O curitibano Mário da Rocha, nascido na Vila Izabel no dia 10 de junho de 1951, morreu ontem cego e vítima de câncer que o consumia. Mais que isso, morreu desamparado, abandonado e pedindo ajuda. Estava sem dinheiro até para pagar o aluguel da casa humilde em que morava no Boqueirão, às margens do Rio Belém.

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E não foi falta de alerta. A Tribuna noticiou na semana passada, na primeira página: “ex-jogador precisa de ajuda”. Sim. O Mário em questão é Marinho, um dos grandes ídolos do futebol paranaense dos anos 70 e 80, campeão com as camisas de Colorado e do Pinheiros. No ano passado foi feito o mesmo alerta.

Quando a Tribuna iniciou em junho passado a série Lendas Vidas do Futebol Paranaense, Marinho foi o terceiro jogador a ser entrevistado, depois de Sicupira e Kruger. Foi o primeiro do Colorado. A ideia do colega de redação Jorge Luiz da Silva, que convive com amigos de Marinho nos campos da Suburbana, era resgatar para as novas gerações a história de um grande craque, mas também mostrar o drama que estava vivendo, para que ele recebesse alguma ajuda.

A ideia era sensibilizar o Paraná Clube, equipe que nasceu da fusão dos dois clubes em que Marinho foi ídolo (Colorado e Pinheiros), para fazer uma partida de despedida. E com tal partida, não só fazer uma justa homenagem, como tentar levantar algum recurso para aliviar o seu drama.

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Conversa rolou daqui, conversa rolou dali, mas de concreto, nada. Marinho foi embora sem dizer o adeus que ele queria dar – e sem ouvir os últimos aplausos. Ele não recebeu a ajuda que queria do clube que, embora ande mal das pernas no território financeiro e administrativamente não tem sido um exemplo gerencial, poderia fazer um gesto de solidariedade e elegância. Eu entrevistei Marinho na tarde de 17 de junho de 2013. A situação àquela época era de penúria. Estava cego, a mulher Rose estava com câncer e ele sem recursos para viver e se tratar.

A filha Andréia deixou o emprego para cuidar dos pais. “Eu tinha um problema na córnea e não tratei. Quando fui perceber, estava cego. Fiquei assim um ano”, me contou no sofá de sua casa.

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Algumas semanas antes ele fora assaltado por dois homens que levaram carteira com o pouco dinheiro e documentos. E levaram até o cartão do auxílio doença de onde tirava a escassa fonte de subsistência. Quem o via e não o conhecia não apostava um tostão que aquele baixinho moreno que andava oscilante e tateando pelos muros para chegar em casa atuou no cenário nacional e internacional ao lado de jogadores como Manoel Maria, Adãozinho, Neneca e craques da seleção brasileira como Dirceu, Careca, Zenon, Renato, Manga e outros.

Ele foi um craque. Dono de um estilo elegante e sinuoso. Marinho parou de jogar futebol em 1992. Não é exagero dizer que Marinho morreu à míngua.