A mágoa do mestre

A maior decepção da vida do Prof. Miro ocorreu no Couto

O Professor Miro ainda não digeriu o que talvez seja a maior decepção de sua vida. A saída do Coxa no mês de julho de 2014. “Eu falava para os meus amigos: quando eu fizer 50 anos no Coxa, eu vou dar uma festa. Vão ser 50 anos de Coxa e 50 anos de casamento. Vão ser Bodas de Ouro duas vezes”, conta ele. “Mas, infelizmente o Vilson Ribeiro de Andrade me cortou este sonho, mesmo depois de eu ter proporcionado aos cofres do clube com o meu trabalho com os meninos cerca de 30 milhões a 40 milhões de reais de lucro na revelação de jogadores, trabalho feito também pelo meu filho Aramis nos campinhos da região metropolitana e de Curitiba”, completa ele. A mágoa com o clube leva-o a recordar os sacrifícios feitos durante décadas com as categorias infantil, mirim e pré-mirim. “Eu fazia tudo”, diz ele.

“Quando eu viajava, ia eu e meu filho Aramis sozinhos com o motorista. Hoje o jogador tem até maquiador no clube. Aquele tempo não tinha nada disso”, diz ele. “A minha mulher, Dona Alzeria Nicolau Bueno, lavava os uniformes depois dos jogos”, diz ele. “No começo, quando comecei a treinar os garotos, não tínhamos campos de futebol para treinar. Naquele tempo, nos anos 60 e 70, não se dava o valor que se dá hoje à formação de jogadores desde a infância. Naquela época tinha o time profissional, o aspirante e o juvenil, que tinha jogadores de até 20 anos. De 1970 para cá encaixaram também a categoria infantil. Mas quem começou com isso aqui no Paraná praticamente fui eu. Naquela época não existia escolinhas. Hoje existem milhares”, diz ele.

Um dos maiores problemas era encontrar campos para treinar. “Tinha campos, mas poucos cediam para os meninos”, diz ele. Miro estimulava os garotos levando-os para jogar nos dias de jogos do Coritiba. “Antes da partida e nos intervalos iam duas equipes, uma com as camisas do Coritiba e outra com as do adversário. Era uma festa para os meninos. O Alex esteve em muitos destes jogos”, diz ele.

Os troféus

Apesar da precariedade enfrentada durante a parte inicial deste trabalho, os meninos do Coritiba acumularam mais de 100 troféus, que hoje estão num quarto no apartamento do Professor Miro no Cristo Rei – e que estão na foto da página 3. “Eu comecei a trazer os troféus para casa, depois de um dia que pedi para ver o troféu de campeão em 1975, ao vencer o Segundo Campeonato Dente de Leite e conquistar o Troféu Bamerindus, que foi entregue pelo Basílio Vilani, que era diretor do banco”, diz ele.

“Era um troféu de madeira, uma obra de arte encomendada a um artista. Foi o troféu mais bonito que os meninos ganharam. Então, algum tempo depois, eu quis rever o troféu e o reencontrei jogado num canto. Ele estava quebrado. Aquilo me cortou o coração. E a partir daí eu comecei a trazer os troféus para casa”, diz ele. Em seguida, ele acrescenta: “Mas eu não me apropriei dos troféus. Eu quero e vou devolver para o Coritiba, pois pertencem ao clube. Quero apenas que tenham uma sala para eles e que não tenham o mesmo destino do troféu do Bamerindus”.