Natal apareceu no Atlético Paranaense em 1969, num time entupido de estrelas. “Eu trabalhava na Secretaria de Viação e Obras Públicas onde havia diretores atleticanos. Eles me chamaram para fazer testes”, conta Natal. Ele disse: “Eu não faço teste. Ou vou ou não vou”. Ele foi. O time tinha Bellini, Djalma Santos, Dorval, Nilson Borges, Sicupira, uma constelação de craques. “Eu treinava bem e o técnico escalava o Zequinha ou outro. Ele era amigo do Zequinha, aquele que esteve no Palmeiras. Mas o Zequinha esteve parado, não rendia tanto”, conta Natal. No 5 de abril o Atlético enfrentou o Grêmio Oeste de Guarapuava na Baixada. “O Atlético perdia de 1×0 para o Grêmio Oeste. O técnico me colocou e eu fiz dois gols da virada. Os dois de falta. O Atlético ganhou de 4×1. Quinze dias depois teve um Atletiba no Belfort Duarte. Treinei a semana toda no time de cima. No dia do jogo o técnico me chamou: Natal, eu preciso falar com você. Quando ele disse isso, eu já pensei: Vai me botar no banco mais uma vez”, conta.

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Não deu outra. O técnico mandou Helinho para o jogo. “O Helinho jogava muito bem. Estava jogando um bolão. Tudo bem. Eu fui muito insatisfeito para o banco pelas circunstâncias. E fiquei lá”. E Helinho e todo time até que jogou bem. Jogo duro. Que não tem Atletiba mole. “Aí Passarinho faz um a zero para o Coxa”. A torcida do Coritiba passou a irritar ainda mais os atleticanos, cantando: “Um elefante incomoda muita gente, mas um Passarinho incomoda muito mais”. No intervalo o técnico chega e diz: “Natal, eu vou botar você no segundo tempo para decidir o jogo”. Começou o segundo tempo e nada. “Aí quando faltavam 20 minutos para acabar a partida, ele quis me colocar. Eu disse que não ia entrar. Eu treinei a semana toda e ele me deixou no banco. Quando o time estava levando um sufoco danado ele resolve me colocar?”, conta Natal. Na realidade, este jogo foi realmente uma batalha. Natal afirmou que o técnico era o Alfredo Ramos. Na realidade, o técnico dos jogos contra o Grêmio Oeste e o Coritiba foi Geraldino.

O jogo foi tão encardido, que a diretoria do Atlético ameaçou abandonar o campeonato alguns dias depois alegando que a arbitragem influenciou. Nair saiu de campo chorando. “Depois dessa, só sei que não vou dormir à noite”, disse. Bellini resmungou: “Eles devem ter uns dez pais-de-santo trabalhando para eles. Não é possível”. Sicupira estava desconsolado: “Assim até dá vontade de parar com o futebol”.

“Uma boa turma de bandidos”

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A derrota no Atletiba custou caro para Geraldino que, na partida seguinte, quando o Atlético Paranaense perdeu para o Atlético de Paranavaí por 2×1, foi demitido. Djalma Santos assumiu o comando técnico. A direção do Atlético diagnosticou: “Uma boa pessoa. É honesto. Mas as suas substituições eram infelizes”. Mas também foi decisiva para o futuro de Natal no Atlético. Ele ainda continuou no clube por algum tempo, mas logo parou. “E foi assim que eu rescindi o contrato e decidi parar com o futebol”, diz Natal.

No entanto ele tem saudades daquele time do Atlético de 1969. “Era tudo bandido. Tudo gente boa. Eu nunca vi um time em toda a minha vida jogar tanto baralho e beber tanto como aquele time do Atlético de 1969. Deus me livre! A gente saía junto, uma turma boa, eu, o Djalma Santos, o Sicupira e outros. A gente saía daqui de ônibus para jogar em Bandeirantes jogando baralho a viagem inteira. Era uma turma boa de bandido”, diz ele.

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Mesmo depois de anunciar sua aposentadoria, Natal continuou jogando futebol. Agora no Ferroviário. “Eu morava na frente do estádio Durival de Brito e Silva. E me encontrei com o Hipólito Árzua que foi diretor da Federação Paranaense no tempo da seleção paranaense, em 1962. Ele me convidou para jogar no Ferroviário. Eu fui lá fiquei mais um ano e desta vez eu parei de verdade. Foi em 1970. Teve ainda o episódio da Pontagrossense,. Mas aí eu decidi que tinha parado de vez e não joguei pela Pontagrossense que queria me levar para lá”, diz ele, contando que, por sua identificação com o Guarani, não cogitou encerrar a careira por outro time de Ponta Grossa.