Show no Maraca

Pedrinho passou de Paranaense obscuro ao “Rei da Cocada Preta”

O diário esportivo de maior circulação da América do Sul, de propriedade de Mário Rodrigues Filho (que dá nome oficial ao Maracanã, além de ser irmão do dramaturgo e colunista Nelson Rodrigues), o Jornal dos Sports publicou na primeira página de sua edição de 1º de agosto de 1965, um domingo: “Fla derruba Bangu da liderança: 2 a 1”. A vitória foi atribuída, “sobretudo graças às jogadas de Pedrinho, homem de meio-campo que estreou como extrema-direita, e realizou os lances decisivos da partida”. O juiz da partida foi Armando Marques, que irritou a torcida com sua exagerada gesticulação e a renda somou CR$ 10.680.760.

Pedrinho chegou ao Rio de Janeiro assumindo que era caipira e humilde. “Eu cheguei com tanta humildade no Rio de Janeiro que cumprimentava até porteiro de hotel”, diz ele. A escalação de Pedrinho aconteceu quase por acaso. Para começar, ele era meia-direita. E vinha nos aspirantes. “Era tudo a mesma coisa. Quando eu cheguei, eu fui treinar e jogar pelo aspirante. Que já era um bom negócio porque aspirante naquele tempo também recebia bicho. Eu fazia amistosos pelo Brasil e jogava o campeonato de aspirante. Eu treinei naquela semana e depois fui para minha casa. Eu morava perto da Gávea e foram lá e bateram na porta de minha casa. Vieram me chamar e disseram que era para eu ir para São Conrado, onde o time titular estava concentrado. Eu peguei e fui”, conta ele.

O jogo era contra o Bangu, que nos anos 60 tinha um timão e liderava o campeonato. “Eu tive uma sorte danada. Eu era um guri. Não tinha bagagem e nem jogos suficientes para ser titular. Aí me disseram que eu tinha que fazer o jogo com o Bangu porque o Amauri não podia jogar. Ele jogava na ponta-direita e eles não tinham ninguém para colocar na posição e me chamaram. Eu fui para o jogo e fiz os dois lances do gol”, conta ele. Pedrinho resume o que significou aquele jogo em sua carreira: “No dia seguinte eu era o Rei da Cocada Preta”, resume. Na realidade, nem era para Pedrinho entrar para o jogo. O lugar esteve perto de Fio Maravilha, que naquele tempo era apenas Fio. Mas o técnico interino Newton Canegal resolveu arriscar.

“Pedrinho começou um tanto desambientado na nova posição, mas com apenas dez minutos de jogo já procurava resolver por conta própria seus problemas, tentando chegar à linha de fundo, quando sentia haver oportunidade para isto ou trocando passes com Paulo Alves”, completou o jornal. Resumo da resenha: ele criou as jogadas que redundaram em gols de Paulo Chôco e Silva aos 16 e 39 minutos do primeiro tempo. E foi assim que Pedrinho fez sua estreia com a camisa do Flamengo no Maracanã. Depois do jogo, ele declarou: “Nunca joguei na ponta, mas seu Newton precisou de mim e não podia me negar a atuar fora de minha real posição, pois era uma emergência. Contudo não pretendo seguir carreira como ponteiro direito, já que só me sinto bem, realmente, de meia-armador”.

Como ele atuou nesta posição, não foi segredo: “A instrução tinha como finalidade o meu lançamento em profundidade, nas costas do marcador. Cumpri a determinação e os demais companheiros também, já que os dois gols surgiram dos meus pés, depois de receber por trás do Ari Clemente”. No entanto, Pedrinho continuaria a jogar de ponta-direita e atuando como meia-armador, uma forma de conciliar a sua vontade e a necessidade do time. As coisas para ele ficaram melhores no Flamengo porque o técnico Flávio Costa foi embora para Portugal onde dirigiu o Futebol Clube do Porto. Algum tempo depois o interino Canegal passou o bastão e quem chegou para comandar o Mengão foi Armando Renganeschi que introduziu o 4-3-3. “Com o Renganeschi, eu joguei como terceiro homem de meio-campo, formando pelo lado direito o ponta recuado que ajuda o meio campo”, diz Pedrinho.

Passagem

Pedrinho ficou de 1965 a 1967 no Flamengo, quando se transferiu para o Paraná, desta vez para o Água Verde, aonde chegou com o campeonato estadual em andamento, mas fez o suficiente para participar ,da conquista do titulo estadual daquele ano com a camisa do alviverde da Vila Guaíra. No único título em que o clube do bairro conquistou em sua longa história, com todos os nomes que teve até então, desde que foi fundado há cem anos, em julho de 1914, como Savóia Futebol Clube.