan, na Coreia do Sul. O homem de confiança de Felipão naquele time era o volante Emerson, que também era o capitão da equipe nacional. Os jogadores fizeram um rachão e Emerson foi para o gol, apenas para descontrair. Ao tentar pegar uma bola ele caiu de mau jeito sobre o ombro direito. A queda provocou uma luxação. E aquilo não seria resolvido de um dia para o outro. Ele levaria um mês para se recuperar. O capitão de Felipão estava fora da Copa.

O que foi uma grande tristeza para Emerson, acabou sendo motivo de alegria para o paulistano Ricardo Luiz Pozzi Rodrigues, que passou a maior parte de sua infância e juventude em Curitiba, onde foi relevado para o futebol pelo Paraná Clube e que se destacou com o nome de Ricardinho. A primeira menção sobre a convocação aconteceu quanto ele estava na missa na igreja Nossa Senhora Aparecida, em Curitiba. Ao se lembrar do episódio dez anos depois, o meio-campista disse: “Foi o ápice da minha carreira. Quando começa nas escolinhas ou na base, o atleta sonha em ser jogador profissional, depois em jogar em um grande clube, depois em jogar na seleção e consequentemente jogar uma Copa do Mundo. Depois, para terminar, conquistar uma Copa do Mundo. Consegui passar por estes estágios, entendeu? Então, eu fico satisfeito por ter alcançado estas metas”, disse ele.

E, por esta razão, quando ele encerrou a carreira, não havia razão para estar triste, porque foi um campeão do mundo com a camisa do Brasil. “Eu encerrei a minha carreira satisfeito, feliz e realizado”, disse ele. Mas naquele mês de junho de 2002, quando foi informado de sua convocação, Ricardinho ficou surpreso, ainda mais em cima da hora. “Até por eu não ter sido convocado pelo Felipão nas Eliminatórias em nenhum jogo, eu não tinha expectativa de constar na lista final, né? Estava na minha casa e quando soube da notícia, imediatamente tomei as medidas necessárias para logo integrar a seleção”, disse ele. Mas a sua convocação por pouco foi abortada pela Fifa porque de acordo com o regulamento da entidade, só seria permitida a substituição de algum jogador por motivos médicos até 24 horas antes da primeira partida do mundial. No entanto, a CBF enviou um pedido que foi levado em consideração pela entidade máxima do futebol mundial.

Ricardinho chegou à Coréia do Sul, se integrou ao grupo e ficou com a camisa número 7. Ele disputou duas partidas na vitoriosa campanha do pentacampeonato, sempre entrando no decorrer do jogo. Ambas na primeira fase. A primeira foi diante da China. A estreia aconteceu no dia 8 de junho de 2002. Ele entrou aos 26 minutos do segundo tempo no lugar de Juninho Paulista. O Brasil venceu a China por 4×0 em Suwon, na Coréia. Na partida seguinte, contra a Costa Rica, no dia 13 de junho, Ricardinho voltou a entrar no lugar de Juninho aos 16 minutos do segundo tempo. O Brasil venceu por 5×2. Felipão ainda não tinha o time certo e procurava as peças ideias para levar o Brasil ao título. Outro paranaense naquele grupo, Kleberson se encaixou melhor no esquema e ficou.

A Copa dos ‘erres’

Uma das curiosidades da Copa de 2002 era o núcleo principal do Brasil formado por jogadores cujos nomes começavam com a letra R: Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Roberto Carlos. Se Ricardinho garantisse lugar no time principal, seria mais um a reforçar a teoria de que os ‘erres’ decidiram aquela Copa em favor do Brasil.

Lembrança

Sobre a Copa de 2002, Ricardinho não tem do que reclamar: “Não só pela conquista, mas por aquilo que nós criamos como ambiente e grupo naquela Copa do Mundo. Então, eu sinto saudade daquele grupo, daquele pessoal, que tinha uma condição e qualidade privilegiada. Foi muito prazeroso participar daquela conquista”. Mas ele voltaria a disputar outra Copa do Mu,ndo, quatro anos depois, na Alemanha. Desta vez com a camisa número 20 e também como na vez anterior, entrando no decorrer do jogo. O meia-direita entrou no lugar de Ronaldinho Gaúcho aos 26 minutos do segundo tempo na partida em que o Brasil derrotou o Japão por 4×1, em Dortmund, no dia 22 de junho. Era o terceiro e último jogo da primeira fase.

O meio-campista participou do jogo válido pelas oitavas de final, contra Gana, no dia 26 de junho, em Dortmund. Ricardinho entrou no lugar de Kaká aos 38 minutos do segundo tempo. O Brasil derrotou a seleção africana por 3×0. No entanto, ao contrário da Copa no Japão e Coréia do Sul, a Copa de 2006 não deixou saudades. O Brasil voltou mais cedo para casa ao perder por 1×0 para a França do craque Zinedine Zidane, no Fifa WM-Stadion em Frankfurt, no dia 1º de julho. E uma campanha que parecia trilhar com o mesmo êxito da anterior, de repente falhou num vacilo do lateral-esquerdo Roberto Carlos que em vez de marcar o atacante francês Henry, resolveu amarrar as chuteiras. As chuteiras ficaram firmes, mas para grande parte daquela geração se fechou um ciclo do futebol brasileiro. Quanto a Ricardinho, ele fez um total de 23 jogos pela seleção brasileira entre 2000 e 2006. Venceu 13, empatou cinco e perdeu quatro. Marcou um gol.

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