Ex-jogadores do Morgenau relembram bons tempos

Djalma Melo, de 79 anos, tem uma boa razão para ser orgulhoso. Ele é pai de Luís Melo, um dos melhores atores brasileiros, dono de performances extraordinárias no teatro, no cinema e na televisão. Mas Djalma, como era conhecido entre as quatro linhas do gramado, também tem uma história pessoal para contar: foi goleiro do Bloco Morgenau desde as bases e por três temporadas no profissionalismo.

Djalma lembra até hoje como foi parar no gol: “Eu estudava no Colégio Santa Maria e o time da escola fez uma excursão para Rio Negro. Na hora do jogo, o goleiro caiu num poço que havia embaixo da arquibancada e não pode jogar. Ficamos sem goleiro. O irmão Anselmo olhou para a garotada, e como eu era um dos mais altos e fortes, disse: Melo, vai pro gol. Eu fui e nunca mais sai”. Como ele morava nas proximidades (mora até hoje no Jardim Social) acabou indo para o gol do Bloco Morgenau.

Hoje é possível encontrar Djalma na Sociedade Morgenau. Ele e velhos boleiros dos anos 1950. É o caso, por exemplo, de Tadeu Simão, 72 anos, que foi centroavante do Bloco Morgenau. Ele explica as dificuldades do Bloco Morgenau para se impor aos adversários. “Primeiro, nós não ganhávamos para jogar. Nós não éramos profissionais no sentido de ser remunerado. A gente jogava porque gostava. Depois, só treinávamos no nosso campo. Para mandar jogos, era sempre em outros estádios, por que o nosso não tinha arquibancadas. Mandamos jogos no estádio do Coritiba, do Ferroviário, do Atlético e até do Primavera”, conta. “Aí ficava difícil”, resume.

Além disso, o profissionalismo em Curitiba era um arremedo de profissionalismo. Quem jogava no Atlético, ganhava emprego no governo do Estado; quem jogava no Ferroviário, pegava emprego na Rede Ferroviária; quem jogava no Coritiba, ganhava através de empresas da iniciativa privada que davam suporte ao clube. Quem jogava nos outros times não ganhava nada. Só o bicho. E bicho, só saia quando vencia. E como era difícil vencer, o dinheiro no Bloco Morgenau era que nem marido malandro: nunca aparecia e quando aparecia não dava pra contar com ele.

Mas o Bloco Morgenau podia ser um time profissional de “amadores”, mas também tinha sangue nas veias. Teve um jogo em que o time perdia por 3 x 0 para o Coritiba e a partida caminhava para ser a goleada de sempre, quando um jogador tinhoso do Coritiba – Miltinho – resolveu esnobar o adversário. A moçada do Bloco se enfezou, partiu pra cima do Coxa e empatou o duelo, naquele que é conhecido com o “grande jogo” da história do Bloco Morgenau.