Aquilo era uma piada

No Londrina, Serginho encarou a aventura mais hilária de sua vida

Em 1995, Serginho deixou o Santo André para defender o Londrina. Não havia motivo para temores. Mas o que o meia-direita não sabia era que ia entrar para a aventura mais hilária de sua carreira de jogador profissional e um dos folclores da história do futebol brasileiro. “Quando eu cheguei na cidade, fiquei sabendo que o técnico era o Nuno Leal Maia”, diz ele. Maia estava no auge da popularidade. “E o auxiliar técnico era o Saci”, completa Serginho. Aquilo era, no mínimo, uma novidade.

Nuno e Saci (o ator Romeu Evaristo, que interpretou o Saci Pererê no Sítio do Pica Pau Amarelo e está no elenco do humorístico Zorra Total) eram bons sujeitos, mas conciliar futebol com novela era até aquele momento coisa inédita no futebol brasileiro. E a partir daquela temporada não foi mais. Aliás, embora a temporada para o Londrina fosse uma zorra quase total, não chegou a ser total, enquanto o time esteve sob o comando do ator global. “Eles, Nuno e o Saci, estiveram na Paraíba, treinando o Botafogo. Eles trouxeram o Severo, que era auxiliar deles por lá”, diz Serginho. Era o Severo que tentava dar alguma severidade para o time, porque Nuno Leal Maia passava de segunda a quinta-feira gravando novelas.

“Ele chegava quinta-feira e ficava até domingo e depois voltava correndo para o Rio de Janeiro”, diz Serginho. Quando tinha jogo no meio da semana, a coisa complicava, porque Nuno tinha que largar tudo no Rio e correr para a cidade onde o time ia disputar a partida. “Aquilo era uma piada”, diz. E a piada ficava ainda mais picante com a atuação do presidente do clube, Marcelo Caldarelli, que resolveu inovar e anunciou em caso de vitória do time no Paranaense, pagar bicho com bicho. No caso, seria vaca. E para ninguém pensar que ele blefava, ele levou os jogadores para correr atrás do bicho no pasto antes de correr atrás do bicho em campo nos dias de jogos. Foi uma festa para os programas de televisão.

Cíciro Back

“Ele queria botar vaca atrás do gol para o jogador pegar em caso de vitória. Era uma coisa maluca! Mas era tudo mentira. Ele não tinha boi e nem vaca. Ele levou a gente para fazer matérias para a revista Placar e para a televisão em três fazendas diferentes, de amigos dele”, diz Serginho. O bicho não existia. O mais curioso é que toda esta esbórnia não incomodava os jogadores. “Com o Nuno a gente se entendia bem, porque ele deixava nas mãos minha, do Gilmar e do Márcio Alcântara e a gente procurava resolver”, diz ele. Nuno se esforçava. Com o pé direito numa canoa e o pé esquerdo em outra. Até que um dia entrou água para valer na canoa.

Na véspera do dia 14 de fevereiro, quarta-feira, jogo contra o Paraná, na Vila Capanema, caiu uma chuva torrencial no Rio de Janeiro. Nuno Leal Maia ficou encurralado. “Ele chegou todo sujo no dia seguinte, às 17h, no hotel em que a gente estava concentrado. A gente estava fazendo lanche porque o jogo seria às 20h30. Ou seja, não havia mais nada a fazer. Ele chamou a gente para uma preleção. Estava todo sujo. Ele ficou olhando e disse: eu tentei sair ontem do estúdio da Globo, mas não consegui por causa da chuva. Eu fiquei no túnel da Barra a noite inteira. Hoje de manhã eu sai de helicóptero para o aeroporto onde peguei avião para vir aqui. Olha como eu estou!”, disse.

Cíciro Back

Todo mundo olhando. “Ele estava um bagaço. Ele disse que não dormiu, que estava cansado e depois ficou em silêncio. Ele gostava de fazer preleção”, conta Serginho. Mas ali não deu. “Em seguida ele disse: vocês sabem o que devem fazer. Está tudo d,ez. Vão lá e façam”, completou. E foi tomar banho e, depois, jantar que estava com fome. Depois foi com o time para o estádio. Mesmo assim o Londrina empatou em um gol com o Paraná. Gol do Londrina anotado por Serginho. O mais bizarro em toda esta história é que o Londrina fez campanha até razoável sob o comando de Nuno Leal Maia. Quando o time contratou um técnico de verdade, Urubatão, a maionese desandou de vez. Todo mundo brigou e o time despencou.

Resumo da história. Serginho deixou o Londrina com um cheque na mão. O cheque não tinha fundos: “Aí fui cobrar do Caldarelli e ele disse: ah, rapaz, eu fiz isso porque você não precisa. Você é rico. Tive que pagar os outros”. Aquela temporada foi uma coisa de louco. E o drible da vaca, naquela temporada, foi no pasto.

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