Britânia tem lugar na galeria dos melhores times do PR

Extinto há mais de 40 anos, o Britânia Sport Club ainda hoje é um dos cinco clubes com o maior número de conquistas estaduais. Fundado em novembro de 1914, numa reunião ocorrida numa casa comercial chamada Solheid & Cia, que ficava na Rua Rateclif – mais tarde denominada Desembargador Westphalen -, o time vermelho e branco transformou-se na potência do Estado e nos primeiros quinze anos do Campeonato Paranaense sagrou-se hexacampeão (marca que o Coritiba igualaria 50 anos depois).

Além de ser um dos dois hexacampeões estaduais, o Britânia estabeleceu marcas que garantem a ele lugar especial na galeria dos grandes clubes do Paraná: foi campeão no ano do centenário da Independência do Brasil (1922), conquistou três campeonatos de forma invicta (1921, 1922 e 1923) e em sete ocasiões cravou o artilheiro da competição. O Britânia dos anos 1910 e 1920 era quase imbatível.

Em seus primeiros anos, o time treinava num terreno onde hoje fica a Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Naquele tempo, era uma área fora da cidade, pois o perímetro urbano terminava na Rua Visconde de Guarapuava. Na Rua Rateclif, existiam vários prostíbulos que se enfileiravam até um matagal. De acordo com Carneiro Neto, que pesquisou a história do clube, as pessoas à época costumavam dizer que do mato para frente era possível encontrar de tudo, até tigres. E a área ficou conhecida como “Zona do Tigre”. E como o Britânia treinava por ali, ficou conhecido pela alcunha de “Tigre”.

Outra versão sobre o nascimento do Britânia é a de que havia no “Quarteirão do Tigre”, entre as ruas João Negrão, Marechal Floriano Peixoto e a atual Desembargador Westphalen, dois times – o Tigre Futebol Clube e o Leão Futebol Clube, ambos formados por jovens da região -, que depois de uma partida vencida pelo primeiro se confraternizaram no dia 19 de novembro de 1914. Foi aí que Carlos Thá teve a ideia de propor a fusão das duas equipes numa mais forte, dando a ela o nome de Britânia, em homenagem à Inglaterra, por ser o berço do futebol. De qualquer forma, o apelido “Tigre” pegou.

Curitiba em festa

Alguns anos depois da fundação, o clube construiu o estádio da Fazendinha, no Portão. Ao mesmo tempo ergueu uma sede social num belo prédio na Praça Eufrásio Correia, em frente à antiga Estação Ferroviária. Todos os domingos havia jogos, jantares e bailes. Eram os anos 1920 e 1930 e Curitiba era uma festa. As vitórias e títulos eram comemorados com grandes reuniões festivas, reunindo as moças mais bonitas da sociedade. Naquela época, as melhores e mais badaladas festas aconteciam no Britânia, principalmente se o pessoal estava animado com uma vitória do esquadrão alvirrubro.

Mais alguns anos se passaram e o clube vendeu o estádio da Fazendinha. A prefeitura cedeu o terreno onde hoje se encontra a Praça do Japão para a construção do novo estádio. O time cercou a área, mas não iniciou as obras, porque algum tempo depois a prefeitura propôs novo negócio: a troca daquele terreno por outro, que ficava na Estratégia, nome da estrada entre Curitiba e São José dos Pinhais – construída pelos americanos durante a guerra. Já estamos entre os anos 1950 e 1960. O Britânia demorou, mas acabou construindo nas proximidades da BR-116, na Avenida Comendador Franco, o Estádio Paula Soares, inaugurado em 1965, quando o clube se encontrava em franca decadência.

O time que entrou em campo no dia da inauguração era formado por Barbosa; Zé Carlos, Acir, Marcelo e Antero; Clayton, Grilo, Fiuzza e Airton; Krüger, Soca e Martins. Soca fora campeão pelo Grêmio de Maringá, em 1963, e Krüger viria a ser grande ídolo do Coritiba. Com o encerramento das atividades do clube em 1968, o estádio do Britânia serviu de trunfo para a fusão que deu origem ao Colorado. O patrim&ocir,c;nio, em seguida, passou ao Paraná Clube, que o vendeu em 1998 para a rede atacadista Sonae construir o Big Hipermercados.

Caça aos craques

Mas se o Britânia não conseguiu ganhar a guerra pela sobrevivência no futebol em Curitiba, pelo menos garantiu um lugar na história: foi um dos três melhores times paranaenses na primeira metade do século 20, sendo o melhor até 1930, quando a dupla Atletiba começou a se firmar como a grande força da Capital e posteriormente do Estado. Depois do surgimento do Clube Atlético Ferroviário, vinculado à Viação Ferroviária Paraná-Santa Catarina – e resultado de uma dissidência do alvirrubro -, o Britânia acusou o golpe de misericórdia e iniciou sua decadência.

Além disso, o Trio de Ferro jogava pesado e assediava os melhores jogadores de adversários mais fracos, oferecendo empregos e vantagens. No caso do Atlético, emprego no governo estadual; do Ferroviário, na Rede Ferroviária Federal; e o Coxa tinha seus argumentos com recursos de empresários fortes que apoiavam o clube. Os demais só olhavam. Carneiro Neto conta no livro sobre os times que deram origem ao Paraná Clube a história de pelo menos dois bons jogadores do Britânia assediados pelo Ferroviário.

Flávio Marinoni jogava no Britânia e trabalhava na Rede Ferroviária. Pressionado a ir para o Boca Negra, ele continuou no Tigre. O caso de Rafael Machado, o Faéco, é mais contundente. Ele teve de optar: ou ia para o Ferroviário ou seria exonerado na Rede. Como não queria deixar o Britânia, mas não podia ficar sem emprego, Faéco simplesmente abandonou o futebol. O goleiro Altevir, que foi ídolo no Atlético, foi outro que começou no futebol profissional com a camisa do Britânia. O Tigre foi extinto, mas suas glórias estão registradas na história.

Divulgação
Área do estádio foi vendida e transformada em hipermercado.
Divulgação
Equipe do Britânia, 3ª colocada no Estadual de 1964: o último grande time do Tigre.