Explode rebelião na Penitenciária de Piraquara

Ao abrir uma das celas da 7.ª galeria da Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP) para encaminhar o detento ao pátio, um agente penitenciário foi rendido – com um revólver feito de sabão – e o preso deu início a uma rebelião. Durante o motim, que começou na manhã de ontem e só terminou no final da noite, dois internos foram assassinados e três agentes penitenciários foram mantidos como reféns. Segundo o secretário da Justiça, Aldo Parzianello, a rebelião foi provocada por 15 dos 21 presos que pedem a transferência para penitenciárias de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O líder da rebelião, Marcelo Amorin Cardoso, conhecido como “Fuscão”, é também líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Paraná.

A rebelião teve início às 9h30, quando os presos seriam encaminhados para o pátio, para o banho de sol. Quando o agente daquela galeria destrancou a porta, um detento a empurrou com bastante violência contra o agente, que caiu no chão. Ele foi rendido com a arma de sabão. Os outros dois agentes que o acompanhavam foram obrigados a abrir as outras celas da galeria. Momentos depois, um desentendimento entre os rebelados das organizações existentes no presídio – PCC E PCP (Primeiro Comando do Paraná) – resultou em duas mortes. Maikon Júlio Passos Ferreira dos Santos, 22 anos, e Saneo Aparecido Santos, 27, foram assassinados a golpes de marreta e pá, ferramentas que estavam no local porque dois detentos de outra galeria realizavam uma reforma nas janelas da galeria. “Eles utilizaram uma marreta que estava sendo usada na reforma, para cometer os crimes”, informou o secretário.

Antecedentes

Maikon, natural de Curitiba estava condenado a 12 anos e 11 meses em regime fechado, por assalto à mão armada, e contava com outras ações penais pelo mesmo crime. Já Saneo, natural de Toledo, era condenado a 10 anos por latrocínio (roubo com morte) e também estava com outras ações pendentes por assalto à mão armada.

Saneo, conforme foi apurado, era integrante do PCC – facção do Paraná – e vinha sendo ameaçado dentro da cadeia porque não queria mais fazer parte da organização criminosa. De acordo com informações de uma agente penitenciário que tinha trabalho na noite anterior, o detento havia tentado se matar no dia 24, cortando os pulsos, após um desentendimento com o líder do PCC, Marcelo Amorim, justamente por querer deixar a organização.

Negociação

O secretário informou, ontem pela manhã, em entrevista coletiva, que um grupo de negociação – em conjunto com o Comitê de Gerenciamento de Crises – estava buscando entendimentos junto aos rebelados. Nas dependências da Secretaria de Justiça, o grupo de gerenciamento de crises ficou responsável por viabilizar as reivindicações dos amotinados e articular as negociações. Este grupo é formado pelo secretário de Justiça Aldo Parzinello; pelo juiz titular da 1.ª Vara de Execuções Penais e Corregedor dos Presídios, Roberto Massaro; pelo promotor do Ministério Público Estadual, Leo Weber Schiller; pelo diretor-geral da Secretaria de Segurança Pública, Marco Antônio Berberi e pelo tenente Gilson Mattos, da Polícia Militar.

Dentro do presídio as negociações foram comandadas pelo tenente-coronel Ademar Moleta e pelo capitão Roberto Sampaio de Araújo, ambos da PM.

Assim que a rebelião começou, o secretário ordenou a todos os presídios do Estado que mantivessem os detentos dentro das celas, para evitar o “efeito cascata”, ou seja, outros motins deflagrados.

Cautela

Na entrevista, o secretário também informou que a prioridade éra zelar pela vida dos três agentes penitenciários que estavam nas mãos dos rebelados. Parzinello já apostava que o motim não iria durar muito tempo, pois metade dos rebeldes estavam desistindo da ação e a água e a luz daquela galeria foram cortadas. Uma comissão formada por assistentes sociais esteve no local para atender às famílias dos agentes e dos presos, dando informações sobre o que está ocorrendo.

Por fim, Parzinello, disse que este foi um caso isolado e que com o fim da rebelião as responsabilidades pelo episódio serão apuradas.

O diretor-geral da PEP, Flávio Buchmann, informou ontem que, além das reformas nas janelas da prisão, está também modificando as bancadas existentes nas celas daquela ala, para aumentar a segurança. “Como estão, as bancadas são destruídas pelos detentos, que retiram ferros que podem ser usados como estoques”, esclareceu o diretor.

Reféns soltos após horas de negociação e angústia

Um dos três reféns – o agente de segurança Emerson Ramos -mantidos pelos rebelados na PEP foi liberado por volta das 18h30, depois de uma longa negociação entre a comissão e o líder dos detentos, Marcelo Amorim Cardoso.

A liberação só aconteceu depois de a comissão atender uma exigência dos rebelados, que pediram a presença de cinegrafistas e de repórteres de emissoras de TV, para prosseguirem com as conversações. No final da noite os agentes Marcos Murilo Holzmann e Amauri Pereira Carneiro também foram soltos, tão logo 14 dos rebelados foram transferidos para o Centro de Observação e Triagem (COT), situado ao lado do presídio do Ahu.

O comandante da Ronda Ostensiva de Natureza Especial (Rone), major Carlos Scheremeta, integrante da comissão de negociação, permitiu a entrada de cinegrafistas e repórteres na penitenciária, por volta das 17h. De acordo com as equipes de TV, eles foram mantidos longe da 7.ª galeria, onde acontecia a rebelião, e não tiveram contato com os rebelados.

Imagens

Segundo um cinegrafista, eles tiveram apenas alguns minutos para fazer as imagens do pavilhão e filmar a saída do primeiro refém. Os outros dois agentes ainda ficaram sob a posse dos rebelados, que afirmaram não abrir mão do pedido de transferência para presídios de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Eles reclamam da má condição a que são expostos na galeria. Um cinegrafista captou pelo áudio da câmera as reclamações do líder da rebelião. “Nós não estamos no nosso Estado, não comemos direito, não temos roupa limpa, as datas de visitas praticamente não existem. O que nós queremos é a transferência para os presídios na nossa região e, esperamos que os nossos pedidos sejam atendidos”, disse o rebelado.

Cadeia deveria ser à prova de motins

Inaugurada em abril do ano passado, a Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP) ocupa uma área de 12.800 metros quadrados ao lado da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, e tem capacidade para abrigar 550 detentos em 169 celas. Ontem ela abrigava 541 detentos. A penitenciária recebeu investimentos de R$ 8,5 milhões – em parceria com o governo do Estado e Ministério da Justiça -, e é administrada por uma empresa privada de segurança, tendo um custo de R$ 650 mil mensais para o Estado. Considerada uma das mais seguras do País, deveria também ser à prova de rebeliões, mas com o episódio ocorrido ontem, o sistema de segurança deverá ser revisto pelas autoridades.

O projeto arquitetônico – que conta com três túneis – foi elaborado para que os presos e as visitas não conheçam a estrutura da unidade. O detento não consegue ter noção do movimento na prisão ou do trabalho dos funcionários, o que dificulta estratégias de fuga ou rebelião.

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